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Desvalorização do peso argentino pode indicar crise de emergentes

Mesmo com alta nos juros, que bateram 40%, investidores vem fugindo da moeda

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Benedict Mander Jonathan Wheatley
Londres e Buenos Aires | Financial Times

Atacado tanto pela direita quanto pela esquerda, e pressionado pelos mercados, o presidente argentino Mauricio Macri apelou aos eleitores e investidores da Argentina que mantenham a confiança em sua abordagem gradual quanto à reforma econômica.

“Escolhemos esse caminho da mudança gradual para que argentino algum ficasse para trás”, disse Macri, em discurso na Patagônia. “A outra opção seria um ajuste via choque”.

Mas desde então, na semana passada, os investidores vêm fugindo do peso, apesar de três elevações consideráveis na taxa de juros pelo banco central argentino e dos mais de US$ 5 bilhões injetados no mercado para sustentar a cotação do peso, que agora é a moeda de pior desempenho entre os países de mercado emergente, neste ano. 

O peso despencou em quase 8% ante o dólar na quarta (2) e quinta-feira (3).

A abordagem gradual de Macri não conseguiu dissipar as preocupações quanto à disparada no déficit argentino em conta corrente, a inflação alta e o déficit orçamentário substancial, em um período no qual os países emergentes sofrem pressão por conta da força do dólar e da alta nas taxas de juros dos EUA.

 

A questão que muitos investidores tentam resolver atualmente é se a Argentina é um caso excepcional ou se serve como indicador sobre os mercados emergentes, grandes beneficiários dos anos de política monetária frouxa nos Estados Unidos, que estão chegando ao fim.

Depois de anos de governo populista sob os peronistas, Macri colocou a Argentina em um programa de mudanças nos impostos, aposentadorias e subsídios. Mas para minimizar o sofrimento, ele tentou implementar as reformas lentamente —além de recorrer aos mercados internacionais de títulos de dívida para manter ou expandir programas sociais dispendiosos.

“Isso só pode acabar mal”, afirmou Javier Milei, economista que argumentou que, em 70 anos, nenhuma reforma econômica gradual funcionou na Argentina.

Apesar da lenta redução do déficit fiscal primário do país e das meta orçamentária mais rigorosas, Milei afirma que as mais recentes crises argentinas, incluindo o colapso total da economia em 2001, estouraram em momentos de déficit fiscal agregado menor que o atual. 

Em 2001, o déficit fiscal consolidado do país era de cerca de 7%. Hoje, Milei disse que ele excede os 9%, se incluída a dívida do banco central. 

Um dos motivos é o alto custo dos pagamentos de juros.

O governo de Macri captou mais de US$ 100 bilhões em moedas estrangeiras —valor superior ao captado por qualquer outro país de mercado emergente nos dois últimos anos.

As políticas do presidente também alargaram o déficit do país em conta corrente, que e, 2017 dobrou, para US$ 30 bilhões, o equivalente a cerca de 5% do PIB.

A Argentina também vem sendo afetada por fatores que incidem igualmente sobre outros países emergentes.

Diante de uma volatilidade maior, de um dólar mais forte e de uma alta nas taxas de juros, “os investidores passaram a ser muito mais seletivos quanto aos mercados emergentes”, afirma Sonja Gibbs, diretora sênior do Instituto de Finanças Internacionais de Washington, uma associação setorial.

Os números do instituto demonstram que investidores estrangeiros adquiriram apenas US$ 300 milhões em títulos de países de mercado emergente em abril, ante mais de US$ 39 bilhões no primeiro trimestre.

Tradução de Paulo Migliacci

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