Descrição de chapéu MPME

Megaparques dão lugar a atrações em espaços menores e mais baratos

Com estrutura enxuta, novo modelo de negócio tem foco em uma única atividade, como cama elástica

Flávia G. Pinho
São Paulo

O mercado dos parques de diversão convencionais, equipados com montanha-russa, roda-gigante e trem fantasma, é cada vez menor —pelo menos no Brasil.

Segundo a Adibra (Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil), trata-se de um fenômeno 100% nacional. A entidade não dispõe de números, mas credita o encolhimento do setor à falta de regulamentação.

“Não há brinquedos fabricados no país. Eles precisam ser importados como bens de consumo, não como bens de capital. As taxas são altíssimas e não existem linhas de crédito adequadas”, afirma o presidente da Adibra, Francisco Donatiello Neto.

Os altos custos dos equipamentos (uma montanha-russa pode chegar a R$ 10 milhões) e a exigência de grandes terrenos contribuem para a crise, diz Donatiello.

Não por acaso, nos últimos dois anos, novos modelos ganharam força por aqui —como os parques de camas elásticas e de jogos de escapada.

Henrique Sitchin, 53, e Karina Prall, 49, fundadores do Escape Junior, em frente a uma parede de tijolos, ligeiramente desfocados
Henrique Sitchin, 53, e Karina Prall, 49, fundadores do Escape Junior, em São Paulo - Karime Xavier / Folhapress

Ambos ocupam áreas menores, atraem público mesmo em dias de chuva e demandam menos investimento inicial.

Inaugurada em 2014, em Ribeirão Preto (SP), pelo administrador Gerson Azevedo, 48, a rede Jump Mania abriu mais quatro unidades: Campinas (SP), Uberlândia (MG), São Bernardo do Campo (Grande SP) e São Paulo. 

Em espaços que variam de mil a 2.000 m², todos dentro de shoppings, camas elásticas interligadas servem para jogar bola, pular obstáculos e dar saltos que terminam dentro de piscinas de espuma.

O investimento em cada unidade varia de R$ 1,5 milhão a R$ 3 milhões. “Abrimos no interior, de maneira tímida, e foi sucesso imediato. Hoje, os shoppings nos procuram oferecendo seus espaços.”

Os usuários, cerca de 33 mil por mês na rede, pagam entre R$ 30 e R$ 40 para pular por 30 minutos . As lanchonetes, que o próprio grupo opera, são uma fonte extra de renda.

Para o empreendedor, ainda há espaço para crescer. Seu foco são cidades com mais de 600 mil habitantes. “Esse tipo de parque faz sucesso em outros países há mais de 15 anos. Estou em negociação com fundos de investimento e, em até três anos, quero dobrar de tamanho.”

O administrador de empresas argentino Hernan Naka, 48, há 20 anos no Brasil, implantou seu Jumpark em uma área de 6,5 mil m² em Jundiaí, interior de São Paulo.

Inaugurado em julho de 2017, o lugar tem 2.400 m² cobertos e recebe, em média, 4.250 visitantes por mês, que pagam R$ 39 por hora.

Crianças de 6 a 12 anos, diz Naka, são 70% do público. Para os menores, de 2 a 6 anos, há uma área onde eles pulam na companhia dos pais. Adultos sem tanta disposição esperam no restaurante ou no bar.

As festas de aniversário são a mais nova aposta de Naka. Ele acaba de lançar um pacote para festas do pijama, nas quais os convidados dormem em colchões infláveis sobre as camas elásticas. Para 15 pessoas, sai por R$ 3.750. 

Além de uma nova unidade na capital paulista ainda neste ano, Naka diz que está de olho nos EUA. “Eu e um sócio local já escolhemos um ponto em Miami e estamos levantando os custos da reforma.”

Pioneira em jogos de escape no Brasil, a rede Escape 60 foi inaugurada em junho de 2015 por Jeannette Galbinski, 53, e mais três sócios.

Dona de uma consultoria de gestão empresarial, ela conheceu em Paris a brincadeira de tentar escapar de uma sala desvendando charadas e apostou que faria sucesso por aqui. A primeira unidade, no bairro da Vila Olímpia, na zona sul, custou R$ 1,2 milhão.

“Abrimos nas férias escolares e tivemos taxa de ocupação de 100% no primeiro mês”, diz. De lá para cá, foram mais nove unidades entre São Paulo, Rio e Belo Horizonte. São 54 salas ao todo, cada uma com uma trama diferente.

Jogos elaborados em parceria com redes de TV ou estúdios de cinema são os mais disputados. A taxa de ocupação gira em torno de 50%, com picos nas férias e fins de semana —crianças são 40% do público.

Cada usuário paga R$ 79,90 e, se a charada não for desvendada em uma hora, a porta se abre.

Em geral, os parques de jogos de fuga exigem que crianças pequenas (o limite de idade varia) brinquem na companhia de um responsável.

No paulistano Escape Junior, porém, as quatro salas são voltadas ao público infantil. Tramas como a de um cientista maluco disposto a exterminar o planeta foram elaboradas para as crianças desvendarem os enigmas sozinhas.

O ator Henrique Sitchin, 53, fundou o parque em setembro de 2017 inspirado em sua experiência com teatro para crianças, à frente da Cia. Truks. Cada participante paga R$ 65 para brincar por uma hora.

Nos fins de semana, a ocupação tem sido de 50%. Cerca de três festas de aniversário semanais garantem o movimento de segunda a sexta.

O quadro de funcionários se limita a três fixos e cinco flutuantes, chamados conforme o número de reservas. “Os monitores ficam dentro do ambiente quando o grupo é só de crianças. Se estão com um responsável, nosso funcionário observa pelas câmeras, na sala de controle”, explica Sitchin.

Por ser o único apenas no nicho infantil, o empreendedor diz temer o surgimento de um concorrente com mais poder de fogo. “Pode aparecer uma ‘blockbuster’, que vá nos engolir com altos investimentos.”

Como diferencial, Sitchin aposta no atendimento próximo à clientela —ele e a mulher, Karina  Prall, 49, cuidam pessoalmente do negócio. 

“Investimos o dobro do que planejávamos, mas acreditamos no potencial do Escape Junior. As crianças se envolvem no jogo com mais intensidade do que os adultos.”

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