Guerra comercial favorece carne brasileira

Sobretaxa da China à carne suína dos EUA abre espaço Brasil ampliar mercado no país asiático

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Criação de porcos em Walcott, em Iowa (EUA) - Daniel Acker-19.nov.2014 / Reuters
Daniel Camargos
São Paulo

A guerra comercial entre Estados Unidos e China abre espaço para empresas exportadoras de carne suína no Brasil, avalia a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). O país asiático é o maior consumidor de carne do porco do mundo: são 56 milhões de toneladas por ano. A título de comparação, o Brasil consome 3 milhões de toneladas anualmente.

Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobretaxar a importação de aço e alumínio, mirando essencialmente a China, e questionar a ação do país em empresas de tecnologia, Pequim respondeu no domingo (1°) elevando tarifas de 128 produtos. As sobretaxas variam entre 15% e 25%. A carne suína americana foi taxada pelo teto.

O vice-presidente e diretor de mercados da ABPA, Ricardo Santin, vê essa sobretaxa como uma oportunidade para as 11 empresas brasileiras habilitadas a exportarem para China. "O efeito psicológico já começou", diz Santin.

O representante do setor entende que os trâmites para exportação não devem gerar novos contratos imediatos, mas que a condição do exportador brasileiro ficou mais vantajosa. "Podem negociar até melhores preços", afirma.

Os chineses importaram 275 mil toneladas de carne suína dos EUA em 2017, o que gerou receita de US$ 488 milhões. No mesmo período, o Brasil exportou 48,9 mil toneladas para a China, com receita de US$ 100,6 milhões.

AUMENTO

Os chineses já estavam importando mais carne de porco brasileira. O motivo, segundo Santin, foi o excedente gerado pelo embargo da Rússia à carne suína brasileira em vigor desde novembro.

A restrição russa se deve a presença do aditivo ractopamina em alguns carregamentos enviados ao país, alegação que os grupos setoriais de carnes do Brasil negam.

Tanto a Rússia quanto a China exigem que a carne suína não tenha o aditivo. O vice-presidente da ABPA garante que após o embargo russo os exportadores brasileiros estão preparados, pois não usam o aditivo, o que, segundo ele, facilita as negociações com o mercado chinês.

Nos dois primeiros meses de 2018 foram 25,5 mil toneladas, o que representa um aumento de 140% se comparado ao mesmo período de do ano passado. Graças a esse avanço, os russos foram ultrapassados pelos chineses, que assumiram a liderança dos negócios brasileiros, comprando 28,4% do total vendido pelo Brasil.

O governo dos EUA divulgará nesta semana a lista de importações chinesas que serão objeto de tarifas. A lista de US$ 50 bilhões a US$ 60 bilhões em importações anuais deverá ser direcionada a produtos de alta tecnologia.

O escritório do Representante de Comércio dos EUA precisa apresentar a lista de produtos até sexta-feira, de acordo com o decreto tarifário contra a China que Trump assinou em 22 de março.

As tarifas visam a forçar mudanças nas políticas do governo chinês que, segundo o USTR, resultam na transferência "não econômica" da propriedade intelectual dos EUA para empresas chinesas.

A investigação da agência autorizando as tarifas alega que a China tem sistematicamente tentado se apropriar indevidamente da propriedade intelectual dos EUA por meio de exigências de joint venture, regras injustas de licenciamento de tecnologia, compras de empresas de tecnologia dos EUA com financiamento estatal e até roubo.

A China negou que suas leis exijam transferências de tecnologia e ameaçou retaliar quaisquer tarifas norte-americanas com sanções comerciais.

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