Greve de caminhoneiros afeta setor de carnes e fluxo de soja aos portos

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Associação de agroindústrias prevê "cenário terrível" se greve continuar nesta quarta-feira

São Paulo | Reuters

Os protestos realizados por caminhoneiros se espalham por praticamente todo o Brasil nesta terça-feira (22) e já afetam a agropecuária nacional, particularmente o setor de carnes, com algumas indústrias suspendendo as operações, ao passo que o fluxo de soja aos portos também se reduz, encolhendo os estoques nos terminais devido à interrupção no transporte.

Contrários à alta do diesel e a favor de redução da carga tributária sobre o combustível, caminhoneiros realizam bloqueios em 22 Estados e no DF nesta terça-feira, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), superando os 19 registrados na véspera.

Conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa mais de 140 agroindústrias, "os bloqueios impedem o transporte de aves e suínos vivos, ração e cargas refrigeradas destinadas ao abastecimento das gôndolas no Brasil ou para exportações".

A paralisação dos caminhoneiros causou o fechamento de cinco plantas ligadas à avicultura e à suinocultura em quatro estados do país. O cenário para esta quarta (23), se a greve for mantida, é considerado “terrível”.

De acordo com a ABPA, as plantas fecharam por não terem carne para produzir ou por faltarem caminhões para transportar a proteína que está nas empresas.

“O impacto até aqui é imenso, muito relevante e importante, muito mais do que das outras vezes [em que caminhoneiros pararam]. O setor já vinha de um período de sofrimento”, afirmou Ricardo Santin, vice-presidente e diretor de mercados da ABPA.

As unidades fechadas ficam em Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás e Rio Grande do Sul.

Segundo ele, para esta quarta o cenário indica o fechamento de ao menos 20 plantas entre as associadas.

“A planta não fecha por querer fechar, mas por não entrar carne para abater, não conseguir tirar a carne que está lá. A coisa é terrível e mais do que difícil. É como se tivesse vindo um ciclone. A consequência final é o desabastecimento”, disse Santin.

Segundo a associação, os bloqueios nas rodovias do país têm impedido o transporte de aves e suínos vivos, de ração e de cargas refrigeradas destinadas ao abastecimento das gôndolas no Brasil ou destinadas às exportações.

 

"Já temos relatos de unidades produtoras com turnos de abate suspenso. Contratos de exportação poderão ser perdidos e há um forte aumento de custos logísticos com reprogramação de embarque de cargas. Os prejuízos para o setor produtivo e para o país são incalculáveis", afirmou a ABPA, em nota.

Na mesma linha, o presidente executivo da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, afirmou que todo o setor de animais vivos, de leite e o abastecimento em geral estão sendo "muito afetados".

"Nós estamos recebendo inúmeras queixas de caminhões transportando nossos produtos que são perecíveis e estão parados em várias regiões do país", afirmou, em nota destacando que são "centenas de caminhões parados nas estradas com animais vivos, leite e produtos resfriados para serem entregues nos pontos de varejo em todo o país".

GRÃOS

Com relação aos grãos, o gerente de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Amaral, disse que, por ora, os protestos "ainda não afetaram o embarque e o esmagamento (de soja) de maneira generalizada, mas há uma fábrica no Paraná que pode suspender o processamento". Ele preferiu não dizer o nome da empresa.

"Estamos preocupados, mas ainda não houve problema para o abastecimento interno", disse ele.

Ele ressaltou, contudo, que o fluxo do produto para os portos foi reduzido.

"Queremos uma resolução o mais rápido possível para voltar a exportar, pois estamos com a maior safra de soja da história", acrescentou, referindo-se à produção recorde da oleaginosa neste ano --o Brasil é o maior exportador mundial da commodity.

Lucas Trindade, assistente-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), alertou que "a paralisação dos motoristas e os bloqueios de rodovias já impactam o fluxo de caminhões e o recebimento dessas cargas pelos terminais em alguns portos".

"De qualquer forma, ainda não temos informação acerca de atraso nos embarques decorrente da falta de carga nos terminais portuários, situação que pode ocorrer caso o fluxo de caminhões não seja restabelecido imediatamente."

Um atenuante da situação é o fato de que parte das cargas agrícolas para exportação chega por ferrovia.

MOVIMENTAÇÃO NOS PORTOS

As assessorias de imprensa dos portos de Paranaguá (PR) e Santos (SP), os principais canais de exportação da safra agrícola do Brasil, explicaram à Reuters que há manifestações nas entradas de ambos os terminais, mas muitos caminhões nem estão se dirigindo aos locais em razão dos protestos.

Em Paranaguá, por exemplo, apenas 300 caminhões deram entrada na segunda-feira, contra cerca de 2 mil normalmente nesta época do ano, enquanto em Santos o movimento também está reduzido.

Em virtude dos estoques, contudo, as operações de carga e descarga dos navios transcorrem normalmente nesses locais.

DIESEL EM ALTA

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, teve reunião nesta manhã com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, para dialogar sobre a alta dos combustíveis.

Desde que a petroleira passou a reajustar quase que diariamente os preços dos combustíveis, seguindo o mercado internacional e o câmbio, o diesel acumula alta de quase 50% nas refinarias.

Mais cedo, contudo, a petroleira comunicou que reduzirá tanto os valores do diesel quanto os da gasolina nas refinarias a partir de quarta-feira.

Parente negou que haja interferência do governo na política de formação de preços da Petrobras, algo que foi reiterado por Guardia.

Segundo Parente, a redução anunciada nesta quarta-feira ocorreu pela variação do câmbio.

A greve dos caminhoneiros acontece enquanto entidades que representam os donos de postos também apelam por mudanças tributárias, afirmando que a política de preços da Petrobras está causando prejuízos ao setor.

A última vez que os caminhoneiros promoveram protestos em âmbito nacional foi no início de 2015, quando exigiram redução de custos com combustível, pedágios e tabelamento de fretes.

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