Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Transportadora pode ser multada em até R$ 9,2 milhões por bloqueios, segundo AGU

Pelo país, manifestantes começam a deixar rodovias; alguns tiveram apoio de escolta policial

São Paulo e Brasília

A AGU (Advocacia-Geral da União) encaminhou ao STF (Supremo Tribunal Federal) lista com 96 transportadoras suspeitas de descumprir a ordem de liberação das estradas durante a paralisação dos caminhoneiros. Pelo país, manifestantes começaram a deixar os pontos de mobilização, apesar de ameaças e pressão.

O ministro do Supremo Alexandre de Moraes havia imposto, na sexta-feira (26), multa de R$ 100 mil por hora para o descumprimento da decisão de desobstruir as vias.

A AGU cobra agora o pagamento de multas no total de R$ 141,4 milhões.

O valor resulta das fiscalizações realizadas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal). Os dados foram enviados à AGU nesta terça-feira (29).

De acordo com o órgão federal, foram constados flagrantes nas BRs 282, 116, 101, 230, 040, 050, 226 e 364, em 12 municípios de oito estados.

A AGU informou ao Supremo as placas dos veículos e CNPJ das transportadoras. As multas variam de R$ 400 a R$ 9,2 milhões.

Enquanto o governo amplia o cerco judicial contra a paralisação, que chega do décimo dia, caminhoneiros começaram a rodar.

Pela manhã, no km 162 da via Dutra, em São Paulo, houve bate-boca após um grupo reclamar de cansaço e dizer que quer ir embora. Alguns caminhões e veículos de menor porte conseguiram sair.

Uma carreta que tentou deixar o acampamento às margens da rodovia foi cercada por um grupo que batia na lataria do baú e gritava palavrões para o condutor.

Dois homens com tijolos na mão ameaçaram o motorista de um caminhão que passava pela via e iria desrespeitar a ordem de parada. Não houve danos.

A dispersão começou no meio da manhã. "Dormir no caminhão até vai, mas eu estou passando as noites numa Fiorino há uma semana", reclamou um homem.

Outros participantes insistiam para que a paralisação continue. Um deles disse que não quer "voltar para casa com a cabeça baixa, feito um covarde, sem atingir os objetivos".

Logo depois, agentes da PRF passaram pelo local aconselhando os manifestantes a liberar os motoristas que querem ir embora.

 

O clima de divisão, então, ficou mais intenso, com discussões entre os que defendem a permanência e os que querem abandonar o protesto.

"É isso que eles [autoridades] querem, dar um xeque-mate e acabar com a nossa união no final", protestou um motorista. Nesse momento, alguns motoristas conseguiram sair do acampamento.

Por volta das 14h30, a Polícia Militar chegou à Dutra para escoltar caminhoneiros que quiseram deixar o acampamento.

Motoristas que não quiseram se identificar disseram que quem tentava deixar o local estava sendo hostilizado. Um caminhão passou pelo local com pneus furados.

Alguns caminhões usaram a escolta para deixar o local, sob aplausos de uns e gritos de "covarde" de outros.

A PM diz que está fazendo a escolta somente no trecho perto de Jacareí.

Às 16h40, a PM afirmou que mais de 20 caminhões haviam deixado o local.

Os manifestantes que estão no km 280 da Régis, Embu das Artes (Grande SP), um dos pontos em que foram aplicadas multas da AGU, se mostram mais resistentes.

Eles evitam dar entrevistas e falam apenas sob anonimato. Muitos dizem ter medo de serem apontados como líderes e depois serem presos. No grupo há caminhoneiros que dizem querer deixar a greve, principalmente entre motoristas de veículos de pequeno porte.

No fim da manhã, a informação de que o governador Márcio França (PSDB) teria chegado a um acordo com os caminhoneiros foi recebida com ceticismo.

Em outros locais do país, o policiamento agiu para retirar das manifestações pessoas que não eram caminhoneiros, diz o governo. O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Sérgio Etchegoyen, informou que sete infiltrados foram presos no Maranhão.

Segundo ele, foram detidos por ação criminosa e houve a necessidade de emprego de força pela PRF e pelas Forças Armadas também no Piauí e no Acre.

O ministro fez a declaração após reunião, no Palácio do Planalto, de acompanhamento da situação da crise de desabastecimento de combustíveis e de alimentos.

"As manifestações políticas estão acontecendo em núcleos urbanos. Então, temos de tratar e estamos tratando desse assunto para não obstruir as conversas com os caminhoneiros", disse.

Segundo ele, o cenário desta terça é melhor do que o da segunda-feira (28), com a redução do número de bloqueios nas rodovias.

O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse também que a previsão do governo federal é que um desconto de R$ 0,46 no preço do óleo diesel chegue até o fim desta semana às bombas dos postos de gasolina.

Gustavo Uribe, Talita Fernandes , Joelmir Tavares , Julia Alves , Sheila Vieira e Gustavo Fioratti
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