Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

"Isso não vai acontecer de novo", diz chefe da Petrobras sobre corte no diesel

Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

Em teleconferência para tentar acalmar investidores insatisfeitos com o corte nos preço do diesel, o presidente da Petrobras, Pedro Parente disse que a decisão anunciada nesta quarta (23) foi excepcional e não representa interferência na política de preços da estatal.

"Isso não vai acontecer de novo", afirmou Parente. As ações da empresa abriram em forte baixa nas bolsas, diante do temor de que a empresa volte a praticar preços abaixo das cotações internacionais. Às 15h30, os papeis preferenciais caíam 13,2%.

A decisão de cortar em 10% o preço do diesel foi anunciada em meio a uma crise de abastecimento provocada pela greve dos caminhoneiros. A companhia diz que é um corte temporário e durará 15 dias. Depois disso, o preço voltará a ser ajustado de acordo com as cotações internacionais.

 
O presidente da Petrobras Pedro Parente fala com a imprensa após reunião com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco na terça-feira - Pedro Ladeira/Folhapress

"Sim, isso aconteceu de novo", escreveram os analistas Luiz Carvalho e Gabriel Barra, do banco UBS, lembrando que a companhia havia conseguido reverter histórico controle dos preços dos combustíveis ao passar a acompanhar o mercado internacional.

"Nós vamos continuar a política de preços que estabelecemos para a companhia e se o governo desejar conceder subsídios, isso terá que ser feito com o ressarcimento dos custos acordado antecipadamente", afirmou Parente, na teleconferência.

Segundo ele, se o governo voltar a controlar a política de preços da estatal, terá que encontrar "outra diretoria alinhada a essa decisão". "O governo tem a visão clara de que a Petrobras não pode ser usada de forma social".

Na teleconferência em inglês, Parente frisou diversas vezes que a decisão de cortar os preços do diesel foi tomada pela direção da Petrobras, sem interferência do controlador, e pensando no interesse da companhia. Ele argumenta que a perda financeira poderia ser maior com a suspensão de suas operações pela greve dos caminhoneiros.

Além disso, diz o executivo, a crise de abastecimento reforçou no meio político desejos de estabelecer medidas legais de controle de preços. "Estávamos em posição defensiva e precisávamos fazer um movimento ousado", disse ele. "Não estamos mais sob fogo cruzado e isso é importante para nós". 

O corte anunciado pela estatal, porém, não trouxe efeito à greve dos caminhoneiros, que seguem em protesto por cortes na carga tributária sobre o diesel. Parente diz que a empresa mostrou boa vontade para ajudar, mas que agora as negociações estão com o governo federal. Ele afirmou que a companhia não tem plano B, caso as negociações avancem além do prazo de 15 dias de congelamento do preço do diesel em suas refinarias.

A principal preocupação entre os analistas foi com a possibilidade de novas ações para controlar os preços em caso da repetição de crises como a atual. "Foi uma medida excepcional que tomamos pensando no melhor interesse da companhia", repetiu o presidente da Petrobras. "Asseguro que foi para o melhor interesse da companhia."

REFINARIAS

Para analistas, a decisão pode ter impacto no processo de venda das refinarias da estatal, anunciado em abril. O risco de controle de preços, dizem, pode afugentar investidores.

A companhia pretende vender 60% de dois polos de refino, um no Sul e outro no Nordeste, que contêm duas refinarias cada, além de terminais e dutos. É considerada uma das operações com maior potencial de receita pela empresa.

"É uma medida temporária, com um tempo limitado, então não vemos que isso possa prejudicar o plano de desinvestimento nas refinarias", disse Parente, acrescentando que a venda das unidades pode ajudar a suportar a política de preços livres dos combustíveis. 

Ele disse a analistas que espera assinar este ano a venda das refinarias, mas que o negócio só deve ser fechado no ano que vem.

 
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