Bolsa cai com tombo no mercado americano; dólar supera R$ 3,31

Investidores temem guerra comercial entre EUA e China e maior regulação de 'big techs'

Operador na Bolsa de Nova York
Operador na Bolsa de Nova York - Wang Ying/Xinhua
Anaïs Fernandes
São Paulo

A Bolsa brasileira acompanhou o exterior e fechou em baixa no primeiro pregão de abril, afetada pelas preocupações em torno da relação comercial entre Estados Unidos e China e com novo recuo das ações de tecnologia.

O Ibovespa, índice que reúne as ações com maior liquidez por aqui, caiu 0,82%, a 84.666,43 pontos. O volume financeiro do pregão somou R$ 8 bilhões. Mais cedo, o índice chegou a subir 0,36%.

"O Ibovespa até tentou se segurar um pouco, estava caindo bem menos, mas o mercado lá fora está muito ruim e isso impactou aqui dentro", diz Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.

A queda não foi maior porque as siderúrgicas seguraram o Ibovespa. As ações da Vale subiram 1,87%, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) ganhou 1,59% e a Gerdau teve alta de 0,9%.

O dólar comercial subiu 0,36%, cotado a R$ 3,313. O dólar à vista teve leve alta, de 0,22%, também para R$ 3,313.

O Dow Jones, principal índice de Nova York, fechou em baixa de 1,9%. O S&P 500 recuou 2,23%. As bolsas europeias permaneceram fechadas em emenda do feriado de Páscoa.

O governo chinês informou no domingo (1º) que vai impor tarifas de até 25% a itens americanos como frutas e carnes, afetando cerca de US$ 3 bilhões em produtos, em resposta às sobretaxas que Trump anunciou, no início de março, para importações de aço e alumínio no país.

"Na conjuntura interna, já iríamos entrar nessa semana com cautela na mesa, porque na quarta-feira [4] o STF [Supremo Tribunal Federal] deve julgar o pedido de habeas corpus ao ex-presidente Lula. Esse movimento de cautela foi fortalecido pela forte volatilidade lá fora, tanto pela preocupação com uma guerra comercial que começa a se desenhar quanto pelo setor de tecnologia", afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

O índice de tecnologia Nasdaq fechou em baixa de 2,74%, a 6.870,12 pontos, com a Amazon caindo 5,21% depois que Trump lançou novo ataque à varejista. Com a queda desta segunda, o Nasdaq, que acumulava no ano, passou a ficar no negativo (-48%).

Em uma postagem no Twitter, o presidente reclamou do preço das entregas da Amazon pelo serviço postal americano e prometeu mudanças não especificadas.

"Apenas os tolos, ou pior, estão dizendo que o nosso dinheiro perdido nos Correios faz dinheiro com a Amazon", Trump afirmou. "Eles perdem uma fortuna, e isso será mudado. Além disso, nossos varejistas pagadores de impostos estão fechando lojas em todo o país... não é um campo em igualdade de condições!"

A fabricante de carros elétricos Tesla perdeu 5,13%, na expectativa do anúncio da montadora sobre os números trimestrais de produção do sedã Model 3

A Tesla confirmou na sexta-feira (30) que seu sistema semiautônomo Autopilot estava acionado no momento de uma colisão na Califórnia na semana passada que levou à morte do motorista do veículo.

As ações da Netflix caíram 5,1%, o Facebook perdeu 2,75%, e os papéis da Alphabet, dona do Google, recuaram 2,36%. A Apple teve leve queda de 0,66%.

AÇÕES

Das 64 ações do Ibovespa, 51 caíram e 13 subiram. O pregão trouxe a primeira prévia da carteira que vai vigorar de maio a agosto, com a entrada das ações da B2W e da Gol e saída de Marfrig.

A maior perda foi da EcoRodovias (-5,14%). O jornal O Estado de S.Paulo publicou planilhas em poder da Operação Lava Jato apontando que uma empresa do engenheiro Júlio Cesar Astolphi teria recebido, em 2009 e 2010, R$ 3,2 milhões de duas concessionárias da Ecorodovias.

As ações da Petrobras também tiveram forte queda —de 2,65% (ordinárias) e 2,38% (preferenciais)—, na esteira do recuo dos preços do petróleo no exterior. O petróleo bruto caiu 3,22%, para US$ 62,85, enquanto o brent recuou 2,57%, a US$ 67,56.

No setor financeiro, os papéis do Itaú Unibanco caíram 0,51%. As ações preferenciais do Bradesco recuaram 0,92%, e as ordinárias perderam 2,5. O Banco do Brasil caiu 1,9%, e as units -conjunto de ações- do Santander Brasil registraram queda de 1%.

DÓLAR

A moeda americana se valorizou ante 13 das 31 principais divisas do mundo.

"O avanço do dólar no Brasil não foi tão expressivo, mas a moeda já está em um patamar alto. Até o dia 4, pode haver uma acomodação para baixo do câmbio, mas é difícil que se distancie do patamar de R$ 3,30. Se o STF negar o habeas corpus do ex-presidente Lula, aí o dólar tem bastante espeço para recuar, se a conjuntura externa permitir", dez Galhardo.

O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) subiu 0,9%, para 165,67 pontos. 

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados subiram. O DI para maio deste ano subiu de 6,394% para 6,398%. O DI para janeiro de 2019 passou de 6,220% para 6,230%.

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