Em disputa judicial, Intermédica vai à Bolsa

Dono de hospital contesta declaração de propriedade de unidade pela operadora

O IPO (oferta pública de ações) da Notre Dame Intermédica poderá movimentar cerca de R$ 1,9 bilhão - Paulo Whitaker-21.ago.2017 / Reuters
Mario Cesar Carvalho Joana Cunha
São Paulo

A operadora de saúde Notre Dame Intermédica estreia suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo no próximo dia 23 com uma pedra no meio do caminho. O dono de um hospital alugado para a rede, o médico Fabio Faisal, diz que a empresa apresenta as instalações como se fossem dela, o que não é verdade, segundo ele.

O hospital Renascença, em Osasco, na Grande São Paulo, é alugado para a Intermédica e, pelos planos de seus sócios, o contrato não será renovado por causa de conflitos com a operadora de saúde.

"Em junho vamos pedir o hospital de volta", diz Faisal à Folha. "Não queremos negócio com a Intermédica".

Os conflitos começaram em 2002, três anos após o hospital ter sido arrendado à operadora. A Intermédica aceitou pagar R$ 330 mil por mês de aluguel em 1999 e entrou na Justiça três anos depois pedindo revisão do contrato para metade do valor.

Ganhou em primeira instância, mas a família Faisal entrou com recurso por não aceitar que o preço do aluguel seja definido pelo valor do metro quadrado, em vez da qualidade das instalações.

No recurso, eles alegaram que não faz sentido definir o preço do aluguel pelo metro quadrado porque hospital requer instalações especiais, diferentemente de imóveis comuns, e tais especificidades devem ser precificadas.

"Não tem sentido nenhum definir o preço por metro quadrado porque você não acha um hospital para alugar em cada esquina", afirma Faisal.

Atualmente, a Intermédica paga R$ 165 mil aos Faisal e idêntico valor é depositado em juízo até que o conflito tenha um fim. Pela conta dos donos do hospital, a Intermédica lhes deve R$ 16 milhões.

Faisal diz que o critério do metro quadrado distorce para baixo o preço do hospital. Se as instalações fossem vendidas por essa regra, o preço seria de R$ 40 milhões. "Já temos oferta de R$ 110 milhões pelo hospital", contrapõe.

Procurada, a Notre Dame Intermédica não se manifestou porque precisa ficar em período de silêncio às vésperas de sua estreia na Bolsa.

O IPO (oferta pública de ações) da Notre Dame Intermédica poderá movimentar cerca de R$ 1,9 bilhão e ocorre no mesmo mês em que outra empresa do ramo, a Hapvida, se lança na Bolsa.

Em sua apresentação para a oferta de ações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a Intermédica menciona uma rede própria de hospitais com 18 unidades, que somam 1.860 leitos.

Desse total, 77 leitos são do hospital Renascença.

AQUISIÇÕES

As outras unidades vêm sendo adquiridas pela Intermédica nos últimos anos, em um esforço de investimento para controlar os hospitais.

Desde 2015, ela tem comprado uma série de empreendimentos que hoje fazem parte dessa lista própria, como os hospitais São Bernardo, Bosque da Saúde e Montemagno, todos no ABC --onde a empresa também adquiriu os ativos da operadora Unimed ABC.

No mesmo período, levou os hospitais Samci, no Rio, e o Family, em Taboão da Serra, entre outros.

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