Descrição de chapéu
petrobras operação lava jato

Monopólio da estatal indica por que reação não é igual à alta do pãozinho

Paralisações podem levar a uma mudança na abordagem da política de preços da Petrobras

LUIZ CARVALHO

Desde sua fundação, a Petrobras tem sido responsável não só por suprir o país com diversos tipos de combustível mas também por definir os preços de grande parte deles.

No Brasil, é comum dizermos que "a Petrobras aumentou o combustível", quando notamos um aumento no preço de determinado produto vendido pela companhia.

Entendemos que a Petrobras não é responsável pela movimentação nos preços, mas sim o ator que realiza tais ajustes, reagindo às condições externas. No entanto, quando o trigo, o café o ou açúcar aumentam, não notamos a mesma reação, "culpando o padeiro" pelo reajuste do pão. Acreditamos que isso ocorre em razão da posição monopolista da Petrobras no negócio de refino.

A política de preços de combustíveis da Petrobras tem sido assunto recorrente, aproximadamente desde 2010, quando passou a praticar preços abaixo da paridade de importação, com o fim de controlar a inflação naquele momento.

No período de 2010-2014, a Petrobras acumulou perdas em torno de US$ 40 bilhões em razão dessa política, que levou a grau de ceticismo em relação à liberdade da companhia em reajustar seus preços, seguindo a variação das commodities e do câmbio, que são fatores fundamentais.

Ao fim de 2014, com a queda acentuada do petróleo no mercado internacional e a manutenção dos preços no mercado doméstico, a Petrobras passou a praticar preços acima dos externos para recuperar as perdas do período anteriormente mencionado.

Em junho de 2017, a Petrobras anunciou uma nova política de preços com possibilidade de ajustes diários. Desde então, o petróleo subiu 57% e o real se depreciou 12%, levando a um aumento acumulado de 48% para os preços do diesel no mercado doméstico.

O cenário monopolista começou a mudar de figura depois que a Petrobras passou a cobrar preços significativamente acima dos internacionais, abrindo uma janela para produtos importados.

Porém o "fardo" de movimentar os preços ainda se encontra sob a responsabilidade da companhia.

Apesar de alguns afirmarem que a Petrobras é responsável pelos altos valores dos combustíveis, a margem da companhia representa apenas 12% do preço na bomba, enquanto os impostos correspondem a 40% do total. De junho de 2017 a janeiro de 2018, a margem da Petrobras caiu 17%, enquanto os impostos dos Estados aumentaram 15%, e os impostos federais, 85%.

A alta recente dos preços levou a uma reação de partes de sociedade que culminou na atual greve dos caminhoneiros. Na quarta-feira (23), a Petrobras anunciou uma redução de 10% nos preços do diesel, com 15 dias de congelamento de seu preço.

Além das perdas financeiras, tal medida poderá levar a uma mudança na abordagem de sua atual política de preços, potencialmente prejudicando os resultados da companhia. Pela primeira vez desde que sua nova política de preços fora atualizada, a companhia se encontra novamente comercializando combustíveis abaixo da paridade de importação, gerando incertezas para seu futuro.

Luiz Carvalho é analista sênior de petróleo e gás do UBS para a América Latina

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