Reunião avança negociação entre Boeing e Embraer, mas nova trava surge

Para pessoa próxima do processo, negócio que cria terceira companhia está perto de ser fechado

Igor Gielow
São Paulo

Reunião realizada nesta quinta (19) em Brasília avançou na solução de entraves à parceria entre a Boeing e a Embraer, mas identificou novos problemas que podem emperrar sua finalização.

Cerimônia de entrega de jato regional E2-190 da Embraer, em São José dos Campos (SP)
Cerimônia de entrega de jato regional E2-190 da Embraer, em São José dos Campos (SP) - Roosevelt Cassio - 4.abr.2018/Reuters

O grupo de trabalho do governo ficou satisfeito com o encaminhamento da última versão da proposta da gigante americana e da fabricante brasileira, mas a questão da composição do conselho da nova empresa a ser criada por elas está espinhosa.

O negócio poderá ser anunciado em breve, caso o obstáculo seja removido. A discussão é sobre a presença de brasileiros no colegiado.

​Pela proposta, será criada uma nova empresa, com controle da Boeing e participação minoritária da Embraer. Os percentuais ainda estão sendo discutidos, mas os americanos deverão ter entre 80% e 90% da companhia.

O grande nó para o governo brasileiro, que tem poder de veto sobre negócios da empresa remanescente de sua privatização em 1994, era a área de defesa. A Embraer reterá ela e talvez o setor de aviação executiva, e havia temor sobre como ela sobreviveria sem receitas da divisão regional.

Está indicado na proposta que a nova empresa destinará recursos para a "velha" Embraer, que terá como principal cliente estratégico a Força Aérea Brasileira —com programas como o do novo caça do país, o sueco Gripen, e o do cargueiro KC-390.

Este último produto, considerado com grande potencial de exportação, hoje tem seu marketing externo a cargo da Boeing. Com o eventual acordo, ele deverá ter vendas promovidas pelos americanos, o que potencializa sua penetração dada a capilaridade dos americanos.

Hoje, a aviação regional responde por 42% das receitas líquidas da empresa, contra 15% do setor militar e 25%, da aviação executiva. 

De seu lado, se o acerto sair, a Boeing absorve a linha de produção mais bem-sucedida da Embraer, que hoje está na segunda geração dos chamados E-Jets. É uma forma de fazer frente à sua rival europeia, a Airbus, que no ano passado comprou o controle de área semelhante da canadense Bombardier —por sua vez, adversária histórica da fabricante brasileira nesse nicho de mercado.

Além disso, os americanos terão acesso à mão-de-obra brasileira na área de engenharia, considerada de alta qualidade e vital para acelerar projetos hoje algo estagnados, como a criação do substituto do Boeing-757.

Já a Embraer entra em uma das duas grandes cadeias do mercado aeronáutico, que é dividido entre Boeing e Airbus. Outros atores, como a chinesa Comac, a russa  UAC, fabricantes indianos e japoneses estão ainda engatinhando globalmente.

O negócio, o maior do gênero no Brasil se concretizado, ainda não tem números definidos. A Boeing é uma empresa que fatura US$ 90 bilhões ao ano, empregando 100 mil pessoas, contra US$ 6 bilhões e 19 mil funcionários da Embraer. 

Ele começou a ser aventado em dezembro passado, quando vazou na imprensa americana a intenção da Boeing de comprar toda a Embraer. A reação inicial do presidente Michel Temer (MDB), aconselhado pela área militar das implicações estratégicas da perda de controle sobre a área de defesa da Embraer, foi a de dizer que não permitiria a perda de controle nacional da empresa.

Mas Temer não se opôs à negociação. Ordenou a formação de um grupo técnico para negociar os termos, e depois de idas e vindas chegou-se ao formato final em discussão.

Boeing, Embraer e governo não comentaram o caso nesta quinta.

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