Após homicídio, 'Uber chinesa' estuda gravar conversas entre motorista e passageiro

Didi Chuxing deixou de fornecer aos motoristas dados de passageiros após o homicídio de uma cliente

Logo da Didi Chuxing no México
Logo da Didi Chuxing no México - Carlos Jasso/Reuters
Yuan Yang
Pequim | Financial Times

O serviço de carros dominante na China, Didi Chuxing, anunciou em comunicado na quarta-feira (16) que estava considerando gravar os diálogos acontecidos em todas as corridas de seus carros, como forma de mediar melhor as disputas entre motoristas e passageiros.

A empresa, que adquiriu as operações da rival americana Uber na China e se tornou sua maior concorrente mundial, deixou de fornecer aos seus motoristas os dados pessoais de passageiros que usam o serviço de caronas da empresa, Didi Hitch, depois do homicídio de uma passageira.

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A mudança nas normas da Didi surgiu depois que sua concorrente internacional Uber também anunciou que mudaria a maneira pela qual lida com acusações de delitos sexuais, por conta de uma onda de acusações de agressão contra seus motoristas.

A Didi suspendeu o uso do serviço Hitch na semana passada e está conduzindo uma revisão interna, depois do homicídio de uma passageira quando estava usando o serviço, no dia 6 de maio. A polícia da cidade chinesa de Zhengzhou anunciou em comunicado que o motorista do serviço, identificado como senhor Liu, era suspeito do homicídio.

A polícia encontrou o corpo da vítima, identificada apenas como Li, que trabalhava como comissária de bordo e tinha 21 anos. Policiais também encontraram o corpo do motorista nas águas de um rio, e afirmam ter imagens de câmeras de vigilância que o mostram se jogando no rio.

O pai de Li disse a veículos locais de imprensa que suspeitava que sua filha houvesse sido estuprada, depois de ouvir detalhes sobre a autópsia.

Nem a polícia e nem a empresa revelaram o nome completo da vítima.

O objetivo da Didi com o serviço Hitch era permitir que pessoas encontrassem caronas para seus percursos diários e fizessem amigos. Mas a empresa estava sendo criticada online, depois que a imprensa reportou que motoristas homens usavam os recursos de mídia social do app para avaliar os atrativos sexuais das passageiras. Os motoristas tomavam decisões sobre que passageiras transportar com base nessas avaliações.

A companhia decidiu remover "todos os recursos de classificação personalizada" do Hitch e retirar as fotos e informações pessoais, como o sexo do usuário, dos perfis públicos de seus usuários.

De acordo com o jornal The Paper, da cidade de Zhengzhou, Li enviou uma mensagem de texto a uma amiga dizendo que o motorista estava se comportando de modo "pervertido". Na mensagem, ela dizia que "ele me contou que quer me beijar. Por sorte, não estou sentada na frente", escreveu Li, em mensagens reproduzidas por captura de tela.

A companhia também vai obrigar todos os motoristas em todas as suas plataformas a confirmar suas identidades todos os dias, passando por teste de verificação facial, antes de permitir que que dirijam para a companhia. Os motoristas do Hitch terão de passar por verificação de identidade antes de cada corrida.

A Didi disse que suspeitava que o acusado pelo homicídio, Liu, estava usando a conta de seu pai para dirigir - uma violação das normas da empresa. A conta que Liu estava usando já havia sido alvo de uma queixa de abuso sexual verbal, antes do homicídio. A companhia não tomou providências quanto à queixa, depois de tentar contato por cinco vezes com o responsável pela conta, sem sucesso, de acordo com informações fornecidas pela Did.

"Devido a imperfeições nas regras de arbitragem da plataforma, a queixa não foi tratada de maneira apropriada, nos dias posteriores à sua recepção", escreveu a Didi."Nosso mecanismo original de segurança noturna apresentou um defeito e o sistema de reconhecimento facial noturno não foi acionado antes que o motorista recebesse o pedido da corrida", acrescentou a empresa.

A companhia solicitou sugestões do público quanto a adotar um sistema de gravação de voz em todas as suas corridas, com o consentimento dos usuários, e lhes perguntou se deve rejeitar todos os motoristas condenados por delitos criminais, mesmo que não violentos. 

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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