Investidores exigem resposta do Facebook por escândalo de dados 

Administradora de investimentos escandinava proibiu seus fundos sustentáveis de investir na empresa

Teste de personalidade permitiu acesso indevido ao perfil de 50 milhões de usuários da rede social - Daniel LEAL-OLIVAS / AFP
Attracta Mooney Kadhim Shubber
Financial Times

O Facebook está sob pressão crescente dos investidores por sua conduta no escândalo de dados da Cambridge Analytica, e diversos acionistas colocaram em revisão suas participações acionárias na rede de mídia social; outros abriram processos contra a maior rede social do planeta.

Os investidores estão exigindo respostas do presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, que esperou até a quarta-feira para se pronunciar publicamente sobre a revelação de que uma empresa de análise de dados que trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump havia obtido dados sobre 50 milhões de usuários do Facebook de maneira indevida.

A administradora de investimentos escandinava Nordea Asset Management, que administra € 330 bilhões em capital, proibiu seus fundos sustentáveis de investir no Facebook, por conta do escândalo. "Dada a missão dos fundos de sustentabilidade, já não podemos aceitar o risco relacionado a isso", disse Sasja Beslik, que comanda a  área de investimentos sustentáveis da companhia.

A administradora de ativos alemã Union Investment e diversos investidores de menor porte colocaram em revisão suas posições acionárias no Facebook.

A provedora de índices MSCI e a agência de classificação de crédito Sustainalytics anunciaram que reavaliariam as classificações ambientais, sociais e de governança que conferem ao Facebook, diante das revelações. Essas classificações são usadas frequentemente pelos investidores para decidir se devem comprar ou vender uma ação, o que significa que rebaixamento por qualquer das duas empresas poderia deflagrar nova onda de vendas das ações da companhia.

Um porta-voz do Facebook reiterou uma declaração de Paul Grewal, o vice-presidente jurídico assistente da empresa: "Temos o compromisso de aplicar vigorosamente as nossas normas para proteger a informação dos usuários. Tomaremos quaisquer medidas necessárias para garantir que isso aconteça", ele disse.

A Cambridge Analytica afirmou ter apagado os dados no momento em que percebeu que eles haviam sido recolhidos em violação das normas de uso do Facebook, e que nenhum desses dados foi usado a serviço da campanha de Trump. O Facebook afirmou ter descoberto o problema em 2015, e que está investigando agora se os dados foram de fato destruídos.

Mas os investidores vêm criticando fortemente a resposta do Facebook ao escândalo. Jonas Kron, vice-presidente sênior da Trillium Asset Management, que detém cerca de US$ 12 milhões em ações do Facebook, disse antes da declaração de Zuckerberg na noite de quarta-feira que o fato de a empresa estar enviando executivos de baixo escalão para depor em seu nome ao Congresso norte-americano era muito preocupante.

Beslik escreveu ao Facebook. "Pedimos esclarecimentos à companhia e esperamos uma reunião com eles em breve", ele disse. "Há muitas questões importantes que eles precisam responder, e não há muita informação disponível".

Natasha Lamb, sócia diretora da Arjuna Capital, uma companhia de impact investment [investimentos que buscam impactos sociais e ambientais benéficos, além de retornos financeiros], de Los Angeles, disse que "[as revelações são] fundamentalmente perturbadoras, e não só porque a empresa vem sendo tão recalcitrante em sua resposta. Existem riscos materiais nesse caso, riscos regulatórios, riscos de faturamento e riscos para a marca. Também existe risco para nossa democracia".

A Arjuna Capital apresentou uma proposta que será votada na assembleia geral de acionistas do Facebook este ano, solicitando regras melhores sobre interferência eleitoral, retórica do ódio e disseminação da violência no site.

A Trillium Asset Management também apresentou proposta para que o Facebook crie um comitê de avaliação de riscos em seu conselho.

Stephen Beer, vice-presidente de investimento do Conselho Financeiro Central Metodista, disse que a igreja metodista detinha ações do Facebook, por meio de cotas nos fundos em que investe. "Conversaremos com eles sobre as notícias recentes", ele disse.

A empresa de tecnologia também foi alvo de dois processos que buscam classificação como ações coletivas, nos Estados Unidos. Um deles, apresentado por Fan Yuan, investidor no Facebook, acusa a rede social de iludir os acionistas por não ter revelado o problema anteriormente.

O outro processo, de uma usuária do Facebook chamada Lauren Price, acusa a empresa de "completa desconsideração" para com as informações pessoais de seus usuários, e de não ter impedido a coleta "indevida" de dados. O processo inclui a Cambridge Analytica entre os acusados.

A Cambridge Analytica não respondeu de imediato a um pedido de comentários sobre o processo.
Os processos abertos na terça-feira agravam os problemas legais crescentes que a rede social está enfrentando nos Estados Unidos e Europa por conta do escândalo.

A Comissão Federal do Comércio (FTC) dos Estados Unidos está avaliando se o Facebook violou um acordo de 2011 quanto à proteção da privacidade de seus usuários, e os secretários estaduais da Justiça em Massachusetts e Nova York também iniciaram investigações.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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