Um homem de idade com uma boina e um olhar de reprovação manda o recado do governo brasileiro: "Você por acaso é sócio da Eletrobras? Preço justo já!".
O anúncio, publicado nas páginas do Ministério de Minas e Energia em redes sociais, parece culpar a maior empresa de energia do país, controlada pelo Estado, pela disparada das tarifas de eletricidade nos últimos anos.
A campanha, divulgada em um momento em que o governo tenta privatizar a Eletrobras, gerou revolta do representante dos empregados no conselho de administração da companhia e reações contrárias de especialistas.
"Eu fico impressionado com a falta de informação... a Eletrobras foi sacrificada para que não tivéssemos tarifas muito maiores do que estão", disse o consultor Roberto Pereira D'Araújo, do Instituto Ilumina, ex-conselheiro de Furnas, subsidiária da Eletrobras no Sudeste e Centro-Oeste.
A peça publicitária do governo sobre a estatal diz que o consumidor "sempre paga caro pela energia" e cita as bandeiras tarifárias, que elevam o valor da conta de luz quando a geração das hidrelétricas é menor --em épocas de pouca chuva, por exemplo.
"Com a modernização da Eletrobras, essa história de mudar a cor da bandeira vai acabar", promete a campanha.
A afirmação, porém, soa estranha porque o acionamento das bandeiras tarifárias é atribuição da Aneel (agência reguladora), assim como a definição das tarifas, diz a professora FGV e ex-diretora do órgão regulador, Joísa Dutra.
"Fiquei um pouco surpresa porque uma pessoa desavisada pode ser levada a entender errado", disse a especialista, que defende a privatização.
Procurada sobre o assunto, a Aneel afirmou que não vê relação entre a privatização da Eletrobras e as bandeiras tarifárias. Disse ainda que a revisão do sistema de bandeiras é anual e independe do processo de desestatização.
A economista Elena Landau, que presidiu o conselho de administração da Eletrobras e também é a favor da privatização, concorda com as críticas. "A propaganda está obscura, é difícil de entender a mensagem. [O governo] está perdendo uma oportunidade de explicar melhor os mitos e verdades da privatização", afirmou.
Procurado, o Ministério de Minas e Energia não comentou. A Eletrobras disse que não iria se pronunciar sobre a campanha do governo.
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