EUA exigem que China reduza déficit comercial em US$ 200 bilhões

Washington assumiu linha mais dura nas negociações concluídas em Pequim nesta sexta (4)

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Gabriel Wildau
Pequim | agências de notícias

Os Estados Unidos exigiram que a China corte tarifas, reduza o déficit comercial bilateral e elimine subsídios estatais a indústrias estratégicas, o que significa que Washington adotou uma linha dura de negociação nas conversações com Pequim encerradas na sexta-feira (4).

A delegação americana, liderada pelo secretário do Tesouro Steve Mnuchin, exigiu que a China reduza o déficit no comércio bilateral em US$ 200 bilhões até 2020, o que aparentemente abarcaria tanto o comércio de bens quanto o de serviços. 

O déficit dos Estados Unidos no comércio de bens e serviços com a China foi de US$ 337 bilhões no ano passado, de acordo com dados americanos

A meta é duas vezes maior que a estipulada em uma exigência anterior da Casa Branca de que a China reduzisse o déficit no comércio bilateral em US$ 100 bilhões.

Os negociadores também solicitaram que Pequim reduza as tarifas de importação chinesas a um patamar equivalente ou inferior ao adotado pelos Estados Unidos para os mesmos bens chineses.

A proposta além disso apela que Pequim elimine todos os subsídios associados à sua política industrial "Made in China 2025". O plano chinês foi criado para promover a liderança da China em setores avançados como a robótica, produtos aeroespaciais e veículos elétricos.

O documento americano também solicitava que Pequim retirasse as restrições ao investimento que incidem sobre empresas estrangeiras que operam na China, entre as quais os limites a participações acionárias estrangeiras em empresas registradas no país.

Autoridades chinesas consideraram a proposta injusta, de acordo com o Wall Street Journal.  ​

Washington insiste em que o roubo de propriedade intelectual, as transferências forçadas de tecnologia, e a obrigatoriedade de joint ventures que se aplica ao investimento estrangeiro representam um esforço sistemático para enfraquecer a liderança dos Estados Unidos em setores estratégicos.

Os EUA propuseram impor tarifas sobre cerca de US$ 50 bilhões de bens chineses em cumprimento da chamada "Seção 301" de seu inquérito sobre propriedade intelectual, e estas podem entrar em vigor em junho, após a conclusão de um período de consultas de 60 dias, mas os planos de ativação ainda permanecem vagos.

A posição anunciada pelo governo dos EUA refuta a preocupação de que divisões internas entre os assessores do presidente americano Donald Trump estivessem impedindo a formulação de um conjunto coerente de demandas.

A delegação incomumente numerosa enviada pelos Estados Unidos vinha sendo vista como sinal de que existiam divisões, de acordo com analistas. A delegação contava com sete funcionários de primeiro escalão do governo americano, entre os quais o secretário do comércio Wilbur Ross, o representante do governo americano para questões de comércio internacional, Robert Lighthizer, e o assessor de comércio e indústria da Casa Branca, Peter Navarro.

As conversas dos últimos dois dias envolveram, além da delegação comercial de alto nível comandada por Mnuchin, autoridades chinesas graduadas, incluindo o vice-primeiro-ministro chinês Liu He, depois de meses de ameaças e contra-ameaças dos dois lados em uma série de disputas a respeito das práticas que levaram o mundo a temer uma guerra comercial global.

A despeito das demandas, as conversações não parecem ter produzido avanços.

A agência oficial de notícias chinesa Xinhua reportou que os dois países haviam "chegado a algum consenso" sobre a expansão das exportações americanas à China, o investimento bilateral e o comércio bilateral de serviços, mas que continuavam a existir "diferenças muito grandes" sobre algumas questões.

"Minha impressão é que as conversas não foram boas, dada a retórica", disse Kevin Lai, economista sênior da Daiwa Capital Markets de Hong Kong. "Acho que a divisão ainda é muito grande".

Os dois lados, porém, se comprometeram a resolver suas desavenças comerciais através do diálogo, segundo a Xinhua.

Em relação às queixas do lado chinês, os negociadores dos EUA concordaram em abordar com Trump a questão da proibição a que empresas dos EUA vendam bens e softwares à fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicação, disse a agência. 

Em discurso no mês passado, o presidente chinês Xi Jinping disse que a China não procura superávits comerciais e que tomaria a iniciativa para expandir importações.

Mas funcionários do governo e especialistas chineses disseram que reduções significativas do déficit no comércio bilateral requereriam que os Estados Unidos aliviassem suas restrições à exportação de alta tecnologia e que criassem infraestrutura nova para a exportação de carvão e gás natural.

Um importante executivo americano informado sobre as negociações disse que a apresentação de um conjunto abrangente de demandas era um alívio, dado o temor de que Trump estivesse em busca de uma vitória rápida.

"Estávamos preocupados com a possibilidade de que Trump chegasse a um acordo de redução do déficit e declarasse vitória", disse o executivo, acrescentando que as empresas americanas se preocupam muito mais com o acesso ao mercado chinês e com questões de propriedade intelectual.

Os dois lados buscaram moderar as expectativas de um acordo rápido. Em editorial publicado na sexta-feira, o jornal estatal chinês China Daily afirmou que a recente escalada quanto a diferenças "irritantes" indicava "o quanto será difícil que os dois lados saiam felizes".

O jornal chinês Global Times, que expressa posições nacionalistas, adotou tom semelhante. "Porque os dois lados têm posições das quais não recuarão, pode ser difícil chegar a um acordo, mas é bom começar de algum lugar", afirmou o jornal em editorial publicado na quinta-feira (3).

Nas últimas semanas, a China anunciou medidas para remover barreiras ao investimento estrangeiro nos serviços financeiros e indústria automobilística.

Mas executivos dizem que essas medidas terão impacto limitado porque as instituições financeiras nacionais chinesas detêm posições dominantes, e as montadoras internacionais de automóveis não têm como sair facilmente de suas joint ventures existentes. 

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 
 
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