Eleição faz investidor sentir 'otimismo cauteloso' com a recuperação do Brasil

A maioria dos indicadores anima, em especial a inflação baixa, mas a indefinição das urnas preocupa

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Painel na entrada do encontro do FMI (Fundo Monetário Internacional), realizado nesta semana em Washington (EUA) - Yuri Gripas / Reuters
Washington

Entre goles de espumante e chá gelado, um número em especial era o assunto de investidores e analistas que se reuniam num coquetel em Washington, nesta semana: 2,68%. Essa é a atual taxa de inflação do Brasil, abaixo da meta traçada pelo Banco Central e em vertiginosa queda há quase dois anos.

O número é um entre os indicadores brasileiros celebrados pelo mercado durante o encontro do FMI (Fundo Monetário Internacional), realizado nesta semana na capital americana.

Os juros estão no menor nível da história, a expectativa de crescimento para o Brasil divulgada pelo FMI aumentou, e a economia caminha para uma retomada gradual. A inflação, ainda que abaixo da meta, é considerada um "bom problema".

Mas ainda há desconfiança, em especial em relação ao que virá depois das eleições. "É um grande ponto de interrogação", comentou o presidente da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, à Folha.

Na quinta-feira (19), o papo nos corredores de um evento de investidores era Joaquim Barbosa (PSB), que despontou na última pesquisa Datafolha. Mas, semanas antes, era Lula. E, antes ainda, era Luciano Huck. "Dependendo do desfecho, as coisas podem melhorar ou piorar", afirma Joel Velasco, sócio do Albright Stonebridge Group, consultoria de investimentos com sede nos EUA. "Ganhar na loteria hoje é mais fácil do que saber quem será o próximo presidente do Brasil."

Por causa disso, a maior parte dos empresários e analistas ouvidos pela Folha manifesta um "otimismo cauteloso".

"O sentimento é dar o benefício da dúvida", afirmou Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, que organizou um almoço na capital americana com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

Não é que falte confiança na equipe econômica --pelo contrário. "Vocês podem não gostar do presidente, mas me parece o menor dos males", disse à Folha um pequeno investidor americano, para quem a política econômica brasileira está na direção certa.

Na palestra do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, evento promovido pelo Itaú, teve gente que ficou de pé.

Premiado como melhor banqueiro do mundo no início do ano, Goldfajn tem como cartão de visitas a redução da inflação, de 10,7% para 2,68% nos últimos dois anos, após a pior recessão da história.

Na palestra do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, evento promovido pelo Itaú, teve gente que ficou de pé - Jose Luis Megana / AP

"Teve um jornalista argentino que falou comigo e mencionou a taxa do Brasil com inveja", brincou Di Si, da Volks.

Ninguém ignora, também, o gigantismo do mercado brasileiro, o maior da América Latina. O investimento no Brasil é de médio e longo prazo, e ninguém mencionou querer tirar os ativos do país.

Mas o mercado sabe que esse é um governo tampão, e o que acontecerá depois de janeiro é uma incógnita.

O almoço da XP Investimentos com o ministro da Fazenda lotou. Mas, a cada pergunta sobre crescimento, vinha outra sobre eleição.

"No final, tudo enrosca na política", disse Latif.

Outro fator preocupa os investidores: a corrupção.

Só que, se antes o problema era com uma prática corrente no setor público, agora é com o risco de achar um "esqueleto no armário".

"E se você compra um ativo que, daqui um ou dois anos, é alvo de uma investigação sobre o que ocorreu no passado? Como é que você precifica esse risco?", comenta Velasco. "É um novo risco Brasil."

Ninguém sugere que se parem as investigações. O problema é que, mesmo com uma auditoria detalhada do negócio, é possível que o passado nem sempre venha à tona.

Apesar das inquietações, representantes do governo brasileiro escapuliam às perguntas sobre eleições. "É que nem vocês [jornalistas]: perguntam, e eu não respondo", brincou Goldfajn durante entrevista.

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