Descrição de chapéu câmbio dólar Itaú

Dólar sobe para R$ 3,55 com preocupações de alta adicional de juros nos EUA

Ações do Itaú caem 4,5% e pressionam Bolsa brasileira no retorno do feriado

Dólar sobe para R$ 3,55 e fecha no maior nível desde junho de 2016
Dólar sobe para R$ 3,55 e fecha no maior nível desde junho de 2016 - Kim Hong-Ji/Illustration/REUTERS
Danielle Brant
São Paulo

A perspectiva de uma alta adicional em dezembro nos juros americanos levou o dólar ao patamar de R$ 3,55 nesta quarta-feira (2), o maior nível desde junho de 2016. Na Bolsa, as ações do Itaú Unibanco caíram 4,5% com uma avaliação ruim de alguns itens do balanço do banco no primeiro trimestre.

Na volta do feriado do Dia do Trabalho, o índice Ibovespa, das ações mais negociadas, fechou em baixa de 1,82%, para 84.547 pontos. O volume financeiro foi de R$ 11,7 bilhões, contra média diária de R$ 11,04 bilhões no ano.

O dólar comercial teve alta de 1,28%, para R$ 3,550, maior nível desde 2 de junho de 2016, quando fechou a R$ 3,588.

O dólar à vista, que fecha mais cedo, teve alta de 1,02%, para R$ 3,543.

A alta da moeda americana se deu globalmente: 30 das 31 principais divisas do mundo perderam força ante o dólar nesta sessão.

A valorização do dólar ocorreu após o banco central americano indicar que a inflação no país pode se aproximar da meta de 2% ao ano, o que daria suporte a uma alta adicional de juros nos Estados Unidos neste ano.

O mercado estimava mais dois aumentos, um em junho e um em setembro. Agora, os analistas passaram a vislumbrar a possibilidade de uma alta em dezembro. 

"Foi a principal notícia que pesou nos mercados de uma maneira geral, não foi um movimento exclusivo de Brasil. O dólar se valorizou principalmente em relação a emergentes com as apostas nesse terceiro aumento em 2018", afirma Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos. 

"Esse comentário da inflação gerou preocupação, com a indicação de que está monitorando de perto o desenvolvimento da inflação no país, por causa da melhora também de indicadores da economia americana."

Nesta quarta, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) manteve a taxa de juros na faixa entre 1,5% e 1,75% ao ano, em decisão unânime. 

Em comunicado, o comitê de política monetária do Fed disse que a inflação "foi para perto" de sua meta e que "em 12 meses ela deve ficar perto do objetivo do Comitê de 2% no médio prazo".

Desde que assumiu o cargo, em fevereiro, o presidente do banco central americano, Jerome Powell, tem defendido uma postura moderada para a política monetária dos EUA, com o aumento gradual de juros em um cenário de economia forte, mas que ainda não gerou pressões inflacionárias.

O comunicado do Fed não cita os riscos econômicos apresentados pelas tensões comerciais entre os EUA e outros países, particularmente a China, por causa da imposição de tarifas à importação de aço e alumínio. Membros do Fed já comentaram sobre o potencial impacto negativo, mas adotaram a postura de esperar para ver.

O Banco Central brasileiro não fez intervenção no mercado cambial, mesmo com o dólar a R$ 3,55. Em junho, vencem US$ 5,65 bilhões em contratos de swap cambial tradicional (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro).

Nesta quinta (3) vencem US$ 2 bilhões em leilão de linha, que é a venda de dólares com compromisso de recompra.

O CDS (credit default swap), espécie de seguro contra calote do país, teve alta de 2,75%, para 181,5 pontos.

Os contratos mais negociados de juros futuros subiram. Os DIs  para abril de 2018 avançaram de 6,242% para 6,250%. Os DIs para janeiro de 2019 tiveram alta de 6,225% para 6,255%.

AÇÕES

As ações do Itaú Unibanco e de sua holding, Itaúsa, pesaram na Bolsa brasileira nesta sessão.

Os papéis do Itaú recuaram 4,53%, apesar da alta de 3,9% do lucro no primeiro trimestre. A Itaúsa perdeu 5,95%.

Em relatório, a Guide avalia o resultado como positivo. "Esperamos que o banco continue apresentando crescimento robusto no lucro, mantendo o retorno sobre o patrimônio acima dos 20% [22,2% no trimestre], patamar bastante positivo tendo em vista o atual cenário econômico em recuperação ainda gradual", indica o relatório.

A Guide vê ainda maior redução das despesas com provisões de perdas por calote de clientes. "Mantemos uma visão positiva para o ativo e esperamos que a expansão de sua carteira de crédito compense os impactos da Selic mais baixa sobre a intermediação financeira." 

Rafael Passos, analista da Guide, ressalta que o resultado veio em linha com o esperado. "O único ponto de atenção é com relação à expansão da carteira de crédito, que está mais lenta que o guidance [projeção de crescimento entre 4% e 7% no ano] e o que vínhamos esperando", diz. 

Já Roberto Indech, da Rico, vê a queda das ações do Itaú como "uma boa oportunidade de compra para investidores que pensam no longo prazo". 

Ainda no setor financeiro, as ações preferenciais do Bradesco caíram 2,57%, e as ordinárias perderam tiveram baixa de 1,6%. O Banco do Brasil teve queda de 1,85%. As units —conjunto de ações—​ do Santander Brasil perderam 3,18%.

A maior queda do Ibovespa foi registrada pelos papéis da Cemig, que recuaram 8,63%, após assembleia da Light ser suspensa por acionistas na segunda (30) por uma proposta de alteração do estatuto social da empresa. O objetivo era incluir um parágrafo que abordasse a exclusão do direito de preferência ou redução do prazo de exercício por antigos acionistas. 

"A intenção original da Light era votar na AGE mudanças no estatuto para aumentar o limite do capital social autorizado e permitir a emissão de ações, o que facilitaria a venda da participação da Cemig na Light", explicam os analistas da casa Levante em relatório.

As maiores altas do Ibovespa foram registradas pelas ações ordinárias da Eletrobras, que subiram 4,46%. As preferenciais avançaram 2,19%.

A alta ocorreu após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dizer que pediu ao governo uma estimativa dos votos que tem para eventualmente aprovar o projeto da privatização da estatal.

A Petrobras teve queda, em dia misto para os preços do petróleo. As ações mais negociadas caíram 1,61%, para R$ 22,60. Os papéis com direito a voto recuaram 0,24%, para R$ 24,57.

A mineradora Vale subiu 0,08%, para R$ 48,71. ​

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