Motoristas relatam ameaças e pressão sobre desistentes

Paralisação de caminhoneiros chega ao nono dia nesta terça (29)

São Paulo

Sob anonimato por medo de represálias, motoristas parados no acostamento da via Dutra no km 162 relatam que há pressão dos demais manifestantes sobre os que querem desistir da mobilização e ir embora.

Caminhoneiros ouvidos pela Folha dizem temer que sejam agredidos ou que os veículos virem alvo de pedradas. Alguns estão no local porque foram retidos ao passar pela estrada transportando mercadorias.

“Eu penso no meu patrimônio”, afirmou um motorista que é dono de carreta. “Se quebram meu para-brisa, perco R$ 900.”

As entradas e saídas da extensa área ocupada pelo acampamento nos dois lados da via são controladas pelos participantes do protesto.

Pela manhã, a reportagem presenciou caminhoneiros cercando uma carreta que tentou deixar o acampamento. Eles bateram na lataria do baú e gritavam palavrões para o condutor.

Não há uma liderança definida no local, mas caminhoneiros favoráveis à permanência negam que os desertores sejam coagidos. Eles dizem que há liberdade para quem quiser deixar a mobilização, que ainda não tem previsão de término.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) e a Polícia Militar se dispuseram a escoltar desistentes. Nesta tarde, a PM acompanhou caminhoneiros que resolveram deixar o protesto.

“Tem gente que está muito a fim de ir embora. E esse cara vai começar a criar problema aqui”, disse Samuel Freire, chefe da PRF em São José dos Campos.

“Nunca esteve ninguém obrigado a ficar”, afirmou o policial. “O que os caminhoneiros perguntam é se tem como garantir a segurança até o destino. ‘E se eu tomar uma pedrada lá?’ Isso aí, infelizmente, não tem como garantir.”

A PRF também foi informada da existência de caminhoneiros que querem partir, mas têm a movimentação impedida por veículos estacionados à frente. 

A saída exigiria manobras, o que depende da colaboração dos outros participantes.

RAPOSO TAVARES

Um caminhoneiro que não quis ter seu nome divulgado afirmou estar sendo retido na manifestação do km 245 da rodovia Raposo Tavares sob ameaças de agressão e de ter seu veículo destruído.

O motorista disse que 90% dos 300 caminhoneiros que participam do ato estão sendo forçados a ficarem estacionados no pátio do posto Holandês da rede Graal por um grupo de homens que busca a queda do presidente Michel Temer.

De acordo com o relato, três motoristas tentaram fugir, mas foram perseguidos e tiveram que parar em frente à Base de Paranapanema da Polícia Militar Rodoviária para solicitar ajuda, mas sem sucesso.

"Depois de nove dias tentamos seguir viagem, mas 12 homens em quatro carros foram atrás de nós e fizeram com que nós voltássemos. A polícia disse que não conseguiria fazer nada estando fora da base", afirmou o caminhoneiro na tarde desta terça-feira (29).

O homem também disse que solicitou socorro ao serviço de emergência 190, mas lhe informaram que a polícia só poderia intervir após o início das agressões.

PARANÁ

Em um bloqueio no interior do Paraná, próximo a Colorado (PR), também houve relatos de caminhoneiros impedidos de seguir viagem.

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