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Máquinas de cartão facilitam compras de cegos

Tecnologias ajudam a informar valor da compra e digitar nas maquininhas com mais facilidade

Filipe Oliveira
São Paulo

Lançamentos da indústria de cartões de crédito mostram que o setor começa a olhar com mais atenção os consumidores com deficiência visual.

O primeiro, o aplicativo Pay Voice, foi desenvolvido pela Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito) no centro de pesquisas CPqD, de Campinas. 

Gratuito, ele usa a câmera do celular do usuário para, com inteligência artificial, ler com voz computadorizada o valor da compra que está sendo paga antes de a pessoa que não enxerga digitar sua senha.

O segundo lançamento, também apresentado pela associação, resolve um problema justamente na hora de o cego digitar o número. É uma película transparente para ser colada sobre a tela das maquininhas sem botão (que usam a tecnologia de tela sensível ao toque).

Sua função é marcar tatilmente o espaço em que ficam os números para que a posição onde está cada um deles seja sentida com os dedos da pessoa com deficiência antes de serem pressionados.

Sem ela, quem não enxerga não tem como digitar suas senhas sozinho nas máquinas sem botões.

O analista de sistemas Leonardo Ferreira, portador de deficiência visual, mostra o aplicativo de acessibilidade em pagamentos
O analista de sistemas Leonardo Ferreira, portador de deficiência visual, mostra o aplicativo - Marcelo Justo/Folhapress

A película evitará situações constrangedoras no dia a dia de Leonardo Ferreira, técnico em tecnologia assistiva da ONG Laramara.

Cego, ele conta que, como muitos taxistas passaram a adotar máquinas de pagamento sem botões, trocou o serviço por aplicativos de transporte para não ter de dizer sua senha ao fim das corridas. 

A adaptação das máquinas será gradual e todas devem estar adequadas em até três anos, diz Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs. Os novos aparelhos terão a película e os antigos a receberão ao ir para manutenção. 

Vieira diz que o setor passou a prestar mais atenção na acessibilidade há cerca de dois anos, quando foi procurada pela Secretaria Nacional dos Direitos Humanos para tratar das dificuldades criadas pelas máquinas touch screen.

A professora de inglês Cristiana Cerchiari diz ter ficado contente com os dois lançamentos, mas contou ter tido dificuldades para usar o app que lê o valor das compras.

Com a ajuda de uma vendedora amiga para posicionar o celular corretamente, conseguiu ler o valor escrito na máquina. Porém, quando foi tentar usar sozinha, teve dificuldade, e o tempo-limite para colocar a senha acabou antes de ela ter sucesso na leitura.

“É muito bom que estejam pensando nisso, mas vou esperar por uma atualização.”

Já para Leonardo, o ideal seria uma adaptação nas próprias máquinas, em vez de se esperar que todo cego tenha habilidades com o uso do smartphone e da câmera. 

Também pondera que pode ser constrangedor sacar o celular na frente de um vendedor e ficar apontando para a tela, indicando desconfiar de que o profissional age desonestamente.

Tanto Cristiana como Leonardo contam que, por não poderem ver o valor digitado na tela das maquininhas, usam serviços bancários que enviam mensagens de texto para o celular informando o valor gasto cada vez que um pagamento é feito. 

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