Descrição de chapéu memes

Ódio na internet tem assumido estilo de meme para atrair jovens

Para professora, distância da vítima facilita disseminação de agressões na rede

Outdoor com foto de Jair Bolsonaro sobre fundo da bandeira brasileira, onde se lê "é melhor jair se acostumando - direita Garanhuns". Uma moto vermelha passa na estrada em frente ao outdoor, com duas pessoas montadas.
Outdoor em estrada na cidade de Garanhuns, Pernambuco. A professora Esther Solano usou frases do presidenciável Jair Bolsonaro para demonstrar a apropriação da cultura pop pelo discurso de ódio - Jorge Araujo - 19.abr.2018/Folhapress
Filipe Oliveira
São Paulo

Os discursos de ódio na internet têm se apropriado de elementos da cultura pop para parecer mais atraentes.

Para isso, declarações racistas, machistas, homofóbicas, entre outras agressões, aparecem em forma de memes (frases ou figuras divertidas que viralizam na rede) ou de vídeos engraçados, de modo que pareçam antenados com os jovens.

A opinião é de Esther Solano, doutora em ciências sociais pela Universidade Complutense de Madri e professora da Unifesp.

Neste domingo (20), durante painel do Festival Path que discutia a disseminação de discursos de ódio a partir da internet, ela contou ter apresentado em vídeo frases do pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) que considerava insuflar o ódio para jovens de 14 e 15 anos.

No final da exibição, os alunos aplaudiram o político, por considerá-lo rebelde, bacana, contou Solano.

Segundo ela, a internet protege quem expressa discursos de ódio, pois a pessoa não precisa ser agressiva olhando nos olhos da pessoa a quem está ferindo.

Além disso, a especialista criticou o fato de muitos estarem se informando a partir do Facebook. Na rede, em vez de se ter um discurso que fortalece a democracia, o usuário se fecha em guetos, interagindo apenas com pessoas que têm opiniões semelhantes e olhando os outros como inimigos.

Para Solano, o ódio também vem ganhando espaço pelo fato de mulheres, negros e o público LGBT estarem mais atuantes na reivindicação de seus direitos: "A pessoa que odeia é aquela que tem saudades de um passado onde tinha mais privilégios."

No mesmo debate, exemplos de manifestações de ódio foram apresentados no vídeo Odiolândia, da artista Giselle Beiguelman, que é professora da faculdade de arquitetura da USP.

Tendo como pano de fundo sons captados durante intervenção da polícia na Cracolândia (zona de consumo de crack no centro de São Paulo), a obra apresenta durante cinco minutos frases do tipo "Tem que matar" ou "A solução é soltar esses usuários em um navio em alto mar" coletadas na internet na ocasião.

Beiguelman diz que o volume de agressões era tão grande que sua primeira versão do vídeo tinha uma hora e meia de duração e poderia, inclusive, ser maior: "O material era interminável".

Em sua opinião, as redes refletem o modo real como as pessoas são, em vez de funcionar como um ambiente em que se assume uma identidade diferente.

"Não existe um racismo da internet, uma pedofilia da internet. O que existe é a podridão que somos nós mesmos. Para ela, é fundamental investir em educação e colocar o tema da diversidade em pauta nas escolas para enfrentar o problema."

A mesa também contou com a participação de Roberta Freitas, youtuber que sofreu ataques de ódio após participar do programa Big Brother Brasil em 2017.

Ela conta que saiu do programa ansiosa para voltar a interagir com o público. Porém, quando olhou sua conta no Instagram, encontrou 4 mil comentários no primeiro post, 3.000 deles racistas ou gordofóbicos."

A youtuber Roberta Freitas participou da edição de 2017 do programa Big Brother Brasil - Divulgação

Freitas conta ter acionado a Justiça devido às ofensas. Hoje, bloqueia quem faz postagens mais agressivas e, quando acha que a pessoa faz críticas mais brandas e só precisa de um pouco de atenção, responde.

Ela conta ter precisado de terapia e remédios para superar os danos causados pelos ataques. "Ainda me dói, machuca, mas estou conseguindo seguir."

Freitas conta que a maioria dos agressores tinha entre 10 e 26 anos. Por isso, acredita que pais devem estar mais atentos ao que os filhos fazem nas redes.

O debate foi mediado pela jornalista Giuliana de Toledo, editora-chefe da revista Galileu.

O festival Path reuniu em São Paulo, neste fim de semana, cerca de 350 palestras sobre temas ligados à inovação e criatividade.

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