Juro baixo persistente vai reduzir custo do crédito, diz presidente do Bradesco

Lazari afirmou que volume maior compensaria a queda nos spreads

Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco - Karime Xavier-9.fev.2018/Folhapress
Anaïs Fernandes
São Paulo

Taxas de juros estruturalmente mais baixas vão possibilitar que o mercado precifique mais corretamente o risco de crédito, avaliou Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco, nesta quarta-feira (4), em evento do Bradesco BBI, braço de investimentos do banco.
 
A carteira de empréstimos do banco caiu 4,3% em 2017, para R$ 492,9 bilhões, mas a instituição projeta expansão de cerca de 5% neste ano, com impulso à pessoa física.
 
“Vamos expandir a carteira de crédito num ambiente mais estável… Todos nós queremos a redução de [taxa de] crédito, é isso que também buscamos”, disse Lazari.

“Experimentamos cenários diversos e extremos ao longo da história, como o da última crise. Houve aumento da inadimplência, contração do crédito, tudo isso no momento em que estávamos concretizando a aquisição do HSBC”, afirmou.
 
Agora, diz o executivo, o Brasil está retomando o crescimento, ainda que de forma frágil, e a operação do banco está ajustada e pronta para crescer, mesmo que juros mais baixos possam significar redução dos spreads -- a diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros cobrados do consumidor.
 
“Fizemos uma lição de casa muito severa para trabalhar a sinergia de custos. Agora, temos que fazer a sinergia de receitas. Os juros mais baixos doem num primeiro momento, porque há perda de receitas. Mas não adianta ser uma empresa rica num país miserável”, diz Lazari, afirmando ainda que o crescimento do volume de crédito e o menor o risco do empréstimo mais que compensarão o juro baixo.
 
Reportagens da Folha mostraram, no entanto, que embora a Selic (taxa básica de juros) esteja na mínima histórica de 6,5% ao ano, os ganhos dos bancos com spread não caem, nem taxas do crédito imobiliário, por exemplo.

“Não se reduz taxa de juros e spread com uma canetada, virando uma chave. Há uma série de fatores que devem acontecer para que elas caiam, mas não na mesma velocidade da Selic. Digo com convicção absoluta que durante este ano vamos perceber a redução significativa de juros e spread”, afirmou Lazari.
 

ELEIÇÕES

 
O Bradesco projeta um crescimento de 2,8% para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro neste ano.
 
As contas públicas, porém, ainda estão em má situação, aponta Lazari, e só vão melhorar com “a mãe de todas as reformas, a da Previdência”.
 
“Os juros podem e devem se manter baixos por um longo período de tempo se continuarmos avançando nessas reformas”, afirmou.
 
Em relação às eleições de outubro, que turvam o futuro do econômico, Lazari disse que há uma clara indefinição, mas que o banco segue otimista.
 
“ Haverá tendência para a continuidade das boas práticas de gestão. Parece que a agenda está dada efetivamente, continuar neste caminho será mais fácil do que mudar tudo”, disse.
 
Sobre o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula no STF (Supremo Tribunal Federal), que acontece nesta quarta, Lazari comentou apenas que “independentemente do que aconteça, o que precisa ser feito está dado” e que o Supremo tem capacidade para julgar o que é certo.
 
“Como uma sociedade democrática, que a decisão seja respeita.”

CRÉDITO IMOBILIÁRIO

O foco para impulsionar a pessoa física será o financiamento imobiliário, com atenção também ao crédito pessoal e ao consignado.
 
“A operação de crédito imobiliário é de fidelização do cliente com o banco”, diz Lazari. Segundo ele, março fechou com um recorde mensal de R$ 1,1 bilhão desembolsado ao financiamento de imóveis, sendo 80% desse total para pessoa física.
 
Na pessoa jurídica, que, segundo o executivo, ainda não entrou na zona de investimentos, há sinais de melhora na busca por recursos de curto prazo, como repor capital de giro ou estoque. Mas as expectativas são boas, diz Lazari, porque o BNDES tem desembolsado menos, e os bancos privados precisarão suprir essa demanda.

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