Dólar tem alta e fecha a R$ 3,47 em meio a cautela com alta de juros nos EUA

Preocupação fez índices americanos recuarem mais de 1%; Bolsa brasileira teve leve queda

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Dólar volta a ganhar força em relação ao real com preocupações com juros nos EUA
Dólar volta a ganhar força em relação ao real com preocupações com juros nos EUA - REUTERS
São Paulo

O dólar registrou nesta terça-feira (24) o quarto dia de valorização em relação ao real, pressionado pela preocupação dos investidores com altas adicionais de juros nos Estados Unidos. A cautela impactou também os principais índices americanos, que recuaram mais de 1%.

A Bolsa brasileira teve queda de 0,16%, para 85.469 pontos. O volume financeiro negociado foi de R$ 9,5 bilhões. 

O dólar comercial teve alta de 0,49%, para R$ 3,470. É o maior valor desde 2 de dezembro de 2016, quando a moeda encerrou a R$ 3,473. O dólar à vista se valorizou 0,87%, para R$ 3,472.

A preocupação com um ritmo mais forte de aumento de juros nos Estados Unidos voltou a pesar no dólar nesta sessão. A moeda americana se valorizou ante 13 das 31 principais moedas do mundo.

"O dólar tem se valorizado no mundo inteiro por causa da dúvida sobre a taxa de juros americana. O mercado precificava mais duas altas, agora precifica mais três altas, por causa do aumento do preço das commodities, que tende a gerar inflação no curto prazo", afirma Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos. 

Especialista, porém, indicam que há um componente interno acentuando a pressão: a desconfiança do investidor que não quer sair do mercado acionário local, mas também não quer correr o risco cambial.

O investidor estrangeiro está não apenas comprando ações na Bolsa brasileira; ao mesmo tempo, está adquirindo dólar ou contrato futuro de dólar (ativo atrelados à moeda) para proteger o investimento em ações do risco de desvalorização do câmbio.

A operação casada explica outro fato peculiar: a falta da natural correlação entre câmbio e mercado de capitais. Pela regra, Bolsa e câmbio têm comportamentos inversos. Se há confiança em relação a um país, a sua Bolsa sobe e o dólar cai. Se há percepção de risco, ocorre o contrário, a Bolsa cai e o dólar sobe. 

Agora, porém, enquanto o dólar se valoriza cerca de 5% no mês, a Bolsa acumula ganho de 0,12%.
“O estrangeiro está otimista com a Bolsa, mas vê a situação do Brasil no médio e longo prazo mais tumultuada, porque temos uma situação fiscal difícil e um cenário eleitoral incerto”, avalia o economista André Perfeito. 

“Se a Bolsa ficar cada vez mais barata em dólar, como ocorre quando o real se desvaloriza, é desvantajoso para ele.” Para o economista, não há boas notícias que o governo possa dar e que sirvam para amenizar esse panorama. 

“Para que os estrangeiros tivessem uma visão mais positiva do Brasil, seria preciso que surgissem novas boas notícias, mas não tem como o governo dar boas notícias. Logo, há receio de uma piora no cenário, com governo paralisado e economia estagnada”, afirma.

TÍTULOS DOS EUA

A possibilidade de altas adicionais nos juros pelo banco central americano (Federal Reserve) fez o rendimento dos títulos de dívida dos EUA com vencimento em dez anos baterem 3% pela primeira vez desde janeiro de 2014. 

Com isso, os investidores tendem a retirar dinheiro de Bolsa e de mercados emergentes, como o Brasil, para aplicar nos papéis americanos, considerados mais seguros. 

Nos mercados americanos, essa possibilidade se traduziu em uma queda de mais de 1% dos principais índices americanos. O índice Dow Jones recuou 1,74%, o S&P 500 se desvalorizou 1,34% e o índice da Bolsa Nasdaq fechou com baixa de 1,70%.

A tendência é que a cautela se mantenha tanto no dólar quanto no mercado acionário, por preocupações geopolíticas envolvendo o acordo nuclear com o Irã. O presidente americano, Donald Trump, já sinalizou que deseja rever os termos do tratado.

Nesta terça, o presidente da França, Emmanuel Macron, declarou que está disposto a discutir um novo acordo nuclear com o Irã.

"Isso acaba tendo um impacto de curto prazo pela presença e importância do Irã no Oriente Médio. O aumento do petróleo é geopolítico e também devido ao controle de preços pelo corte de produção da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo)", afirma Suzaki. 

O Banco Central vendeu 3.400 contratos de swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro). Até agora, já rolou US$ 2,04 bilhão dos US$ 2,565 bilhões que vencem em maio.

O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) se valorizou 0,71%, para 171,1 pontos. 

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados subiram. O DI para julho deste ano avançou de 6,249% para 6,253%. O DI para janeiro de 2019 teve alta de 6,225% para 6,235%.

AÇÕES

No índice Ibovespa, 41 ações caíram, 21 subiram e duas fecharam estáveis.

A maior queda foi registrada pela Ultrapar, com baixa de 3,73%. A Klabin recuou 3,22%, e a BR Malls se desvalorizou 2,7%.

Entre as altas, a Qualicorp subiu 5,16%. A Cosan avançou 4,63% após fechar um acordo para comprar ativos da Shell na Argentina. E a Cielo se valorizou 3,21%.

As ações da Petrobras fecharam em baixa, em dia de desvalorização dos preços do petróleo no exterior. Os papéis preferenciais da empresa caíram 0,36%, para R$ 22,40. As ações ordinárias tiveram baixa de 0,33%, para R$ 24,27.

A mineradora Vale subiu 1,71%, para R$ 48,31, depois que a equipe de análise do Credit Suisse elevou o preço-alvo do ADR (recibo de ação negociado nos EUA) da mineradora de US$ 16 para US$ 17.

No setor financeiro, as ações do Itaú Unibanco recuaram 0,49%. As ações preferenciais do Bradesco subiram 0,18%, e as ordinárias tiveram baixa de 0,72%. O Banco do Brasil teve baixa de 0,97%, e as units —conjunto de ações—​ do Santander Brasil ganharam 0,15%.

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