Novas empresas abertas após os 50 anos são as que mais crescem

Empreendedorismo vira opção de idosos para não ficar parado; firmas são estáveis

Érica Fraga Ana Estela de Sousa Pinto
São Paulo
Ana Helena Guerreiro Sonoda, selecionada pela Gol em programa para profissionais maduros, empurra passageira em cadeira de rodas em Congonhas
Ana Helena Guerreiro Sonoda, selecionada pela Gol em programa para profissionais maduros, em Congonhas - Karime Xavier/Folhapress

Apesar dos sinais mais favoráveis à inserção da mão de obra madura no mercado de trabalho, encontrar emprego acima dos 50 anos é um desafio. 

“Ouvi muitos nãos. Até chegava às entrevistas, mas me diziam que a vaga demandava gente mais jovem ou menos experiente”, relata Ana Helena Sonoda, hoje na Gol, que tem faculdade de gestão em negócios e é fluente em inglês.

O número ainda relativamente baixo de posições para profissionais mais velhos tem levado muitos a buscar o caminho do negócio próprio.

E os dados mostram que é entre as faixas etárias mais maduras que o empreendedorismo mais cresce no país.

De acordo com dados do IBGE, o número de empreendedores brasileiros de 50 a 59 anos saltou de 3,5 milhões em 2002 para 5,5 milhões em 2014. O aumento de 57% foi o maior entre as sete faixas etárias pesquisadas. 

Colado em segundo lugar veio o crescimento de 56% entre as pessoas de 60 anos ou mais.

Números mais recentes do Sebrae indicam que essa tendência continua. Em 2012, a fatia de novos empreendedores com mais de 55 anos era 7% do total. Em 2016, essa parcela atingiu 10%, maior nível da série.

Oportunidades

Segundo Mórris Litvak, da MaturiJobs, a busca pelo negócio próprio entre os mais maduros foi alavancada pela recessão dos anos recentes.

“Com a recessão muitos profissionais maduros foram desligados. Outros que estavam fora da força de trabalho precisaram voltar a buscar uma ocupação para complementar a renda familiar”, diz.

Embora esse aumento de busca tenha coincidido com o lançamento de programas para a contratação de profissionais mais velhos em algumas empresas, a escassez de posições para essa faixa etária ainda é grande. 

Os números da MaturiJobs, que foi aberta no auge da crise, em 2015, são evidência disso. Mais de 600 empresas publicaram vagas no site do negócio de impacto social, o que resultou em pelo menos 300 contratações diretas. 

Mas um número muito maior de brasileiros acima de 50 anos —cerca de 60 mil— se cadastrou na MaturiJobs no mesmo período.

Ao perceber esse descasamento, Litvak e sua equipe resolveram abrir outras frentes de atuação, como eventos para promover trocas de contatos (networking) entre os profissionais maduros.

Mais estáveis

Também à frente de empresas os idosos mostram algumas qualidades.

Estudo feito pela Serasa Experian para a Folha mostra que as empresas com sócios de 60 anos ou mais são “estabilizadas, perenes, maduras e com os seus indicadores financeiros saudáveis e sem muito risco”. 

A consultoria analisou por corte de idade do proprietário o levantamento Mosaic Empresas, que mapeia as empresas do país e as agrupa de acordo com suas características. A análise nos dados de 2017 aponta que entre essas empresas há menor índice de problemas financeiros.

Em geral, segundo a Serasa, os dados mostram que esses sócios possuem uma característica de manter os negócios saudáveis, sustentáveis e por vezes de modo mais conservador, com dimensões limitadas, para evitar os riscos que surgem com o aumento do porte.

Do total de empresas com sócio majoritário de 60 anos ou mais, 54% estão classificadas em segmentos que podem ser considerados saudáveis, ante 43% do total de empresas, ou seja, uma chance 24% maior de encontrar uma empresas saudável, dentre aquelas que possuem sócios com 60 anos ou mais, quando comparado com o total de empresas.

O Mosaic Empresas é um estudo que leva em consideração mais de 150 variáveis, como a natureza jurídica, o desempenho, o setor e a quantidade de empregados, entre outras informações, e reúne as empresas em grupos a partir de métodos estatísticos.

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