Andrade Gutierrez deixa de pagar US$ 345 mi e nota é rebaixada pela Fitch

Agência de classificação de risco considera baixa a liquidez da companhia

Reforma do Beira Rio, em Porto Alegre, obra conduzida pela Andrade Gutierrez
Reforma do Beira Rio, em Porto Alegre, obra conduzida pela Andrade Gutierrez
São Paulo

A construtora Andrade Gutierrez, uma das maiores empreiteiras do país e implicada na Operação Lava Jato, deixou de pagar US$ 345 milhões em títulos emitidos no exterior que venceram na segunda-feira (30) e viu suas notas de créditos serem rebaixadas pela agência de classificação de risco Fitch.

Os ratings de probabilidade de inadimplência do emissor (IDR) de longo prazo em moeda estrangeira e local da Andrade Gutierrez Engenharia (AGE) foram de "B-" (altamente especulativo) para "RD" (inadimplência restrita). Procurada, a Andrade Gutierrez ainda não se manifestou. 

Os IDRs apontam a vulnerabilidade de uma entidade à inadimplência em relação às suas obrigações financeiras. 

O patamar "B" indica significativo risco de inadimplência, porém com uma limitada margem de segurança. Nele, os compromissos financeiros continuam sendo honrados, mas a capacidade de se continuar efetuando pagamentos é tida como vulnerável.

Já o rating "RD" indica para a Fitch que o emissor está inadimplente no pagamento não resolvido de um bônus, empréstimo ou outra importante obrigação financeira, mas que não entrou legalmente em processo de recuperação judicial, intervenção administrativa, liquidação ou encerramento formal ou que não encerrou suas atividades. 

A Fitch afirma que a liquidez da Andrade Gutierrez tem sido baixa em relação a suas obrigações de dívida, o que impediu a construtora de amortizar os vencimentos de títulos no exterior. A agência diz que a construtora deixou de pagar US$ 500 milhões devidos a credores que adquiriram títulos emitidos por ela no exterior, mas já comprou de volta do mercado US$ 155 milhões.

A companhia alega, de acordo com a Fitch, que está em fase final de negociação para um novo empréstimo que seria usado para amortizar títulos. Mas o negócio esbarrou na decisão do TCU (Tribunal de Contas da União), que decretou na quarta (25) o bloqueio de R$ 508,3 milhões em bens da empresa por suspeitas de superfaturamento no contrato de obras civis da usina nuclear de Angra 3, no Rio.  

A Fitch também rebaixou as notas seniores sem garantia da Andrade Gutierrez Internacional de "B-" para "C".

A agência diz que um histórico de serviço da dívida em linha com o cronograma original de vencimento para obrigações de dívidas futuras pode resultar em uma ação de rating positiva.

"A Fitch rebaixaria o rating da AGE para 'D' em caso de pedido de falência, administração, liquidação judicial, liquidação, outro procedimento formal de liquidação ou se ela deixasse de operar."

A Moody's, outra agência de classificação de risco, também emitiu nota sobre a situação, embora não tenha mexido nas notas da Andrade Gutierrez.

Segundo a Moody's, uma vez concluída, a transação de financiamento permitira o pagamento integral das notas seniores sem garantia com vencimento em 2018 emitidas pela AG International e garantidas pela AGE.

"Se a transação não for concluída com sucesso, é altamente improvável que a AGE possa pagar os títulos usando suas fontes internas", disse a agência.

A Moody's afirmou que implicações de classificação dependerão da avaliação da severidade das perdas para os credores.

A agência ressalta que, no fim de setembro de 2017, a AGE tinha US$ 190 milhões (R$ 665 milhões) em caixa em seu balanço, o que representaria apenas 55% do montante em circulação das notas que venceram na segunda. 

"Estimamos que pelo menos uma parte desse caixa tenha sido consumida devido à geração de fluxo de caixa livre negativo da empresa na ordem de cerca de R$ 250 milhões por trimestre. A redução adicional provavelmente foi mitigada pelos esforços de venda de ativos do grupo, que até agora arrecadaram cerca de R$ 750 milhões em recursos."

 
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