Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Caminhoneiro tem princípio de infarto em ato, mas continua ativo no WhatsApp

Do hospital, Aguinaldo José de Oliveira pede a colegas de protestos que não desistam

Thaiza Pauluze
São Paulo

​Parado na avenida Anhanguera, em Campinas, o caminhoneiro Aguinaldo José de Oliveira, 39, deixou o protesto da categoria e foi parar no hospital neste sábado (26).

Ele teve um princípio de infarto depois de um período de estresse —que incluiu a emoção, segundo dele, de ver um grupo de 30 adolescentes apoiando a manifestação.

“Escutei a voz da criançada cantando gritos de guerra e me emocionei muito. A gente está nessa luta por causa deles”, conta o caminhoneiro, que tem um filho de cinco anos.

Foto do caminhoneiro Aguinaldo José de Oliveira, 39, com a família na boleia do caminhão. Ele teve um princípio de infarto em ato durante a paralisação da categoria, em Campinas
O caminhoneiro Aguinaldo José de Oliveira com a família na boleia do caminhão, em foto de arquivo - Arquivo pessoal

Do hospital, avisou aos amigos motoristas nos grupos de WhatsApp: "Pessoal, eu não posso ir pra rua, estou internado, mas confio na força de vocês".

Aguinaldo já tinha sofrido um ataque cardíaco há cerca de um mês e não poderia ter se submetido a situações de estresse. O médico atribuiu o colapso às agruras da estrada: o motorista tomava "rebite" (droga comumente usada para se manter acordado) e viajava até 60 horas seguidas. Também se alimentava mal e fumava, outros hábitos comuns na vida nas boleias.

O "rebite" e o cigarro Aguinaldo conseguiu abandonar, mas não a profissão estressante que tem há 22 anos. “A gente está exposto a assaltos, aos acidentes e ao caminhão quebrar no meio da estrada.” Contra a violência, Aguinaldo ampliou o seguro, que agora cobre o veículo e a carga (de mudanças residenciais). O motorista também já sofreu um acidente, por cochilar ao volante. E conta que já esperou 12 dias por conserto na beira de uma rodovia.

Ele não concordou com o acordo feito por entidades com o governo, que tem 12 itens "que a gente nem entende”, assinado por “uns sindicatos que nunca vieram falar com os motoristas”. A principal reivindicação é a redução do óleo diesel, ele diz, mas “não essa esmola temporária de 15 centavos”.

De Campinas a Fortaleza, por exemplo, o caminhoneiro calcula gastar cerca de R$ 3.600 só com combustível. Outra quantia se soma nos pedágios, que ele chama de injustos. “Na Fernão Dias [que liga São Paulo a Belo Horizonte] são 585 km de rodovia e os pedágios custam R$ 18. Na Washington Luiz [entre Limeira e São José do Rio Preto] são 304 km e os pedágios somam R$ 60.”

Sem poder voltar à beira da pista para protestar, Aguinaldo seguiu dando instruções pelo WhatsApp. Os caminhões que estão nas rodovias, escreve, "têm que sair e parar em locais fora do eixo de rodagem e também do acostamento. Não adianta querer bater de frente com as forças policiais".

Após o acordo feito entre oito entidades da categoria e o Governo Federal não garantir o arrefecimento dos bloqueios, o presidente Michel Temer (MDB) determinou que as Forças Armadas retirem os veículos das rodovias.

Mas, segundo Aguinaldo, se os carros continuarem parados em postos de combustível, o desabastecimento vai segurar a greve. Só que muitos vão se aproveitar do acordo para deixar o movimento, alerta ele. "Nós queremos a mudança do país e não podemos desistir. Parem no próximo posto, fora da pista e do acostamento."

No aplicativo de mensagens, o caminheiro pede que os motoristas mandem vídeos e áudios atuais de cada ponto de paralisação para mostrar "a realidade e desmentir o que a mídia está passando na TV".

E termina com um apelo: "Vamos fazer esse cara [Michel Temer] pedir a renúncia. Não vamos desistir, pessoal. A luta é de todos e para todos".

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