Quem instala o app escolhe ceder os dados, diz Facebook

Empresa argumenta que não há vazamento de dados, pois foram os próprios usuários que os ofereceram

O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg - Mandel Ngan / AFP
 
Nelson de Sá
São Paulo

Em entrevista a jornalistas nesta quarta (21) em São Paulo, a vice-presidente global de Políticas Públicas do Facebook, Monika Bickert, afirmou que não se deve falar em "vazamento de dados" (data breach) da plataforma.

Outros executivos do Facebook, como Andrew Bosworth, também vêm questionando a expressão —usada na manchete do Guardian que revelou o caso das 50 milhões de contas acessadas pela Cambridge Analytica.

Na quarta à tarde, o presidente da empresa, Mark Zuckerberg, usou alternativamente a expressão "quebra de confiança" (breach of trust), que teria ocorrido entre o Facebook e os usuários, para descrever o episódio.

Bickert, advogada que atuou por mais de uma década no Departamento de Justiça dos EUA, argumentou que não houve vazamento de dados porque foram os próprios usuários que os ofereceram.

"Quando as pessoas instalam aplicativos [via Facebook, como aquele usado pela Cambridge Analytica], elas fornecem os dados ao aplicativo", afirmou ela. "As pessoas que instalam o app fazem uma escolha de ceder dados".

A responsabilidade do Facebook sobre os dados, que teriam sido usados posteriormente por clientes como a campanha presidencial de Donald Trump, é um dos aspectos investigados tanto nos EUA como no Reino Unido.

Em lugar de vazamento, Bickert procurou sublinhar que o maior problema no caso está na transferência dos dados, uma "violação das políticas" da plataforma, e que o Facebook prioriza agora conseguir que eles sejam apagados.

'MARIELLE PRESENTE!'

A executiva veio ao Brasil para um evento do InternetLab, centro de pesquisa em direito e tecnologia, e do Centro Ruth Cardoso, sobre o funcionamento dos "padrões da comunidade" --área que Bickert comanda no Facebook e que delimita o que pode ser publicado ou não na plataforma.

Entre os entrevistadores programados para o encontro, transmitido na plataforma e intitulado "Liberdade de expressão em uma comunidade de 2 bilhões de pessoas", estavam Beatriz Cardoso, da Fundação FHC, Giselle Beiguelman, da FAU-USP, e Tais Gasparian, sócia do RBMDF Advogados.

Charô Nunes, do Blogueiras Negras, abriu sua pergunta proclamando, em referência à vereadora assassinada no Rio: "Marielle presente". Questionou Bickert de que lado está o Facebook, "num país em que esse genocídio acontece há séculos", e cobrou maior diversidade étnica nas contratações.

A executiva descreveu o assassinato como "terrível" e afirmou que o Facebook precisa ajudar as minorias "a ter voz". Relatou os esforços da plataforma para remover e denunciar "discurso de ódio". Sobre diversidade, lembrou que o Facebook tem procurado "trazer minorias para a área de engenharia".

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