BC decreta liquidação extrajudicial do Banco Neon

Autoridade monetária encontrou irregularidades na instituição financeira

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Pedro Conrade, presidente da Neon Pagamentos, que usava o Banco Neon para operar
Pedro Conrade, presidente da Neon Pagamentos, que usava o Banco Neon para operar - Rafael Roncato - 22.jan.2018/Folhapress
Brasília e São Paulo

 Banco Central decretou liquidação extrajudicial do Banco Neon, com sede em Belo Horizonte (MG), e as contas de clientes da instituição financeira foram bloqueadas até que um levantamento inicial dos saldos seja realizado.

Os donos das contas-correntes do Neon serão totalmente restituídos, segundo o BC. Após a verificação inicial, os valores serão ressarcidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos) em um prazo de sete a dez dias, segundo estimativa da autoridade monetária.

O Banco Neon foi criado em 2016 a partir de uma associação entre a fintech de meios de pagamentos Contro.ly, que passou a se chamar Neon Pagamentos, e o Banco Pottencial. Logo depois do comunicado desta sexta, o Banco Central precisou esclarecer que a intervenção se referia à instituição financeira, e não à fintech, que usava os serviços do banco para operar.

O Banco Central informou que estão sendo analisadas mil contas do Banco Neon. O Neon Pagamentos afirma ter 600 mil contas de pagamento, que não estariam submetidas a essa verificação do BC. A Folha apurou, no entanto, que a maior parte das 600 mil contas estaria inativa ou teria valores baixos. Uma parcela também seria formada por cartões.

O Neon Pagamentos diz que os cartões pré-pagos de seus clientes poderão ser usados no débito, mas recargas e novas emissões ficam suspensas enquanto a fintech não encontra outro banco parceiro.

É a primeira vez que um banco com contas digitais sofre liquidação extrajudicial do BC.

Os problemas encontrados no Banco Neon vão desde patrimônio líquido negativo a graves violações a normas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A instituição precisaria de pelo menos R$ 23 milhões a mais no patrimônio líquido para alcançar o mínimo exigido pelo BC. Além disso, teria feito contabilização incorreta de ativos e deixado de reconhecer passivos.

Um dos problemas encontrados foi a "deficiência de controle e monitoramento de lavagem de dinheiro". De acordo com fonte da autoridade monetária, o banco cometeu violações que comprometeram a relação de confiança com o regulador. Ou seja, envolvem suspeita de má-fé.

O Neon tem no financiamento a pequenas e médias empresas sua principal atividade, e possui menos de 20% do Neon Pagamentos.

O banco possui menos de mil contas digitais, com depósitos que variam entre R$ 50 e R$ 100, segundo o BC. Os ativos do banco totalizam R$ 200 milhões, dos quais 12,5% são referentes a contas digitais e cartões pré-pagos.

Desde esta sexta, o banco está com operações suspensas e administradores afastados.

Segundo o BC, os ativos do Neon serão vendidos com o objetivo de ressarcir credores, como dívidas trabalhistas e com o Fisco, por exemplo. O Banco Central informou ainda que os bens dos controladores e ex-administradores do Neon ficam indisponíveis.

O Neon Pagamentos, segundo o BC, não cometeu nenhuma irregularidade e, portanto, não está sob intervenção. Um dia antes de a liquidação ser anunciada, a empresa havia anunciado a captação de R$ 72 milhões em uma rodada de investimentos.

De acordo com a autoridade monetária, a fintech está livre para fechar parceria com outro banco e para usar os recursos que captou no mercado.

p(inter). 'É chato banco parceiro fazer uma besteira dessas', diz fundador

O fundador da fintech Neon Pagamentos, Pedro Conrade, lamentou a decisão de ter adotado o mesmo nome do Banco Neon.

Para manter contas de pagamento para seus clientes, a fintech precisa de parceria de uma instituição financeira autorizada pelo Banco Central.

"É super chato. Estamos fazendo um ótimo trabalho e um banco que usamos faz uma besteira dessas", afirmou, em entrevista à Folha, poucas horas depois de saber da intervenção do BC na instituição financeira.

A Contro.ly, fintech de Conrade, trocou de nome ao fazer uma parceria com o então Banco Pottencial, em 2016, e acabou adotando o mesmo nome da financeira.

"A marca Neon pertence ao Neon Pagamentos. Emprestamos ao Banco Neon durante o período do acordo operacional entre as empresas, para não gerar confusão entre os clientes. Se hoje tivesse dois nomes, nada desse furacão estaria acontecendo", afirma.

O fundador da fintech diz que nem ele como pessoa física, nem o Neon Pagamentos têm participação acionária no Banco Neon. Porém, os três sócios do banco --Argeu de Lima Géo, Carlos Géo Quick e João de Lima Géo Filho-- investiram como pessoa física no Neon Pagamentos. "Eles investiram há dois anos, assim como mais de 20 investidores-anjo na época. O dinheiro saiu do bolso deles, não teve nada a ver com o Banco."

Segundo Conrade, os 600 mil clientes que o Neon Pagamentos possui não serão afetados pela liquidação extrajudicial do Banco Neon. Ele diz que os clientes podem fazer pagamentos no débito, mas transferências e pagamentos de contas estão bloqueados até que a fintech ache outro parceiro autorizado a fazer essas transações.

"O mais importante é resolver logo isso. Não temos nenhuma preocupação em relação a achar um banco parceiro, deve ter umas 300 mensagens de apoio, de donos de empresas, de bancos, pessoas do mercado. Eles sabem que somos sérios, não fizemos nada de errado. Tem muita gente se oferecendo para suportar a operação", diz.

O empresário diz ter interesse em tornar o Neon Pagamentos um banco no futuro, para ter mais controle sobre a operação e evitar que problemas como esse se repitam.

"Trouxemos sócios espetaculares, gente de primeira linha. A gente está plenamente confiante. Empreender não é fácil, tem suas dificuldades."

A fintech, que tinha lançado cartão de crédito há três semanas, informou que cancelou as transações com esse meio de pagamento por causa da confusão.

Entenda a intervenção do Banco Neon. 

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