Spotify tem 3ª melhor abertura de capital na tecnologia

Empresa termina dia de estreia valendo US$ 25 bi

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Números de abertura da Spotify na Bolsa de Nova York - Bryan R. Smith/AFP
Nova York

Na ressaca do escândalo do Facebook e com a Amazon agora na mira do presidente americano Donald Trump, o Spotify decidiu vender suas ações na Bolsa de Nova York num momento de grande apreensão no Vale do Silício.

Mas a turbulência não impediu que o aplicativo de streaming de músicas tivesse uma das maiores ofertas iniciais da história desse setor, chegando a uma capitalização de US$ 25 bilhões, muito acima dos US$ 20 bilhões esperados antes da operação.

Horas antes do início do pregão, a ação da empresa estava avaliada em US$ 132, mas acabou fechando o dia a US$ 149,01, tendo atingido antes um pico de US$ 168,48.

O processo também foi atípico. Em vez de realizar uma oferta pública inicial de ações nos moldes tradicionais, que envolve a emissão de novos papéis e o respaldo de grandes instituições financeiras, o Spotify fez uma listagem direta dos papéis já existentes.

Isso significa que acionistas podiam vender ações a partir da estreia da empresa na Bolsa, o que explica a demora para a precificação e a flutuação dos valores --os papéis só começaram a ser vendidos a US$ 165,90 mais de três horas depois da abertura do mercado em Nova York.

Mesmo incomum e considerada bastante arriscada pelos analistas, a estratégia não decepcionou os acionistas.

No ranking das empresas de tecnologia na Bolsa de Nova York, o desempenho só ficou atrás do Alibaba, a gigante chinesa de comércio online, que registrou US$ 234 bilhões na abertura, e do Facebook, com US$ 82 bilhões.

Mas o futuro é duvidoso para o Spotify, uma empresa que nunca registrou lucro desde sua criação há 12 anos.

Isso porque o grosso de seu faturamento, estimado em US$ 5 bilhões ao ano, acaba nas mãos das gravadoras que detêm os direitos autorais sobre as 35 milhões de músicas disponíveis em seu catálogo.

Nesse sentido, analistas veem o aplicativo como investimento mais arriscado que outras plataformas do mesmo ramo, como a Netflix -- empresa de TV sob demanda, que, diferentemente do Spotify, produz conteúdo.

Outro perigo são os concorrentes. O aplicativo sueco é líder em streaming de músicas, mas disputa espaço com Apple, Google e Amazon.

E, ao contrário do Spotify, essas firmas podem se arriscar mais, já que dominam outros mercados lucrativos e podem reagir a abalos.

De ameaça, empresa vira parceira de gravadoras

Quando caminha pelas ruas de Estocolmo, Daniel Ek, 35, costuma puxar o chapéu na frente do rosto para não ser reconhecido. Mas fugir dos holofotes vai ficar cada vez mais difícil para esse empresário que inventou o Spotify.

O criador do aplicativo de música que acaba de listar ações na Bolsa de Nova York já tinha a fama de revolucionar a indústria fonográfica, mas o mercado agora deve examinar com lupa as estratégias do empresário sueco.

Fundador e presidente-executivo do Spotify, Daniel Ek - Don Emmert / AFP

Em 12 anos, o Spotify deixou de ser a maior ameaça para se tornar talvez o maior parceiro das gravadoras, cortejadas por Ek desde o início para entrar na plataforma de streaming com seus artistas.

Desde que criou a empresa, o executivo descrito por muitos como o típico nerd travou longas negociações para mudar o comportamento dos chefões da indústria musical, que viu seu faturamento encolher quase à metade desde a virada do milênio.

Queria que aceitassem um modelo de negócios que, ao que tudo indica, veio para ficar. E o ponto sobre o qual nunca abriu mão era manter o serviço gratuito para usuários que não se importassem em ouvir alguns comerciais.

ATRAÇÃO

Mesmo rendendo menos para a plataforma e os artistas que cedem suas faixas para tocar ali, a ideia de oferecer o serviço de graça para alguns atrai bem mais usuários.

O Spotify, com 35 milhões de canções em seu catálogo, tem 159 milhões de clientes, dos quais 71 milhões pagam para ter o serviço.

Em encontros com investidores às vésperas da oferta dos papéis na Bolsa, Ek vinha defendendo o que faz no Spotify como um "trabalho árduo para ajudar 1 milhão de artistas a viver da arte que fazem".

Mesmo que pareça meio utópico, o empresário talvez se enxergue nos artistas que quer ajudar. Na adolescência, Ek tocava violão e criava softwares para ganhar dinheiro.

O sucesso do Spotify na Bolsa pode ainda detonar uma onda de novas aproximações entre Ek, músicos e investidores, que enxergam dólares e mais dólares no logo esverdeado da plataforma.

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