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Livro explica como Snapchat se tornou empresa bilionária

Sócios da empresa rejeitaram tentativas de aquisições pelo Facebook

Cofundadores da Snap, Bobby Murphy e Evan Spiegel se preparam para tocar o sino ao lado de Thomas Farley, presidente da Bolsa de NY
Cofundadores da Snap, Bobby Murphy e Evan Spiegel se preparam para tocar o sino ao lado de Thomas Farley, presidente da Bolsa de NY - Drew Angerer - 2.amr.2017AFP
Tim Bradshaw
Financial Times

O Snapchat foi criado há quase sete anos, mas continua a ser um enigma para muita gente com mais de 30 anos. Quem deseja saber mais pode agora consultar "How to Turn Down a Billion Dollars", uma biografia empresarial oportuna que conta como um app de mensagens fotográficas cuja reputação inicial era a de facilitador de mensagens de sexo veio a se tornar uma empresa de capital aberto com valor de mercado de US$ 22 bilhões, prestando serviços usados por 187 milhões de pessoas a cada dia.

A história da Snap não é tão conhecida quanto a do Twitter, o que surpreende, se considerarmos o material básico. O Snapchat combina os melhores ingredientes de muitas das narrativas do Vale do Silício - um perfeccionista ao modo Steve Jobs no comando, uma disputa judicial quanto à criação da empresa, uma batalha em estilo Davi vs. Golias contra o Facebook - tudo isso com um toque de Hollywood, por conta da localização da empresa em  Los Angeles e da vida amorosa de seu cofundador Evan Spiegel.

Para ocupar esse vazio, surge Billy Gallagher, que estudou na Universidade Stanford dois anos depois de Spiegel e cobriu o Snapchat em seus dias iniciais como jornalista no serviço de notícias online TechCrunch. Ele continua a trabalhar no Vale do Silício, agora no ramo de capital para empreendimentos, e tem as conexões e o conhecimento do setor tecnológico necessários a um biógrafo do Snapchat. "How to Turn Down a Billion Dollars" realiza com sucesso a difícil tarefa de explicar os atrativos do Snapchat - algo que, como Gallagher mesmo admite, é mais fácil mostrar que relatar. Mas o livro trata de modo sumário demais a narrativa de alguns dos momentos críticos da Snap, entre os quais a rejeição por seu fundador de uma oferta multibilionária de aquisição pelo Facebook. 

A primeira tentativa de Mark Zuckerberg para adquirir o Snapchat veio em 2012, depois de o Facebook pagar US$ 1 bilhão por outro app de compartilhamento de fotos, o Instagram, em uma transação que não demorou a ser vista como pechincha para a maior rede social do planeta. Adquirir o Snapchat por US$ 60 milhões teria sido pechincha ainda maior, se Spiegel e seu cofundador Bobby Murphy não tivessem decidido rejeitar a proposta. Em resposta, Zuckerberg fez a primeira de suas muitas tentativas de copiar o Snapchat. Semanas depois de ver sua oferta recusada, o fundador do Facebook enviou um email a Spiegel para anunciar o lançamento de um serviço semelhante de chat com imagens que desapareciam logo depois de vistas, dizendo "espero que você goste do Poke".

Da forma pela qual Gallagher explica o ocorrido, a imitação serviu como mais que uma forma de lisonja. O serviço lançado pelo Facebook, um clone transparente e quase desesperado do Snapchat, "validou o espaço das mensagens efêmeras, e ajudou a mudar a incômoda narrativa que definia o Snapchat como um app para mensagens de sexo", ele escreve. Quando o Facebook renovou seus esforços, um ano mais tarde ,com uma oferta de US$ 3 bilhões, Spiegel voltou a rejeitá-la. Mas Gallagher não fala sobre a preocupação que a oferta causou a Spiegel ou sobre a reação de seus investidores. O episódio todo é relatado em poucas páginas.

O trecho mais revelador de "How to Turn Down a Million Dollars" surge no relato do período de Spiegel como aluno de Stanford. Empreendedor desde o começo, ele gostava de organizar festas regadas por vodca e Red Bull, a bebida energética da qual ele servia como gerente estudantil de marca. Foi na universidade que Spiegel fez amizade com o futuro sócio Reggie Brown, outro universitário bonito, inteligente e festivo. Quando os administradores da universidade descobriram que a fraternidade em cujo alojamento ambos viviam tinha "uma cultura tóxica de alcoolismo que causava incidentes 'que vão além da farra'", Brown e Spiegel foram expulsos da organização. Mas continuaram amigos, e quando Brown desenvolveu a ideia de um app para enviar fotos que desapareceriam em seguida, Spiegel foi a primeira pessoa a quem falou sobre o projeto. A resposta: "Essa é uma ideia de um milhão de dólares!"

De fato, a ideia fez de Murphy e Spiegel bilionários, enquanto Brown recebeu US$ 157,5 milhões em um acordo extrajudicial, depois de processar os dois por violação de contrato. O livro relata de forma equilibrada o desentendimento entre os três enquanto tentavam transformar a ideia de Brown em um negócio, trabalhando na mansão de US$ 4 milhões do pai de Spiegel em Los Angeles. Mas Gallagher, como muitos outros repórteres, sofre com a fobia à mídia que o processo causou - ele de fato admite a dada altura do livro que perdeu o acesso a Spiegel, depois que este se irritou com sua cobertura sobre o caso.

Outro fator para que Spiegel, segundo um conselheiro da Snap, se tornasse "superparanoico" foi o vazamento de alguns de seus emails da época de universidade, nos quais ele fazia declarações sexualmente explícitas, misóginas e ocasionalmente homófobas. É difícil imaginar que impacto esses emails poderiam ter exercido sobre a carreira dele se divulgados nos últimos 12 meses, quando o setor de tecnologia enfim despertou para seus problemas de assédio e discriminação sexual. No entanto, Gallagher defende Spiegel: "Muitas pessoas com quem conversei para o livro fizeram questão de dizer que os emails não refletem a pessoa que Evan é hoje".

Embora o livro nos ajude a compreender a popularidade do Snapchat, encontra dificuldades para penetrar seus segredos. Em uma festa no Snapchat perto do Ano-Novo de 2014, quando os segurança confiscaram os smartphones de todos os convidados, o autor descreve ter olhado da área comum  para o setor VIP, lá no alto, onde Spiegel estava recebendo sua convidada Taylor Swift. Infelizmente para o leitor, ele não consegue nos levar ao outro lado da divisória.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

How to Turn Down a Billion Dollars

  • Preço R$ 54,90 (e-book; 304 págs.)
  • Autor Billy Gallagher
  • Editora Virgin

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