Crise obriga homem a ajudar mais em casa para diminuir custos da família

Eles participam mais de tarefa doméstica, mas mulheres ainda trabalham o dobro, aponta IBGE

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Movimentação de babás e crianças em Moema, em São Paulo
Movimentação de babás e crianças em Moema, em São Paulo - Rodrigo Dionisio - 13.mar.2016/Folhapress
São Paulo e Rio de Janeiro

A crise obrigou os homens a ajudarem mais nas tarefas domésticas para cortar custos dentro de casa. O tempo dispensado nessas funções, porém, ainda é metade do que gastam as mulheres.

A constatação é de pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre formas não remuneradas de trabalho, divulgada nesta quarta-feira (18), com base em dados da Pnad-C (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua).

De acordo com o instituto, o percentual de brasileiros com mais de 14 anos que informou ter feito tarefas domésticas ou cuidado de outros moradores ou parente na semana da pesquisa subiu 4%, de 82,7% para 86%.

Na avaliação do IBGE, a perda de rendimento do trabalhador pode ter levado as pessoas a terem que se dedicar mais a tarefas domésticas. O crescimento foi maior entre a população ocupada. 

"Pode ser um movimento conjuntural: as famílias estão com renda menor e não dá para pagar diarista, não dá para pagar babá, então estão fazendo mais tarefas domésticas", disse a pesquisadora do IBGE Alessandra Brito.

É o caso de Caio Cesar de Oliveira, que trabalha com vendas de tecnologia para telecomunicações. Desde o ano passado, ele trocou os restaurantes que frequentava com a mulher nos finais de semana por jantares que ele mesmo prepara em casa. Além da cozinha, Oliveira assumiu tarefas na garagem. Passou a lavar o carro na casa do sogro em vez de levar no lava-rápido.  

"Eu acho que a melhora da economia que a gente tanto ouve falar ainda não está visível. Eu tinha dois carros e vendi um. Fazendo mais coisas em casa, já dá para economizar", afirma Oliveira. Ele ressalva que há também um componente cultural no aumento de sua participação nas tarefas domésticas.

"Não é só na cozinha que eu ajudo. Ultimamente, a gente passou a alternar: eu também limpo a cozinha, o banheiro. Não é só ela que mora em casa. Eu também preciso ajudar", diz.    

retrato do trabalhador Caio Cesar de Oliveira
Caio Cesar de Oliveira, 32, que passou a ajudar a mulher nos afazeres da casa; além de arrumar a cozinha, ele prepara as refeições aos sábados, poupando os gastos com restaurantes - Rafael Hupsel/Folhapress

Em 2017, a renda do trabalhador brasileiro caiu, em média 2%, para R$ 2.178. Alessandra Brito, do IBGE,  lembra que a crise afetou particularmente o trabalhador com carteira assinada e que o recuo do desemprego no fim do ano se deu pelo aumento dos trabalhadores por conta própria.

"Apesar de a ocupação não ter caído, essa população se inseriu em vínculos de menor rendimento", comentou Alessandra Brito, ressaltando que o fechamento de vagas foi mais intenso em setores de predominância masculina, como indústria e construção civil.

Os dados divulgados nesta quarta mostram que a taxa de realização de afazeres domésticos ou de cuidados com moradores cresceu mais entre os homens (de 74,1% para 78,7%) do que entre as mulheres (90,6% para 92,6%). 

Mas a diferença permanece grande, principalmente se considerado o número de horas dedicadas às tarefas do lar: as mulheres disseram ter dedicado 20,9 horas em afazeres domésticos ou cuidados com pessoas, contra apenas 10,8 horas gastas por homens. 

Mesmo as que trabalham gastaram muito mais tempo: 18,1 horas contra 12 horas dos homens não ocupados. "Os homens fazem mais do que em anos anteriores, mas as mulheres continuam dedicando muito mais horas", disse a pesquisadora do IBGE.

 

Somando a média de horas trabalhadas fora de casa e em tarefas do lar, as mulheres trabalharam três horas a mais do que os homens na semana da pesquisa (53,2 contra 50,2).

 

O crescimento da participação masculina em atividades do lar se deu principalmente na realização de afazeres domésticos, já que no indicador de cuidados com outros moradores a participação masculina ficou estável.

A taxa de realização de afazeres domésticos cresceu de 81,2% para 84,4%. Entre os homens, 76,4% disseram ter realizado alguma tarefa, alta de 6,2%. Entre as mulheres, o aumento foi de 2,1%, para 91,7%.

De acordo com o IBGE, os homens tem participação mais efetiva em tarefas como pequenos reparos e manutenção, organização do domicílio, cuidado com animais e fazer compras. A preparação de alimentos (95,6% das mulheres e 59,8% dos homens) e as atividades de limpeza (90,7% contra 56%) continuam sendo atividades majoritariamente femininas. 

CUIDADOS

De acordo com o instituto, cresceu de 26,9% para 31,5% o número de brasileiros que dedicam parte de seu tempo a cuidar de outros moradores no domicílio ou de parentes não moradores, um aumento de 8,3 milhões de pessoas.

Os dados indicam que o aumento ocorreu com maior intensidade entre as pessoas ocupadas (de 28,2% para 33,7%) e no cuidado de crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos (de 48,1% para 49,7%).

Entre as atividades, o aumento foi maior em ler, jogar e brincar e monitorar ou fazer companhia dentro de casa, nas quais a diferença entre a participação masculina e feminina é menor (73,3% a 77,3% e 87,3% a 91,4%). 

As mulheres ainda são majoritárias no auxílio aos cuidados pessoais e nas atividades educacionais.

Entre as atividades, o aumento foi maior em ler, jogar e brincar e monitorar ou fazer companhia dentro de casa, nas quais a diferença entre a participação masculina e feminina é menor (73,3% a 77,3% e 87,3% a 91,4%). 

As mulheres ainda são majoritárias no auxílio aos cuidados pessoais e nas atividades educacionais.

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