Bolsa cai com aumento de tensão entre China e EUA e com prisão de Lula no radar

Nos EUA, índices caíram mais de 2% com ameaça de Trump de impor mais tarifas à China

Operadores da Nyse: tensões entre EUA e China voltam a afetar mercados
Operadores da Nyse: tensões entre EUA e China voltam a afetar mercados - AFP
Danielle Brant
São Paulo

A escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China voltou a afetar os principais mercados globais e deixou o dólar próximo a R$ 3,37 nesta sexta-feira (6). O maior impacto foi sentido pelas Bolsas americanas, que caíram mais de 2% e terminaram a semana no vermelho.

O índice Dow Jones recuou 2,34%. O S&P 500 caiu 2,19%, e o índice da Bolsa de tecnologia Nasdaq teve baixa de 2,28%. Na semana, as quedas foram de 0,7%, 1,38% e 2,10%, respectivamente.

A Bolsa brasileira recuou 0,46%, para 84.820 pontos --na semana, a desvalorização foi de 0,64%. O dólar subiu 0,77%, para R$ 3,368. Na semana, avançou 2,03%.

A piora dos mercados refletiu uma aparente reversão da trégua verificada na quinta-feira (5) entre EUA e China, após a sinalização de que os países estariam se aproximando para negociar a imposição bilateral de tarifas à importação de produtos.

Mas, na noite de quinta-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a ameaçar impor tarifas de US$ 100 bilhões sobre importação de produtos chineses.

Nesta sexta, o governo chinês afirmou que está totalmente preparado para responder com um "contra-ataque feroz" de novas medidas comerciais caso os Estados Unidos imponham novas medidas restritivas à importação de produtos chineses.

Porta-voz do Ministério do Comércio da China afirmou que a ação dos Estados Unidos era "extremamente equivocada" e injustificada. Segundo ele, nenhuma negociação era provável nas atuais circunstâncias.

Para Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos, o cenário é de preocupação. "Você tem uma situação que pode impactar as perspectivas de crescimento global. Há muita incerteza, pode haver impacto na inflação americana, na produção industrial. Então causa preocupação o embate comercial."

José Tovar, presidente da gestora TRUXT Investimentos, diz que as correções dos mercados não preocupam. "Mas, se Trump decidir governar via guerra tarifária, será ruim. O Fed [banco central americano] pode começar a reagir a isso e pode ter de acelerar a alta de juros", diz.

Ainda assim, uma guerra comercial estaria longe de ocorrer, diz Ronaldo Patah, estrategista de investimentos do UBS Wealth Management.

"Há uma imposição de tarifas pelos EUA e uma retaliação por parte da China sobre uma pauta limitada de produtos de ambos os lados."

"Não são todos os produtos que foram atingidos, é um percentual pequeno da balança comercial bilateral."

LULA

O cenário doméstico também esteve no radar dos investidores, com a iminente prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Há uma indecisão e um receio em relação à prisão que fizeram com que investidores aliviassem posições e trouxeram pressão de venda ao mercado", afirma Alexandre Wolwacz, sócio-fundador do Grupo L&S.

"O juiz determinou a prisão de Lula, mas ele não foi preso. Os investidores pensam: que país é esse? Como posso estruturar uma empresa?"

AÇÕES

Dos 64 papéis do Ibovespa, 44 caíram, 19 subiram e um fechou estável.

As ações da Eletrobras lideraram as quedas, depois de Paulo Pedrosa, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, deixar a pasta. Ele era cotado para assumir o cargo de ministro, após a saída de Fernando Coelho Filho, que vai disputar eleições.

Os papéis ordinários da estatal recuaram 9,17%, e os ordinários perderam 8,17%. "A avaliação é que isso pode prejudicar o processo de privatização. É mais uma incerteza em meio a outras, o que implica em dificuldade e uma perspectiva mais negativa para a privatização", afirma Rafael Passos, analista da Guide Investimentos. 

Já a Ambev recuou 3,25%. 

Na ponta positiva, as ações da Suzano lideraram as altas, com avanço de 4,08%. A Rumo subiu 3,90%, e a Smiles se valorizou 2,68%.

Os papéis da Petrobras subiram, mesmo com a queda de mais de 2% dos preços do petróleo no exterior. As ações mais negociadas da empresa subiram 0,61%, para R$ 21,28. Os papéis ordinários tiveram alta de 1,03%, para R$ 23,58.

A mineradora Vale recuou 1,18%.

Entre os bancos, o Itaú Unibanco subiu 0,49%. Os papéis preferenciais do Bradesco caíram 0,31%, e os ordinários se desvalorizaram 0,76%. O Banco do Brasil teve baixa de 1,31%, e as units —conjunto de ações— do Santander Brasil perderam 2,22%.

CÂMBIO

O aumento da tensão entre Estados Unidos e China fez o dólar se valorizar ante 14 das 31 principais moedas do mundo.

Os investidores acompanharam também declarações do presidente do banco central americano,  Jerome Powell, de que era cedo demais para saber se as crescentes tensões poderiam afetar a economia dos EUA. Ele sinalizou ainda que um aumento gradual de juros ajudaria a atingir as metas estabelecidas pelo Fed.

Nesta sexta, o Departamento do Trabalho americano divulgou que foram criados 103 mil postos de trabalho fora do setor agrícola em março. Foi o menor número de vagas de trabalho em seis meses.

A taxa de desemprego se manteve estável em 4,1%, e a renda média por hora aumentou 0,3% no mês passado, depois de avançar 0,1% em fevereiro. 

O Banco Central ainda não anunciou intervenção no mercado cambial. Em maio, vencem US$ 2,565 bilhões em swap cambial tradicional (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro). 

O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) teve alta de 2,24%, para 166,9 pontos. 

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados tiveram resultados mistos. O DI para julho deste ano ficou estável em 6,295%. O DI para janeiro de 2019 subiu de 6,245% para 6,255%.

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