Problema é excesso de produção, afirma secretário de comércio dos EUA

Para Ross, restrição voluntária de exportações de aço é uma das possibilidades para o Brasil

Secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross - Andres Stapff / Reuters
Patrícia Campos Mello
Lima

Na avaliação do secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, em entrevista à Folha e a mais cinco veículos latino-americanos, o país precisa lidar com todas as partes envolvidas na produção de aço para chegar a uma solução de um problema que é global, o excesso do produto.

De acordo com Ross, a restrição voluntária de exportações, que foi aceita pela Coreia do Sul, é uma das possibilidades. 

 

Modelo sul-coreano
Na Coreia, aceitaram uma cota de 30% menos que o aço que exportaram em média entre 2015 e 2017. Além disso, dobraram a cota de carros que podemos vender para eles. Alguns países latino-americanos também estão cooperando com a gente. Restrições de exportações são uma das soluções possíveis. Eu expliquei [ao ministro Aloysio Nunes] as questões que estamos tentando resolver, entre elas a triangulação. As importações diretas da China caíram muito, mas, milagrosamente, aumentaram as de outros países que nem produzem tanto aço. 

China e América Latina
Olhe para os investimentos da China na América Latina. Há muito mais papo do que ação. E muito do investimento são fusões e aquisições, em vez construção de fábricas. Um dos caminhos para a América Latina é a integração vertical para manufaturas. Não há valor adicionado em exportar matérias-primas. Cerca de 70% do que os EUA compram da região são manufaturados, e isso faz um bem muito maior à economia latino-americana. Temos um déficit comercial quase três vezes maior que o superavit comercial que a China tem com a América Latina. Qual é melhor para a região?

Siderurgia brasileira
A complementaridade é muito relevante. O Brasil compra carvão dos EUA para produzir aço, US$ 1 bilhão. O país tem siderúrgicas nos EUA, muito do que o Brasil exporta são semiacabados que depois são acabados nos EUA. O Brasil está em uma posição diferente de muitos outros países, e nós reconhecemos isso. No entanto, os EUA precisam lidar com todas as partes envolvidas [na produção global] para chegar a uma solução para um problema global (excesso de produção).

China e soja brasileira
A agricultura dos EUA é uma das melhores do mundo, tem alta produtividade com baixo custo. Vamos supor que a China imponha grandes tarifas sobre vários produtos agrícolas. Vai ser muito difícil conseguirem mudar rapidamente de fornecedor. Suprimos um terço da soja que a China compra. O Brasil é o maior fornecedor, mas, para substituir totalmente as exportações dos EUA, teria de elevar em 60% suas exportações. Se o Brasil conseguisse exportar 60% a mais, já estaria fazendo isso. Se a China parar de comprar da gente, vai aumentar o preço de alimentos no país, e alimentação é uma parcela muito maior do gasto de um chinês do que é de um americano. 

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