Público se acotovela para ver filantropo Bill Gates no FMI

Em meio a cerco contra empresas de tecnologia, fundador da Microsoft vira pop star

Bill Gates discursa em evento do FMI - AP
Estelita Hass Carazzai
Washington

Fundador da gigante Microsoft, o bilionário Bill Gates afirmou neste sábado (21) que "não é mais tão rico quanto costumava ser".

Não é exatamente verdade: nos últimos cinco anos, seu patrimônio cresceu de US$ 72 bilhões para US$ 91,3 bilhões, o que faz dele o segundo homem mais rico do mundo, segundo a Forbes —atrás apenas do americano Jeff Bezos, fundador da Amazon.

Mas Gates se notabilizou nos últimos anos pelo envolvimento com educação e saúde em países em desenvolvimento, e despontou como um "pop star" no encontro do FMI (Fundo Monetário Internacional) em Washington, na semana passada.

Em meio a um cerco inédito contra empresas de tecnologia, que vêm sendo questionadas sobre ataques à privacidade dos usuários, isenção de impostos e monopólio, ele encontrou no FMI uma plateia receptiva —e até tiete.

"Ele é um exemplo a ser seguido", disse o economista bósnio Igor Tutnjevic, 50,que carregava nos ombros o filho Oliver,11. O menino queria enxergar o fundador da empresa responsável pelo seu videogame favorito, o Xbox.

Gente de todo o mundo se engalfinhava para ouvir o bilionário. As cadeiras foram preenchidas trinta minutos antes, e até a cafeteria do mezanino, de onde se via o auditório, lotou de gente em pé.

A plateia (economistas, pesquisadores e membros de delegações estrangeiras) declarava interesse no tema do capital humano, assunto do painel --mas a curiosidade por Gates era tão grande quanto.

"Eu, sinceramente, vim por causa dele", disse o grego Fotios Stravoravdis, 24. "Achei muito inspirador."

Gates, que abandonou Harvard para fundar a Microsoft com um amigo em 1975, passou a se dedicar exclusivamente à sua fundação filantrópica em 2008, à qual doou pelo menos US$ 50 bilhões.

"Estou muito grato; estamos dando esse dinheiro de volta para o mundo", disse. "Felizmente, ainda há mais dele."

Apresentado como filantropo (e não como bilionário ou empreendedor), falou com desenvoltura sobre combate à malária e à poliomielite e sobre a correlação entre despesas com saúde e o crescimento econômico.

Defendeu investimento em pioneirismos como modificação genética de mosquitos para combater a malária. "A vantagem da filantropia é que há mais disposição para investir em programas pilotos, para correr riscos."

E falou da necessidade de se criarem indicadores mais precisos para medir o impacto de políticas públicas, como sobre o nível de aprendizado de estudantes, ou a incidência de doenças por região.

O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, que participou do painel, louvou o interesse do empresário e de sua esposa, Melinda Gates, que capitaneiam o trabalho da fundação. "Quando Bill e Melinda se envolveram, chamaram a atenção de todo o mundo, e trouxeram recursos que nunca imaginaríamos".

Monopólio

“Para mim, a Microsoft teve por muito tempo um monopólio como o do Facebook, só que na área de software, e não de mídia”, disse o chinês Lee Zeng, 29, que assistia ao painel de Bill Gates.

De fato, nos anos 1990, a Microsoft foi alvo de amplo questionamento sobre o seu virtual monopólio em PCs.

Assim como agora com Mark Zuckerberg, do Facebook, Gates foi convocado pelo Congresso americano para falar sobre o tema, e concordou em adotar medidas para facilitar o uso de softwares rivais em seus sistemas.

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