Descrição de chapéu Donald Trump OMC FMI

Trump diz que guerra comercial é boa; países e entidades reagem

FMI, OMC, União Europeia, China e Brasil falam em retaliações e 'salvaguardas'

A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Philippe Wojazer - 7.jul.2017/Reuter

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assumiu um tom desafiador nesta sexta-feira (2), dizendo que guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar, após anunciar na véspera que vai impor tarifas sobre importações de aço e alumínio ao país, o que desencadeou críticas globais e queda nos mercados acionários mundiais.

O Brasil está entre os países que mais devem ser afetados pela medida, já que é o segundo maior exportador de aço aos EUA. No ano passado, a receita gerada com vendas aos norte-americanos somou US$ 2,63 bilhões (cerca de R$ 8,5 bilhões). 

O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Roberto Azevedo, expressou preocupação com as tarifas de Trump, em uma intervenção extremamente rara na política comercial de um membro da organização.

"A OMC está claramente preocupada com o anúncio dos planos dos EUA sobre tarifas de aço e alumínio. O potencial de escalada é real, como vimos a partir das respostas iniciais de outros", disse.

"Uma guerra comercial não é de interesse de ninguém. A OMC vai observar a situação de perto."

O FMI (Fundo Monetário Internacional) alertou que as restrições vão causar danos econômicos generalizados, incluindo para a economia dos EUA, e pediu a Washington e seus parceiros comerciais que resolvam desavenças.

"As restrições às importações anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos devem causar danos não só fora dos EUA, mas também para a própria economia dos EUA, incluindo as indústrias manufatureira e de construção, que são os principais consumidores de alumínio e aço", disse o FMI em comunicado.

Trump disse na quinta (1º) vai impor tarifas de importação para aço e alumínio de 25% e 10%, respectivamente, alegando proteção de empregos norte-americanos contra produtos estrangeiros mais baratos.

"Quando um país (EUA) está perdendo vários bilhões de dólares em comércio com praticamente todos os países com que faz negócios, guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar", escreveu Trump no Twitter.

"Por exemplo, quando estamos perdendo 100 bilhões de dólares com um determinado país e eles decidem não fazer mais negócio, nós ganhamos muito. É fácil!" 

Muitos economistas dizem que o impacto de alta dos preços para os compradores de aço e alumínio, como as indústrias de petróleo e veículos, vai destruir mais empregos do que as tarifas sobre importações irão criar.

A fabricante de eletrodomésticos Electrolux, por exemplo, disse que está adiando uma expansão de US$ 250 milhões em fábrica no estado norte-americano do Tennessee, diante de preocupação de que os preços do aço nos EUA tornarão a produção menos competitiva.

REAÇÃO EM CADEIA

O Canadá, maior fornecedor de aço e alumínio aos Estados Unidos, disse que vai retaliar caso seja atingido pelas tarifas norte-americanas. 

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou nesta sexta que a União Europeia não terá escolha a não ser responder caso os Estados Unidos concretizem o plano.

"Se os americanos impuserem tarifas sobre o aço e o alumínio, então teremos de tratar os produtos americanos da mesma forma", disse Juncker a emissoras de TV da Alemanha. À CNN, Juncker citou produtos como motos Harley-Davidson, uísque e calças jeans Levi's.

"Temos de mostrar que também podemos adotar medidas. Isso não pode ser uma ação transatlântica unilateral dos americanos", disse. "Não estou dizendo que temos de revidar, mas temos de agir."

A chefe de comércio da UE, Cecilia Malmstrom, advertiu sobre possível retaliação e afirmou que qualquer ação que atinja o continente seria profundamente injusta.

"Estamos discutindo diferentes medidas. Tudo, desde levar o caso à OMC, sozinho ou com parceiros afetados, e também medidas de proteção e possível retaliação", disse Malmstrom.

"Essas são coisas que estamos discutindo internamente na Comissão e em nossos Estados-membros. Mas, obviamente, nada será anunciado até que possamos conhecer a extensão das medidas."

O ministro de Finanças francês, Bruno Le Maire, disse que "uma guerra comercial entre a Europa e os EUA só terá perdedores", acrescentando que todas as opções estavam sobre a mesa e ele discutiria a questão com seus equivalentes alemão e inglês nesta sexta. 

A China previu prejuízos para o comércio caso outros países sigam o exemplo dos EUA e disse que vai adotar ações para proteger seus interesses se as medidas comerciais dos Estados Unidos afetarem o país.

"A China espera que os EUA respeitem o sistema de comércio multilateral e mantenham uma ordem comercial normal com o resto do mundo", disse Wang Hejun, diretor da Agência de Solução e Investigação Comercial chinesa em comunicado do Ministério do Comércio.

"A maioria dos produtos de aço e alumínio importados pelos EUA são de média ou baixa tecnologia e que não prejudicaram a segurança nacional do país", afirmou Wang.

O ministro do Comércio da Austrália disse que as tarifas planejadas podem levar à retaliação por parte de outras economias e à perda de empregos. 

"A imposição de uma tarifa como esta não fará nada além de distorcer o comércio e, finalmente, acreditamos, levará a uma perda de empregos", disse Steven Ciobo. 

A Austrália buscou isenção para suas exportações de aço e alumínio aos Estados Unidos, acrescentou Ciobo. 

BRASIL

O governo brasileiro afirmou que não descarta ações multilaterais para preservar os interesses do país, segundo o ministério da Indústria e Comércio Exterior. 

“É uma loucura; é uma tarifa extremamente alta e, com certeza, inviabiliza nossas exportações para lá”, afirmou à Folha Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.​ 

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) defendeu que o governo brasileiro reaja aos planos anunciados por Trump.

Nas contas da entidade, a medida poderia afetar US$ 3 bilhões em exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões de alumínio.

"O governo brasileiro deve utilizar todos os meios disponíveis para responder à decisão americana, inclusive no âmbito do sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que, em caso de vitória, nos daria direito à retaliação", afirmou por escrito o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Citando pessoas da UE que não se identificaram, a agência Reuters diz que o bloco estudo aplicar tarifas de 25% em cerca de US$ 3,5 bilhões em importações dos Estados Unidos.

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