Ilume troca de mãos, mas fica sob gestão de alvo de denúncia

Órgão é suspeito de praticar fraude na licitação de PPP da luz

Iluminação pública em São Paulo - Rubens Cavallari-18.ago.2016/Folhapress
Joana Cunha
São Paulo

Poucos dias após assumir a Prefeitura de São Paulo, Bruno Covas trocou de cadeira o secretário de Serviços e Obras, Marcos Penido, mas manteve nas mãos dele o Ilume, departamento de iluminação em que estourou, no mês passado, um escândalo de corrupção envolvendo a PPP da iluminação pública. 

Penido foi citado como receptor de propina nos áudios que uma funcionária vazou em que Denise Abreu, ex-diretora do Ilume, fala sobre um suposto favorecimento à empresa FM Rodrigues, que venceu a licitação, levando o contrato de R$ 7 bilhões.

Penido foi transferido para o cargo de secretário de Prefeituras Regionais, uma das poucas mudanças que Covas anunciou no secretariado do ex-prefeito João Doria.

Mas o departamento Ilume, que fazia parte da estrutura da Secretaria de Serviços e Obras, também será transferido para a mesma Secretaria das Prefeituras Regionais, na qual permanecerá sob os cuidados de Penido.

A mudança foi publicada no Diário Oficial desta terça-feira (10). A divulgação, no dia 21 de março, das gravações de conversas de profissionais do Ilume derrubou Denise Abreu da diretoria.

Nos áudios, ao falar de uma queda de braço entre a prefeitura e a AES Eletropaulo, Abreu faz acusações, dizendo que Penido e Julio Semeghini, secretário de Governo, receberiam propina da distribuidora de energia.

As falas da ex-diretora foram gravadas no segundo semestre de 2017.

“Penido, Julio Semeghini, todo o mundo sabe que eles levam uma bola da Eletropaulo. Quem não sabe?”, afirma Abreu na gravação.

OUTRO LADO

Procurada, a prefeitura diz que, no dia do vazamento dos áudios, Abreu assinou documento declarando que jamais interferiu no processo licitatório da PPP da iluminação.

“Afirma, ainda, desconhecer totalmente qualquer tipo de envolvimento ilícito entre os secretários Marcos Penido e Julio Semeghini com a Eletropaulo.”

A prefeitura lembra que a Controladoria-Geral do Município instaurou investigação sobre as declarações dos então funcionários divulgadas nas gravações e também sobre a regularidade da seleção.

“A CGM está colaborando com o Ministério Público na investigação. Até o fim da apuração, o contrato será mantido exclusivamente para serviços essenciais de manutenção da iluminação pública”, diz em nota.

A prefeitura também defende a decisão de excluir o consórcio Walks, rival da FM Rodrigues que perdeu a disputa. “A comissão de licitação excluiu o consórcio Walks, integrado pela Quaatro, dona da Alumini, declarada inidônea em decorrência da Lava Jato”, diz a nota.

Nesta terça, foi lançada uma nova consulta pública para a elaboração de um edital de concorrência para os serviços de manutenção.

A AES Eletropaulo diz que “tomará as medidas legais cabíveis em relação a qualquer comentário inverídico quanto à sua reputação”.

A empresa diz que cumpre a lei, tem critérios éticos, repudia infrações e tem compromisso de transparência.

DIRETORA EXONERADA

Os áudios que desencadearam um escândalo de corrupção na iluminação pública de São Paulo mostram o comportamento agressivo e assediador da ex-diretora do Ilume, Denise Abreu.

Com palavrões e gritos, ela comanda alguns dos membros da comissão de licitação da PPP de iluminação da cidade, que hoje é investigada por suspeitas de fraude.

Além de sinalizar preferência pela empresa FM Rodrigues, que venceu a licitação, Abreu demonstra poder sobre dois membros da comissão de licitação: Luis Augusto Panadés e José Thomaz Mauger. Ambos foram exonerados após o escândalo.

Nas gravações, ela diz que confia plenamente em Panadés, que tem uma “lealdade canina”. Mas o trata com agressividade, dizendo que deveria amarrá-lo a uma cadeira, e que ele teria que “mijar” ali mesmo.

Sobre Mauger, ela diz que o ajuda com dinheiro e cita pagamento de R$ 30 mil para a escola do filho dele.

SEM LUZ NO ITAIM

Em um dos áudios vazados, Abreu exige de seus subordinados celeridade na troca de lâmpadas queimadas no Itaim, onde moram seus amigos.

“Estão há um mês [sem luz]. Uma noite a mais é um porre. Ontem fui jantar lá, e você não sabe o breu que é.”

Abreu, então, sugere que se trata de um bairro nobre e conta que foi jantar em um restaurante da rua Doutor Renato Paes de Barros na noite anterior. “Todo o mundo mora no Itaim porque ele é plano e você faz tudo a pé. É Ipanema de São Paulo”, afirma.

E depois faz provocações a Panadés, então diretor de manutenção, que ela culpa pela falta de solução. “Quero ver ter um estupro ali (...) mas não é a irmã do Panadés que vai ser estuprada.”

O canal padrão para os munícipes reclamarem de lâmpadas queimadas ou outros defeitos na rede pública de iluminação na cidade é o Ligue Ilume, um serviço de call center que funciona 24 horas por dia por meio de um telefone 0800.

Em relação ao tratamento dado por Abreu a Panadés, a prefeitura diz que ele “ocupou a função de secretário, responsável apenas por atividades administrativas, sem poder de voto e decisão”.

Procurado, o advogado de Denise Abreu, Roberto Podval, questiona a legalidade, a veracidade e a integridade dos áudios.

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