A União Europeia anunciou nesta quinta-feira (19) que proibiu a importação de carne de frango e derivados de 20 unidades de frigoríficos do Brasil, aproximadamente um terço do total de plantas autorizadas a vender para o bloco. A decisão entra em vigor dentro de 15 dias.
Estimativas preliminares do setor apontam que o impacto negativo para as exportações do Brasil pode chegar a US$ 300 milhões por ano, o que significa uma queda de 30% a 35% nas vendas de frango para a UE. Em relação aos embarques totais do país, a perda é bem menor: 4%.
Conforme um documento extraoficial obtido pela reportagem, dos 20 frigoríficos barrados, 12 pertencem à BRF, gigante dona das marcas Sadia e Perdigão e alvo da Operação Trapaça. As demais empresas são cooperativas paranaenses. As fábricas da JBS não foram afetadas.
Pelas estimativas do mercado, a BRF terá uma perda de cerca de R$ 1 bilhão com a suspensão de suas plantas. O valor equivale a cerca de 3% do faturamento, no entanto, a empresa encerrou o ano passado com prejuízo da mesma ordem, cerca de R$ 1,1 bilhão.
A UE alegou que os frigoríficos embargados descumpriram a regra de tolerância zero para presença de qualquer tipo de salmonela, exigida para a venda de carne de frango in natura dentro de uma cota de 170 mil toneladas ao que o Brasil tem direito.
Segundo apurou a reportagem, foi detectada a presença de salmonela em 0,6% das amostras — um dos menores índices do mundo—, mas, ainda assim, proibido da proibição de qualquer uma dos 2,6 mil tipos dessa bactéria, mesmo as não prejudiciais à saúde.
O setor e o governo desconfiam que é uma barreira comercial, porque, se as empresas aceitarem pagar uma tarifa extracota de 1.024 euros por tonelada, a restrição é reduzida para 2 tipos de salmonelas, que são efetivamente prejudiciais à saúde, e a carne é liberada para entrar na UE.
O embargo europeu chega num momento ruim para o setor de carne de frango no mercado interno. O preço do frango abatido no atacado caiu 30% em São Paulo no acumulado dos últimos 12 meses, enquanto os custos de produção subiram por conta do aumento do preço do milho e da soja.
Na avaliação de analistas e executivos, no entanto, o maior problema será o desgaste para a imagem do produto brasileiro no exterior, já que o sistema de controle sanitário da UE costuma ser visto como referencia para outros países.
Para impor à barreira, os europeus alegaram preocupação com a qualidade da carne de frango brasileira, mas o governo está convencido que a medida é uma barreira comercial e promete abrir um processo na Organização Mundial de Comércio (OMC).
"É uma proteção comercial disfarçada de questão de saúde", disse à Folha Blairo Maggi, ministro da Agricultura. Na quarta-feira (18), já prevendo a medida europeia, o ministro esteve com o presidente Michel Temer, que deu aval para o processo na OMC, e começou a discutir o assunto com o titular das Relações Exteriores, Aloysio Nunes.
As investigações europeias começaram após a deflagração das Operações Carne Fraca e Trapaça pela Polícia Federal brasileira, que investigam suspeitas de fraudes em exames laboratoriais.
OUTRO LADO
Em nota, a BRF disse que ainda não foi oficialmente informada sobre a decisão. A associação que reúne as empresas do setor diz é "uma medida protecionista que não se ampara em riscos sanitários ou de saúde pública."
A companhia disse que "vai procurar seus direitos perante os órgãos responsáveis europeus" e dar suporte integral às ações do governo brasileiro na OMC.
A BRF afirmou ainda que vai iniciar a revisão de seu planejamento de produção, que já considera o regime de férias coletivas em quatro unidades: Capinzal (SC), Rio Verde (GO), Carambeí (PR) e Toledo (PR).
A Copacol, que exporta para mais de 50 países, disse que continua habilitada para vender frango 'in natura' à Europa e que conta com "importantes certificações de qualidade".
A Lar Cooperativa Agroindustrial disse que ainda não foi notificada oficialmente, mas lamentou a decisão, que disse ser baseada em barreiras comerciais. Segundo a cooperativa, metade da sua carne é destinada à exportação, sendo que 7% corresponde ao comércio com a UE.
A Copagril afirmou que considera precoce um pronunciamento sobre o tema no momento e que vai avaliar os impactos após a confirmação oficial desta informação.
A Bello Alimentos disse que a decisão da UE é infundada e protecionista e que seguirá produzindo alimentos com rigoroso controle de qualidade.
A São Salvador disse que não recebeu comunicado oficial e que vai se pronunciar quando tiver mais informações e um cenário definido.
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