Descrição de chapéu dólar câmbio copom

Dólar encosta em R$ 3,74 e tem maior valorização semanal em um ano

Em dia de forte instabilidade, negociação de títulos públicos é suspensa e Bolsa recua 0,7%

Expectativa de alta de juros nos Estados Unidos provocou turbulências no mercado nesta semana
Expectativa de alta de juros nos Estados Unidos provocou turbulências no mercado nesta semana - AP
Danielle Brant
São Paulo

A tentativa do Banco Central de sinalizar que está atento às turbulências internacionais falhou em acalmar os investidores pelo segundo dia.

A sexta-feira (18) foi de forte instabilidade no mercado financeiro brasileiro, com o dólar indo a R$ 3,77, a Bolsa recuando mais de 2% e as negociações com títulos públicos sendo interrompidas pela grande volatilidade.

No sexto dia de alta, o dólar comercial subiu 1,05%, para R$ 3,739, no maior nível desde 15 de março de 2016 (R$ 3,764).

Foi a quarta semana de apreciação do dólar: a valorização foi de 3,86%, a maior desde a encerrada em 19 de maio de 2017, quando vazou a notícia do vazamento da delação do empresário Joesley Batista, do grupo JBS. Naquela semana, a moeda americana subiu 4,22%.

O dólar à vista, que fecha mais cedo, subiu 1,2%, para R$ 3,745. Na semana, a alta foi de 4,22%.

No mundo, a  moeda americana subiu ante 23 das 24 principais divisas emergentes na semana e ficou estável apenas em relação ao dólar de Hong Kong.

As turbulências afetaram a Bolsa brasileira, que recuou 0,65%, para 83.081 pontos. A desvalorização semanal foi de 2,51%. 

Outros mercados também sentiram a instabilidade. As negociações no Tesouro Direto ficaram suspensas entre 9h50 e 15h30, por causa da volatilidade elevada dos juros dos títulos públicos.

O CDS (credit default swap, termômetro do risco-país) avançou 4,36%, a 202,7 pontos, no maior nível desde setembro do ano passado. 

Na semana, o Brasil foi o quarto país que mais viu seu risco-país subir em uma relação com 46 emergentes. Ficou atrás de Líbano, Turquia e África do Sul. Ao todo, 35 emergentes viram seu CDS aumentar nos últimos cinco pregões.

A velocidade do avanço do dólar em relação ao real levantou questionamento entre os investidores sobre a necessidade de uma atuação maior do Banco Central para conter a alta da moeda americana.

Desde que o dólar começou a ganhar força no Brasil, o BC ampliou sua atuação no câmbio, oferecendo novos contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) para atender empresários e investidores em busca de proteção contra a oscilação da moeda.

O Banco Central também diminuiu a rolagem diária dos contratos que vencem em junho, para estender o período de liquidez ao mercado. A principal sinalização de que o Banco Central estava atento à variação cambial foi a manutenção da taxa Selic em 6,5% ao ano.

Mas, pela escalada do dólar nessa semana, houve dúvidas se essas intervenções seriam suficientes. 

"Começou esse efeito [de alta] na quinta, depois do Copom. O mercado se baseou, por uma entrevista do Ilan [Goldfajn, presidente do BC] à TV, em um corte de juros, que não aconteceu", disse Ivan Kaiser, analista da Garín Investimentos. "O efeito disso na curva curta de juros é muito grande."

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados subiram pelo segundo dia. O DI com vencimento em julho de 2018 avançou de 6,407% para 6,422%. O DI para janeiro de 2019 subiu de 6,600% para 6,695%.

Carlos Antonio  Rocca, diretor do Cemec-Fipe (Centro de Estudos do Mercado de Capitais), também diz que a comunicação do Banco Central poderia ter sido mais clara. " A comunicação sinalizava que ia continuar baixando os juros. Houve uma frustração de expectativa do mercado", afirma.

"Mas o BC avaliou objetivamente que o disparo do dólar era um fato novo em relação à última reunião, e também considerou a crise na Argentina."

Depois do fechamento do mercado, o BC anunciou novo aumento da atuação no câmbio. A partir de segunda (21), passará a oferecer 15 mil contratos adicionais de swap cambial no leilão realizado entre 9h30 e 9h40. 

Em nota, a autoridade monetária disse ainda que sua atuação no mercado cambial é separada da política monetária. 

"O Banco Central reitera que eventuais impactos de choques externos sobre a política monetária são delimitados por seus efeitos secundários sobre a inflação (ou seja, pela propagação a preços da economia não diretamente afetados pelo choque). Esses efeitos tendem a ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas e projeções de inflação ancoradas nas metas."

Maior fator de pressão sobre o dólar nas últimas sessões, o rendimento dos títulos de dívida americana recuou nesta sessão. Depois de superar 3,11% na quinta-feira, caiu para 3,06% nesta sessão. 

O aumento do rendimento de títulos americanos torna esses ativos, considerados seguros, mais atrativos para o investidor do que papéis de emergentes como o Brasil, mais arriscados e que estão pagando menos juros do que há um ano. E a reação é retirar dinheiro dessas economias, o que provoca a valorização do dólar.​

AÇÕES

A Bolsa brasileira teve o segundo dia de queda. Das 67 ações do Ibovespa, 49 caíram e 18 subiram.

A maior queda foi registrada pela Sabesp, que recuou 4,46%. A Raia Drogasil teve queda de 4,32%, e a Magazine Luiza perdeu 3,90%.

A Suzano liderou as altas, com avanço de 3,98%. A Cyrela avançou 3,48%. A Ultrapar teve alta de 2,75%.

As ações da Petrobras fecharam em baixa, em dia de queda do petróleo no exterior. Os papéis mais negociados caíram 1,16%, para R$ 25,65. As ações com direito a voto recuaram 0,20%, para R$ 30,15.

"Os papéis vinham se valorizando também pela expectativa de que possa vir algo positivo de cessão onerosa. Há um movimento de resiliência nos papéis", afirma Filipe Villegas, analista de ações da Genial Investimentos.

A mineradora Vale recuou 1,10%, para R$ 54,77.

No setor financeiro, os papéis do Itaú Unibanco recuaram 0,7%. As ações preferenciais do Bradesco subiram 0,45%, e as ordinárias se valorizaram 0,62%. O Banco do Brasil teve queda de 0,55%, e as units —conjunto de ações— do Santander Brasil ganharam 0,17%.

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