Descrição de chapéu Fórum Econômico Mundial

Odebrecht 'uniu' a América Latina, diz analista política mexicana

Denise Dresser participou de mesa no Fórum Econômico Mundial

Analista política do Instituto Tecnológico Autônomo do México, Denise Dresser
Analista política do Instituto Tecnológico Autônomo do México, Denise Dresser - Eduardo Anizelli/Folhapress
Flavia Lima Isabel Fleck
São Paulo

Os episódios de corrupção que se espalharam pela América Latina colocaram as instituições da região em xeque, desiludiram a população e devem pautar o ciclo eleitoral pelo qual passa a maioria dos países latino-americanos, concluíram os participantes do painel sobre o ciclo eleitoral e seus efeitos sobre a dinâmica regional do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, que ocorre nesta quarta (14), em São Paulo.

Há uma onda de movimentos que contestam a democracia porque se deram conta de que ela funciona mal, distorcida pela corrupção, disse Denise Dresser, analista política do Instituto Tecnológico Autônomo do México.

“O fato é que a Odebrecht conseguiu unir a região”, disse Dresser, em referência aos escândalos de corrupção nos quais a empreiteira está envolvida e que alcançam diversos países latino-americanos, do Peru ao Brasil.

Além da corrupção, disse Dresser, reformas estruturais como as empreendidas no México sem a necessária inclusão dos mais pobres aumenta a insatisfação.

Único brasileiro presente ao debate, Ricardo Villela Marinho, vice-presidente executivo do Itaú Unibanco, afirmou que as instituições democráticas estão sendo questionadas e que o eleitor repele políticos de tradição.

"O elefante branco no centro do salão é a corrupção”, disse Villela. “É um momento de muita turbulência. O que salva é que estamos num contexto de crescimento sincronizado global de mais de 4%”.

Segundo Villela, os poderes para combater a corrupção precisam ser fortalecidos e ressaltou que onde existe corrupção há o corruptor também. “Na empresa que represento temos uma postura firme com relação à corrupção”, disse.

Otimista, a vice-presidente do Panamá, Isabel de Saint Malo de Alvarado, disse que a indignação das pessoas força uma resposta das instituições.

“Diria que o fato de casos de corrupção terem vindo a público é boa notícia. Tomara que isso influencie o ciclo eleitoral”, afirmou Alvarado.

AMÉRICA LATINA PRIMEIRO

Daniel Zovatto, diretor do Instituto Internacional para a Democracia, disse que é prematuro dizer que a região se move toda para a centro-direita, como já visto nas eleições no Chile ou na Argentina. “Acho que a discussão entre esquerda e direita é reducionista”, disse.

Villela, do Itaú, disse que, para além da esquerda ou da direita, o debate “é se vamos para adiante ou para trás”. Para isso, disse, é preciso uma nova geração de políticos, que entrem no Estado para servir o país e façam reformas como a tributária, evitando que os pobres continuem, proporcionalmente, pagando mais impostos do que os ricos.

Sugerindo mais coordenação à região, Alicia Bárcena Ibarra, secretaria-executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina, disse que Trump mudou o paradigma ao propor o "América primeiro", e questionou quais serão as propostas para a América Latina. 

Em resposta, Zovatto disse que é preciso ter primeiro uma América Latina para depois pensar numa "América Latina primeiro".

Trump foi debatido também no painel sobre a América Latina em uma ordem global baseada em acordos, no qual a ex-chanceler espanhola Trinidad Jiménez Garcia Herrera, e o ex-secretário-assistente de Estado dos EUA, Arturo Valenzuela, destacaram os riscos que os EUA correm ao se fecharem.

"Se os EUA começam a fechar suas fronteiras, os EUA perdem, e América Latina se vira para o outro lado, para a Ásia. A região já está chegando a acordos comerciais com a Ásia, a China está cada vez mais forte na América Latina e no Brasil", disse Herrera.

Para Valenzuela, hoje conselheiro sênior do escritório de advocacia Covington & Burling, o foco tem sido sobre o impacto que a decisão dos EUA pode causar nos outros países. "Mas 45% de todos as exportações dos EUA vão para o continente, então a região tem um grande peso para os EUA." 

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