Descrição de chapéu MPME

Aplicativos de músicas e atividades tentam se adaptar a mercado mutante

Reformulação de produtos vira rotina em empresas que desenvolvem conteúdo para crianças

Fernanda Lacerda
São Paulo

Os rankings de aplicativos infantis estão cheios de jogos coloridos e barulhentos, muitas vezes sem versão em português. Mas e se as crianças criassem seus próprios jogos?

Essa é a proposta da carioca FazGame, empresa em operação desde 2014. A plataforma permite que estudantes desenvolvam personagens e histórias nos moldes de um jogo como o clássico Zelda.

O produto final pode ser jogado no computador, smartphone ou tablet (apenas para sistema Android). 

Atualmente 20 escolas brasileiras usam o FazGame, além de outras cinco nos Estados Unidos, em um projeto-piloto. No total, já foram desenvolvidos projetos em 200 escolas, com 22 mil alunos atingidos.

Uma turma que estudava história do Brasil criou um game sobre a cidade de Petrópolis. Outra fez um jogo sobre educação fiscal, segundo Carla Zeltzer, fundadora da empresa.

Mas por que não oferecer o aplicativo diretamente às crianças, sem o intermediário?

“O mercado de entretenimento puro tem muita coisa gratuita. E o brasileiro ainda não lida muito bem com o freemium [aplicativo parcialmente gratuito], os pais não gostam que as crianças comprem”, diz a empresária.

José Valencia, Carla Zeltcer, Antonio Ramos e Josué Arambide, da FazGame, em volta de uma mesa mexendo em seus aplicativos no computador, tablet e celular
José Valencia, Carla Zeltcer, Antonio Ramos e Josué Arambide (da esq. para dir.), da FazGame - Raquel Cunha/Folhapress

À exceção da gigante PlayKids, plataforma de conteúdo para crianças da empresa Movile, avaliação semelhante é feita por outros empreendedores brasileiros que se arriscaram na área —e tiveram que reformular seus produtos para sobreviver.

Uma das animações brasileiras de maior sucesso entre crianças atualmente nasceu com o fracasso de um aplicativo. O Mundo Bita inicialmente foi pensado como uma espécie de livro digital.

“Em 2013 a gente estava fazendo muito sucesso, mas o retorno não veio. Não conseguimos monetizar. A gente lançava conteúdo com uma parte de graça e outra paga, tinha muitos downloads, mas ninguém comprava”, diz João Henrique Souza, um dos sócios do projeto.

Após terem gasto R$ 150 mil sem ter conseguido nenhum retorno, a equipe resolveu reformular a proposta para um aplicativo musical.

Os clipes fizeram sucesso na internet, mas o aplicativo continuou sem dar lucro. “Aí nós entendemos que nosso conteúdo estava no formato errado e migramos para o audiovisual”, afirma Souza.

A mudança funcionou. Parcerias com empresas como Discovery Kids, Sony Music e Netflix deram escala à animação e acabaram levando o aplicativo a reboque.

O resultado foi um aplicativo que rende cerca de R$ 250 mil por ano. Mas o montante representa 10% do faturamento total da produtora audiovisual Mr. Plot, diz o sócio Felipe Almeida. 

“É um resultado significativo, mas que só aconteceu após a propriedade intelectual do Mundo Bita ter uma força que alavancou o aplicativo. Foi muito mais difícil ter lançado o personagem pela plataforma [mobile]”, afirma Almeida.

Fabiany Lima, fundadora da Timokids, conta uma história semelhante. O aplicativo, lançado em 2014, narra histórias educativas.

A guinada aconteceu em 2016, quando a startup foi procurada por uma empresa para produzir uma campanha de ação social. O projeto despertou Lima para uma abordagem diferente, de parcerias em vez de distribuição direta para o consumidor.

Isso motivou a Timokids a também investir no trabalho com escolas e governos. 

Um dos projetos em andamento é uma campanha contra a proliferação do mosquito da dengue em Porto Rico.

Lima agora conversa com escolas brasileiras para trazer a nova versão do aplicativo para cá.

O desafio de criar um aplicativo é que o valor médio para venda é muito baixo. É preciso ter uma base de usuários muito grande para que a empresa seja sustentável, segundo Lima. “Para ganhar relevância, é preciso fazer um trabalho de marketing muito forte”, afirma.

Ela critica ainda a falta de uma cultura no Brasil de pagar pelo aplicativo. “As pessoas gostam do que é de graça, sobretudo para crianças, que mudam de interesse com rapidez. Então, se você tem um aplicativo específico para uma faixa etária, tem de estar sempre em busca de novos usuários”, diz Lima. 

 

Ranking dos apps ​mais baixados na ​categoria até 5 anos

Google Play
​- Masha e o urso
- ​PlayKids
​- PJ Masks: Moonlight Heroes
- ​Toca Kitchen 2
​- Peppa Pig: Paintbox
- ​YouTube Kids
- ​LEGO Juniors Create & Cruise
​- Discovery K!ds Play!
​- Spot it: find the difference for toddlers
​- Super ABC para crianças! Jogos de aprendizagem

​iOS App Store
- ​​PlayKids
​- TinyTap
- ​YouTube Kids
- ​Lingokids
​- Savanna Animals
- ​Galinha Pintadinha
- ​Confeitaria da Moranguinho
- ​Visual Mágico da Barbie
- ​Jogos para crianças de piano

 ​Fonte: Consultoria de mercado App Annie

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