Descrição de chapéu Donald Trump estados unidos

UE vai sobretaxar Harley, Levi's e bourbon se Trump impuser tarifa ao aço

'Não há vencedores em uma guerra comercial', afirma comissária europeia

Cecilia Malmstrom, comissária do Comércio Internacional da União Europeia, durante entrevista em Bruxelas - Eric Vidal/Reuters
Bruxelas | Bloomberg

A União Europeia montou um esforço final para impedir que o presidente dos EUA, Donald Trump, imponha tarifas à importação de aço e alumínio, prometendo uma resposta "firme" e alertando quanto aos grandes danos que poderiam ser causados por uma guerra comercial transatlântica.

"Espero verdadeiramente que isso não aconteça", disse Cecilia Malmstrom, comissária do Comércio Internacional da União Europeia, em Bruxelas. "Não há vencedores em uma guerra comercial."

A União Europeia pretende impor tarifas punitivas a diversos produtos norte-americanos, em retaliação à ameaça de Trump de que imporia tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados pelos Estados Unidos. O plano dele se baseia em um argumento de segurança nacional que Malmstrom definiu como "alarmante" e "profundamente injusto".

Em resposta à tarifa da Casa Branca quanto ao aço, a União Europeia vai adotar medidas punitivas contra US$ 3,5 bilhões em produtos norte-americanos, entre os quais motocicletas Harley-Davidson, jeans Levi Strauss e bourbon. Além dessas marcas emblemáticas, os produtos norte-americanos que podem enfrentar represálias tarifárias diretas da ordem de 25% na União Europeia incluem barras de aço, lanchas, camisetas e suco de laranja.

A União Europeia está cada vez mais exasperada com a agenda "América Primeiro" adotada por Trump e a vê como ameaça à ordem multilateral de comércio internacional para cuja implementação os Estados Unidos desempenharam papel decisivo, depois da Segunda Guerra Mundial.

Trump já congelou anos de negociações quanto a um tratado transatlântico de abertura de mercados, abandonou um tratado comercial entre países da região do Pacífico, e exigiu mudanças no Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio), que está em vigor há 24 anos entre Canadá, Estados Unidos e México. Isso levou as autoridades da União Europeia a adotar uma posição intransigente de defesa da ordem econômica liberal que a União Europeia simboliza, e a pressionar por acordos de livre comércio com parceiros no Pacífico e na América Latina.

Donald Tusk, presidente da União Europeia, disse que acrescentará o comércio internacional à agenda da conferência de cúpula europeia que será realizada nos dias 22 e 23, devido a preocupações quanto às políticas dos Estados Unidos. Falando nesta quarta-feira (7) em Luxemburgo, cinco dias depois que Trump defendeu seu plano tarifário afirmando que "guerras comerciais são boas, e fáceis de vencer", Tusk retrucou declarando que "a verdade é bem o oposto: guerras comerciais são ruins, e fáceis de perder".

Vozes políticas de toda a Europa ecoaram as críticas aos Estados Unidos, instando Trump a abandonar seu plano de impor tarifas sobre a importação de metais, afirmando que ele faria mais mal do que bem à economia, e que não resolveria o problema central do setor, que é o excesso de capacidade de produção de metais da China.

"O comércio promove a prosperidade se for baseado no intercâmbio, em trabalharmos juntos", disse Brigitte Zypries, que deixará em breve seu posto como ministra da Economia da Alemanha, em comunicado. "Os sinais que temos recebido dos Estados Unidos me enchem de preocupação".

COMUNIDADE DO AÇO

Embora o aço possa ser importante para a base de eleitores de Trump, o setor tem importância política própria na União Europeia, que surgiu da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, criada nos anos 1950.

O setor continua a exercer influência política na Europa, gerando vendas anuais de € 170 bilhões e respondendo por mais de 300 mil empregos diretos e por mais de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) da União Europeia.

Os planos de Trump para tarifas sobre metais afetariam exportações da União Europeia que foram avaliadas em € 5,3 bilhões, no mercado de aço, e em € 1,1 bilhão, no mercado de alumínio, em 2017.

"A medida colocará em risco literalmente milhares de empregos na Europa, e precisa ser rebatida de forma justa e proporcional", disse Malmstrom.

"Ela seria prejudicial às relações transatlânticas, mas também potencialmente ao sistema de comércio internacional baseado em regras."

O plano atraiu oposição interna no partido do presidente Trump, o Republicano, e levou à renúncia de seu principal assessor econômico, Gary Cohn, além de criar risco de retaliações em todo o mundo.

Também abriu as portas a uma nova série de queixas à OMC (Organização Mundial do Comércio), que jamais decidiu sobre uma disputa que envolva restrições ao comércio justificadas por motivos de segurança nacional.

Além de impor tarifas retaliatórias sobre bens norte-americanos, a União Europeia está estudando apresentar uma queixa contra o governo Trump à OMC, em companhia de outros países, e a adoção de medidas de salvaguarda para impedir que embarques de aço dirigidos aos Estados Unidos sejam desviados para o mercado europeu, criando um excedente de oferta.

Malmstrom expressou confiança em que a Europa sairá vitoriosa em qualquer queixa à OMC. Ela afirmou que a União Europeia teria argumentos legais muito fortes contra tarifas sobre os metais impostas pelos norte-americanos com a justificativa de proteção à segurança nacional, porque a Europa é aliada dos Estados Unidos na área de defesa e as exportações de aço europeu ao país se destinam por larga maioria a usos não militares.

"É difícil compreender a medida politicamente, e acho que os norte-americanos também terão dificuldade para defender seu caso legalmente", disse Malmstrom.

Na semana passada, a Associação Siderúrgica Europeia afirmou que apenas 3% das exportações de aço europeu aos Estados Unidos são usadas para fins de segurança nacional, que o objetivo de Trump é puramente protecionista e que OMC poderia ter problemas para lidar com as queixas.

"Essa questão toda pode levar à implosão da OMC", disse Axel Eggert, diretor geral da organização setorial, também conhecida como Eurofer, em 2 de março.

"Não é a segurança nacional que está em jogo. O objetivo é escorar um setor econômico norte-americano que não é viável."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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