Expansão do crédito e redução do risco na carteira compensarão queda do spread, diz Itaú

Presidente do banco diz ainda que compra da XP deve aumentar competição no mercado

Presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, durante Fórum Econômico Mundial
Presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, durante Fórum Econômico Mundial - Eduardo Anizelli/Folhapress
Danielle Brant
São Paulo | Reuters

O Itaú Unibanco prevê compensar a queda do spread bancário —diferença entre o juro que o banco capta e o que empresta— com um volume maior de concessões e uma mudança na qualidade das linhas de crédito que vai priorizar as menos arriscadas, disse nesta quarta-feira (2) Candido Bracher, presidente do maior banco privado do país.

As declarações foram dadas em teleconferência sobre o resultado do banco no primeiro trimestre, quando o Itaú viu seu lucro crescer 3,9%, para R$ 6,419 bilhões.

"Vamos ver uma redução do spread em cada uma das linhas que a gente opera. O cheque especial deve ter queda de spread, cartão de crédito também, consignado. A queda do spread de cada uma das linhas individualmente deve impactar negativamente o nosso resultado", afirmou Bracher. 

"A mudança no mix das carteiras e o aumento do volume compensarão a queda do spread nas linhas individuais, que deve se intensificar."

No primeiro trimestre, o banco viu sua carteira de crédito no Brasil recuar 0,6% em relação ao mesmo período de 2017, para R$ 451,1 bilhões. Em relação ao quarto trimestre, a queda foi de 0,7%. O banco projeta crescimento de entre 4% e 7% da carteira de crédito no país.

Para Bracher, essa recuperação já está acontecendo, com crescimento nas concessões de pessoas físicas. Na comparação trimestral, houve queda em linhas mais arriscadas, como cartão de crédito (-2,9%). Mas linhas mais seguras, como o crédito consignado, também não tiveram grande expansão: o crescimento foi de 0,6%.

"Saímos de algumas linhas do consignado em função de apetite de risco, pela crise financeira dos estados e outros problemas específicos de aposentados, há mais de um ano. Isso explica a mudança em relação a outros bancos [que aumentaram a carteira de crédito desta linha", disse.

O presidente do Itaú ressaltou que a tendência é de crescimento também do financiamento de veículos, com novas concessões com qualidade de crédito melhor substituindo as antigas.

Para pessoas jurídicas, o banco viu a carteira de crédito de grandes empresas recuar 1,9% na comparação trimestral e 8,3% na anual. "A carteira corporate [grandes empresas] está sendo frustrante, está estagnada em tamanho. A demanda por crédito corporativo não deve se recuperar neste ano", avalia.

Ele disse ainda que o banco poderia emprestar mais recursos para grandes conglomerados do país que foram alvos da operação Lava Jato e que assinarem acordos de leniência com autoridades governamentais.

Segundo Bracher, o banco pode conceder novos recursos para as empresas investigadas se tiver expectativa de que vai receber o que já emprestou.

O Itaú Unibanco é um dos credores da Odebrecht Engenharia e Construção, que na semana passada perdeu o prazo para pagar uma dívida de cerca de R$ 500 milhões.

A empreiteira faz parte da holding Odebrecht, que firmou acordo de leniência com o Ministério Público no ano passado, na esteira da Lava Jato. O grupo negocia com outros órgãos de controle para fazer acordos semelhantes.

Bracher comentou ainda a compra da XP, que aguarda análise do Banco Central após o Cade (conselho de defesa da concorrência) ter dado sinal verde, impondo restrições, em março. Para o negócio ser concluído, é necessário o "duplo sim".

"Não cabe eu me antecipar em relação ao que o Banco Central venha a decidir, mas acho que a operação acentua a competição no mercado financeiro. Aguardamos a deliberação do Banco Central", afirmou Bracher.

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