Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Motoristas da Uber faturam o dobro durante paralisação dos caminhoneiros

Heloísa Negrão
São Paulo

As filas longas e os preços altos foram compensados pela tarifa dinâmica para os motoristas da Uber que conseguiram encher o tanque para trabalhar durante a paralisação dos caminhoneiros, que chega ao décimo dia e começa a diminuir.

“No dinâmico, como está esses dias, se a pessoa trabalhar umas 14 horas, consegue tirar até uns R$ 700”, conta Thiago Henrique, 37.

“Na terça-feira, paguei R$ 4,89 no etanol. O carro que eu uso gira até 10 km por litro, se os motoristas não fizerem [corridas] com ao menos com 70% de ganho, ficaria inviável”, explica. Esse valor é possível quando a tarifa dinâmica indica 1,7x.

Thiago diz que foi em outra paralisação, a greve geral de 2017,  quando mais faturou: fez R$ 1.800 em uma única semana. “Mas eu não sou do tipo que se mata. Se o dia está ruim, eu vou para casa”, diz o motorista que prefere não dizer o sobrenome.

O motorista alerta que esses picos de faturamento são raros. “Os dias de paralisação [dos caminhoneiros] foram melhor do que Natal e Ano Novo. Nos meses normais, se descontar aluguel do carro, alimentação, combustível e a conta do celular [dados], a gente não lucra mais do que R$ 2.300”, afirma.

Aldeir Caio Pinheiro, 21, ficou três horas na fila em Guarulhos, onde mora, e pagou R$ 5 no litro. Para ele, o valor estava bom e a rentabilidade também. “Teve colega que pagou R$ 5 no etanol e ainda assim está valendo a pena”, afirmou.

As longas filas também viraram negócio. O ex-taxista Marcos Vinicius Fernandes manteve o carro abastecido graças ao mercado paralelo.

“Um amigo sai procurando combustível em Itaquaquecetuba, Guarulhos, São Paulo, pega a fila [do posto], enche o porta-malas de galões e revende pelo mercado paralelo.”

“Está uma maravilha. Estou adorando a greve”, confessa, antes de emendar: Os caminhoneiros vão me bater". Fernandes calcula que faturou R$ 1.400 desde sábado retrasado, dia 19, quando começou a greve.

Motorista no carro
O motorista de Uber Marcos Vinicius Fernandes, 29 - Thais Bilenky/Folhapress

Quem também não esquentou a cabeça durante a paralisação foram os motoristas que usam GNV (gás natural veicular). “Olha, tô trabalhando só um pouquinho, viu? kkkkkk”, escreveu Marcus, que não não falou o sobrenome porque é motorista de aplicativo nas horas vagas.

A reportagem ouviu três motoristas de Uber que usam GNV.  O aplicativo não oferece dados sobre a quantidade de viagens que caiu, nem sobre quantos dos seus motoristas usam GNV.

A Cabify também não tem os dados sobre o tipo de combustível que os motoristas usam. Em nota, a empresa afirmou que “alterou a tarifa mínima de determinadas cidades para a reduzir o impacto gerado pela alta dos combustíveis por período indeterminado”.

Os aplicativos que comparam preços e oferecem descontos registraram alta de mais de 100%. De acordo com Guilherme Wroclawski, co-criador do aplicativo Vah, que compara valores dos apps de transporte, houve um aumento de 110% nas corridas geradas pela plataforma para apps como Uber, 99, Cabify e Lady Driver. O levantamento foi feito entre sexta (25) e segunda (28).

De acordo com um levantamento realizado pelo Cuponomia, site que reúne ofertas para compras online, no último fim de semana a procura por cupons de desconto para aplicativos de transporte subiu 40% em relação ao final de semana anterior.

Os taxistas, em grande parte, ficaram parados por falta de combustível, de acordo com o Sinditáxi, o sindicato da categoria em São Paulo. Segundo o presidente Natalício Bezerra Silva, somente 10% dos táxis usa GNV.

Thais Bilenky
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