Dólar provoca alta na farinha, mas preço do pão não sobe em SP

De 46 padarias, apenas quatro aumentaram o custo do pão francês no último mês

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Natália Portinari
São Paulo

Apesar do aumento no preço da farinha impulsionado pela alta do dólar, o pão francês não ficou mais caro nos últimos dias.

Para comerciantes ouvidos pela Folha, o mercado não está aquecido o suficiente para repassar o aumento.

"A farinha ficou mais cara, mas tiramos um pouco do lucro para continuar com os clientes", diz Aníbal Romeu, dono da padaria Cristalina, na Santa Cecília (centro de São Paulo).

Funcionária serve pão francês na padaria Gêmel, no centro de São Paulo - Julia Chequer-29.jul.2014/Folhapress

A reportagem entrou em contato com 46 padarias em todas as regiões de São Paulo. Apenas quatro aumentaram o custo do pão francês no último mês, e a maioria mantém o mesmo valor há pelo menos um ano.

O produto sai por R$ 14 o quilo, em média. "Fizemos uma negociação com os moinhos para segurar o preço o máximo possível, porque não dá pra repassar", diz Luiz Antonio, gerente da Gêmel, também no centro de SP.

O preço da farinha aumentou 4,86% em abril, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas), e deve continuar em alta em maio devido ao dólar, que empurra para cima a cotação do trigo.

Mais da metade do trigo consumido no Brasil vem do exterior, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).

"Nos últimos três meses vimos um aumento no trigo, em parte pela seca na Argentina e em parte pelo câmbio", diz Cláudio Zanão, presidente da Abimapi (da indústria de biscoitos, massas, bolos e pães). A expectativa é de que estes derivados de farinha encareçam, diz Zanão.

O efeito deve perdurar apenas pelos próximos meses, segundo Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo, já que a safra brasileira deve suprir a demanda no país após o inverno.

Com a alta do dólar, o primeiro aumento de preços vem na base da cadeia produtiva, em matérias-primas industriais e alimentos.

"As principais siderúrgicas já anunciaram repasses nos preços", afirma Braz.

Assim como as padarias, porém, os demais setores do varejo estão hesitantes em repassar aumentos em um cenário de consumo fraco.

O varejo terminou o primeiro trimestre de 2018 com aumento de 0,7 % nas vendas sobre o último trimestre de 2017, mas houve avanço mensal de 0,9% em janeiro e queda de 0,2% nas vendas em fevereiro, segundo o IBGE.

"O repasse é imediato em commodities agrícolas, metálicos e combustíveis, mas nos demais produtos é mais tímido", diz André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV.

No IGP-10 (Índice Geral de Preços) da FGV de maio, os componentes para manufatura subiram 1,71%, em parte devido à escalada do dólar.

O impacto também vem no aço, gasolina, gás, borracha, plásticos, celulose, fertilizantes, ferro e café.

Para uma variação de 10% no dólar, como a que houve de março até agora, a estimativa é um impacto de no máximo meio ponto percentual na inflação anual, diz Guilherme Dietze, assessor econômico da Fecomercio-SP.

"Ainda não dá para dizer se vai impactar. Temos que saber se o aumento [no câmbio] vai permanecer e, depois, saber como está o estoque de indústrias que compram esses insumos", afirma Dietze.

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