Polícia Federal tem três frentes de investigação na BRF

Envolvimento de ex-presidente não está claro

Carros da Polícia Federal estacionam em frente a sede da BRF, em Curitiba
Sede da BRF, em Curitiba - REUTERS
Raquel Landim
São Paulo

Ao contrário da Operação Carne Fraca, que colocou em xeque todo sistema de defesa agropecuário brasileiro e envolveu diversas empresas, as investigações da Polícia Federal reveladas nesta segunda-feira (5), tem apenas um alvo: a BRF, formada pela fusão de Sadia e Perdigão.

A gigante de alimentos é a única investigada dessa terceira fase, denominada Operação Trapaça. 

Foram 53 mandatos de busca e apreensão, 27 de condução coercitiva e 11 de prisão temporária, incluindo a do ex-presidente da empresa, Pedro Faria.

As ações da BRF recuaram 19,75% na bolsa e a empresa perdeu R$ 5 bilhões de valor de mercado

O ministério da Agricultura suspendeu as exportações de carne de frango das três plantas da empresa envolvidas nas investigações para 12 países, incluindo União Europeia, Israel e Coréia do Sul. A BRF tem negócios com 150 países.

Não ocorreram relatos, porém, de navios parados, bloqueios aos produtos brasileiros ou ameaça à saúde pública. “Não houve tanto ruído como da outra vez. Os países já fizeram extensas verificações nas fábricas brasileiras”, disse Francisco Turra, presidente executivo da ABAPA, entidade do setor de carnes.

O impacto setorial é menor porque os fiscais do Ministério da Agricultura agora aparecem como supostas vítimas da BRF

Na primeira fase da Operação Carne Fraca, deflagrada em março do ano passado, eram acusados de receber propinas das empresas para falsificar certificados. 

ACUSAÇÕES

As investigações contra a BRF estão dividas em três linhas principais, que não parecem ter uma conexão clara entre si: fraudes em amostras laboratoriais em Rio Verde (GO), contaminação de granjas em Carambeí (PR) e uso de produtos proibidos para fabricação de ração em Chapecó (SC). 

A acusação mais grave grave aponta que os executivos tentaram abafar uma denúncia de fraudes em amostras laboratoriais para manter a empresa dentro do limite de contaminação por bactéria aceitável pelos importadores. 

Em outro caso, uma granjeira integrada da empresa em Carambeí (PR) relatou que recebeu um lote de 46 mil pintos para engorda contaminados pela bactéria salmonela. 

Ela diz que comunicou o assunto a BRF, que se recusou a descartar os animais e a pagar pela descontaminação da granja. Outros granjeiros relataram o mesmo problema.

Na terceira investigação, trocas de emails entre funcionários indicam que a empresa utilizava produtos proibidos na composição de uma ração chamada Premix e que falsificava sua documentação enviada ao governo.

EX-PRESIDENTE

Nos emails interceptados pela Polícia Federal, é dúbio o envolvimento direto do ex-presidente da BRF, Pedro Faria, no suposto acobertamento das denúncias da ex-supervisora de qualidade do laboratório em Rio Verde (GO), Adriana Marques Carvalho.

A ex-funcionária ingressou com uma ação trabalhista contra a empresa em 2015, alegando que seus superiores a obrigavam a fraudar análises de amostras.

Ao tomar conhecimento do assunto, Faria escreve em um email a um vice-presidente e um diretor da empresa: "É um absurdo. Impressionante como sempre levamos bucha dos mesmos lugares. Hélio, por favor, avalie algo drástico por lá. Tem coisa que ofende nosso senso de propósito".

Para os investigadores, o executivo admite os ilícitos reiterados da companhia ao dizer que "sempre levamos bucha dos mesmos lugares" e pede para encobrir a questão ao solicitar que o subordinado "avalie algo drástico".

Faria, porém, está se dirigindo a Hélio Rubens dos Santos, vice-presidente de suprimento. A mensagem também poderia ser interpretada como uma ordem para acabar com as fraudes.

Em trocas de mensagens em que o presidente não é copiado, a estratégia de acelerar um acordo para evitar que o juiz envie as informações às autoridades sanitárias é bem mais explícita.

“Com medida emergencial, estamos tomando as devidas providências para realizar um acordo e não deixar o processo andar, sob pena do juiz enviar as informações para os órgãos competentes e complicar a situação da empresa”, escreve o gerente jurídico, Luciano Wienke.

“Estou de acordo com a estratégia. Precisamos resolver. Preocupa o fato dessas infos [informações] já estarem em processo judicial público. Por favor, mantenha-nos informados”, responde a diretora jurídica, Ana Rovai.

OUTRO LADO

Em nota, a BRF diz que "está mobilizada para prestar todos os esclarecimentos à sociedade" e "que nenhuma das frentes de investigação da Polícia Federal diz respeito a algo que possa causar dano à saúde pública".

Sobre a contaminação em Carambeí, declara que há 2.600 tipos de salmonela e que a bactéria encontrada não afeta a saúde humana.

No caso da ração Premix, diz que os emails são de três anos atrás e que as mensagens estão sendo investigadas. A mais recente auditoria do Mapa na fábrica, em outubro, não encontrou problemas.

Sobre as fraudes laboratoriais em Rio Verde, diz que as acusações da ex-funcionária foram tomadas com seriedade e que medidas técnicas e administradas foram implementadas.

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