EUA anunciam tarifas contra Europa, Canadá e México e alimentam temor de conflito comercial

Países já falaram que devem retaliar

Washington

Depois que a poeira parecia ter baixado, os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (31) a imposição de tarifas ao aço e alumínio da União Europeia, Canadá e México –e voltaram a provocar temores de uma guerra comercial mundial.

O Brasil, segundo maior exportador de aço aos americanos, permanece excluído das tarifas, após aceitar a imposição de cotas para o produto. Já o alumínio será taxado, num acordo considerado menos danoso para a indústria nacional do que as cotas. ​

Mas a administração de Donald Trump disse que ainda não atingiu um acordo satisfatório com Europa, Canadá e México, e resolveu fazer valer as tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio desses países a partir de 1º de junho.

São três dos principais aliados dos EUA –e todos anunciaram que devem retaliar.

“Isso é protecionismo, pura e simplesmente”, declarou Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, após o anúncio americano. “A União Europeia não pode ficar sem reagir.”

“É inaceitável”, afirmou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que prometeu retrucar “dólar por dólar”. O país anunciou tarifas a produtos americanos a partir do dia 1º de julho, e irá acionar a OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a prática.

A Alemanha anunciou que a resposta ao slogan “América primeiro” será “Europa Unida”.

E até mesmo o francês Emmanuel Macron, que há poucas semanas trocava abraços e juras de amizade com Trump, declarou que a decisão é “deplorável”, por fomentar o nacionalismo econômico. “E nacionalismo leva à guerra. É um erro”, disse o presidente a jornalistas.

Especialistas afirmaram que a decisão é inédita, por atingir tradicionais aliados dos EUA e forçá-los a responder com tarifas retaliatórias. Juntos, Europa, Canadá e México são responsáveis por quase 50% do aço e alumínio importados pelos americanos.

“É só o começo de uma saga”, afirmou o economista Chad Bown, especialista em comércio internacional do Peterson Institute.

Nos seus cálculos, a retaliação pode atingir US$ 48 bilhões em produtos americanos –ou cerca de 3% das exportações do país em 2017. E ainda há consequências ao fluxo internacional de mercadorias, o que deve atingir outros países.

“No final das contas, quando o comércio internacional é interrompido e o nível de confiança entre os atores econômicos é seriamente prejudicado, aqueles que mais sofrem são os mais pobres”, afirmou Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional).

ARGUMENTOS

Os EUA fundamentam a decisão na proteção da segurança nacional, um argumento considerado frágil por especialistas, mas que justificou as proclamações de Trump.

Segundo o governo americano, o excesso de aço e alumínio no mercado mundial compromete a indústria siderúrgica nacional, responsável pelo suprimento da indústria de defesa dos EUA.

As tarifas já estão valendo para determinados países, como Japão, Rússia e China. O último é o principal produtor de aço do mundo –e, na prática, o grande alvo de Trump com a medida.

Segundo a Casa Branca, a ação já provocou “grandes efeitos positivos” na indústria de aço e alumínio dos EUA, em especial na proteção e promoção de empregos no setor.

Mas economistas alertam que a decisão deve encarecer o custo desses insumos no país, além de causar um efeito dominó em outras cadeias produtivas, por causa de tarifas de retaliação.

O secretário americano do Comércio, Wilbur Ross, minimizou as ameaças de represália dos países afetados e disse que as negociações podem prosseguir, inclusive durante a disputa, para tentar encontrar uma solução. 

Como presidente, Trump tem autoridade para modificar as tarifas ou impor cotas, ou "fazer o que desejar a qualquer momento", segundo Ross, o que permite uma "potencial flexibilidade" para resolver o problema.

Em relação a Canadá e México, as negociações para revisar o Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) “estão levando mais tempo que o previsto e não existe uma data precisa” para a conclusão. Por este motivo, as isenções dos dois países foram eliminadas. 

No caso da União Europeia, apesar de semanas de conversações, Ross disse que os EUA não estavam dispostos a cumprir com a demanda de que o bloco permaneça "isento de forma permanente e incondicional às tarifas".

Mas economistas alertam que a decisão deve encarecer o custo desses insumos no país, além de causar um efeito dominó em outras cadeias produtivas, por causa de tarifas de retaliação.

“Isso vai aumentar os custos de entrada para uma série de fabricantes e possivelmente alimentar os preços de uma forma geral [nos EUA]”, afirmou o diretor da Moody’s, Atsi Sheth, em comunicado aos investidores.

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