Para analistas, já não há espaço para a Fazenda avançar

Na perspectiva do mercado, equipe econômica foi blindada na reforma, mas não vai aprimorar o fiscal

Os ministros Esteves Colnago, do Planejamento, e Eduardo Guardia, da Fazenda - Pedro Ladeira - 11.abr.18/Folhapress
Flavia Lima
São Paulo

A equipe econômica saiu blindada das mudanças causadas pela entrada do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles no jogo eleitoral, mas tem condições de avançar pouco nos temas que interessam ao mercado, avaliam analistas.

Especialistas festejam a continuidade na área econômica como uma barreira importante a qualquer guinada na condução da política econômica, como uma elevação súbita do gasto público para alavancar uma candidatura governista.

Ao mesmo tempo, são cada vez mais raras as apostas de que o grupo técnico vai conseguir tirar alguma medida relevante de um Congresso que só pensa em eleições.

O próprio mercado financeiro vai, aos poucos, virando a página, reagindo mais ao sabor dos temores relacionados às eleições do que algum tipo de expectativa sobre esse governo, como visto na Bolsa nesta segunda (16).

"O governo delimitou uma área importante e sinalizou que não vai haver mudanças na política econômica, o que significa segurança para investir", diz o analista Erich Decat, analista político da XP Investimentos.

Decat se refere especialmente à trinca formada pelo novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a número dois do ministério, Ana Paula Vescovi, e ao secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, além de Esteves Colnago, à frente do Planejamento,

Decat reconhece, porém, de que há dúvidas com relação ao jogo de cintura do grupo para fazer avançar pautas importantes.

Daquela longa lista de quinze medidas econômicas apresentadas pelo governo no fim de fevereiro, três delas vinham sendo acompanhadas com lupa pelo mercado porque poderiam trazer um volume considerável de receita adicional: a privatização da Eletrobras, a desoneração da folha de salários e o projeto que institui um teto remuneratório para todo o funcionalismo público, coibindo os chamados "supersalários".

Mas as notícias mais recentes decepcionaram. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), tem dito a um grupo de interlocutores que está difícil votar a reoneração da folha e que o Congresso não quer debater o caso Eletrobras.

A própria equipe econômica aponta dificuldades nesse sentido. Uma fonte da área reconheceu que esse será um ano difícil no Congresso, mas que Fazenda e Planejamento estão bem alinhados para barrar qualquer retrocesso.

Em resumo, como gosta de dizer Meirelles, a equipe parece centrar mais esforços em continuar dizendo não ao que enxerga como inviável do que em conseguir um sim do Congresso para aquilo que considera relevante.

Um analista destaca que, se Meirelles, visto como um quadro com perfil mais político do que Eduardo Guardia, não tinha muito trânsito no Congresso, o que esperar do próprio Guardia. Muito pouco, diz ele.

Nas entrevistas dadas por Guardia ao longo do fim de semana, outro analista destaca a parte em que diz considerar a privatização da Eletrobras importantíssima, mas não pela questão fiscal.

Isso porque o governo não precisaria desses recursos para fechar as suas contas neste ano sobram, na verdade, mais de R$ 90 bilhões para gastos. Para essa fonte, é como se essa equipe tivesse dado o seu trabalho por encerrado. O governo praticamente acabou, diz.

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