Lagarde pede mais vigilância sobre grandes empresas de tecnologia

A diretora do FMI se declarou preocupada com o poder de mercado das big techs

Diretora-executiva do FMI, Christine Lagarde - Jim Watson-19.abr.2018 / AFP
Shawn Donnan
Financial Times

A diretora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) apelou às autoridades mundiais que reforcem sua vigilância quanto ao poder de mercado de empresas de tecnologia como a Amazon e o Google, alertando que elas ameaçam a inovação e os ganhos de produtividade.

"Uma nova forma de pensar é necessária, certamente, e rápido", disse Christine Lagarde, a diretora executiva do FM, a jornalistas, nesta quinta-feira (19). "A competição traz produtividade, traz inovação. Concentração excessiva do mercado em mãos de poucos não ajuda, em médio e longo prazo".

O apelo de Lagarde veio na entrevista coletiva de abertura sobre as conferências semestrais do FMI e do Banco Mundial em Washington, nas quais o medo de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e seu efeito potencial sobre a economia mundial vêm dominando as discussões.

Lagarde, que foi ministra das Finanças e do Comércio Internacional da França, se declarou preocupada com o crescente poder de mercado das grandes empresas de tecnologia. Trabalhar quanto a essas preocupações e o impacto das novas tecnologias sobre a economia mundial é vital, ela disse.

Há pressão crescente sobre empresas como a Amazon e o Facebook em função de seu domínio sobre os consumidores e de seus dados pessoais, bem como por sua capacidade de desconsiderar a concorrência de empresas iniciantes, por conta de seu grande tamanho.

A Amazon também enfrenta pressão política da parte do presidente americano Donald Trump, que acusou a companhia de varejo online de manobrar para evitar impostos estaduais de vendas e de tirar do mercado seus concorrentes no varejo físico.

O FMI está "trabalhando muito" para estudar de que maneira tecnologias como as criptomoedas estão afetando a estabilidade financeira e a prosperidade econômica, disse Lagarde. Embora as criptomoedas e a instabilidade de suas cotações ainda não sejam uma ameaça, elas "virão a ter implicações para a estabilidade, um dia", ela acrescentou. "Não acreditamos que seja sistêmico... Mas acreditamos que as autoridades regulatórias precisem ficar atentas".

Lagarde disse que lidar com o domínio sobre o mercado de empresas como a Amazon - que anunciou na quarta-feira que seu programa Amazon Prime já tem um total mundial de mais de 100 milhões de assinantes pagantes - requereria cooperação de instituições e governos de todo o planeta, com foco em questões como impostos e finanças, e em aspectos sociológicos.

"Não estou certa de que promover a cisão de alguns dos titãs da tecnologia... seria de fato a resposta certa", ela disse, apontando que o "valor intangível" de muitos dos ativos detidos pelas empresas de tecnologia tornaria difícil desmantelá-las. "Como conduzir a divisão? Como facilitar o acesso? Como facilitar a ascensão dos desordenadores de mercado? É quanto a tudo isso que teremos de pensar muito".

Em entrevista à rede de noticias CNBC, Lagarde acrescentou que embora o FMI apoie o livre mercado e a competição, a concentração de poder nas mãos de algumas poucas empresas de tecnologia precisa ser enfrentada.

"A situação é muito diferente do que era no começo da era das telecomunicações, ou na era de expansão do capitalismo no século 19", disse Lagarde. Mas "precisamos realmente repensar a maneira pela qual a situação vem sendo tratada e sobre como encorajar a competição. Se isso requer um novo conjunto de regras... teremos de fazê-lo".
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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