Pedido de ajuda ao FMI é preventivo, diz ministro da Fazenda da Argentina

Nicolás Dujovne negou que crise atual tenha relação com a de 2001

O ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne - Eitan Abramovich/AFP
Sylvia Colombo
Buenos Aires

Uma hora depois do pronunciamento do presidente Mauricio Macri sobre o pedido que a Argentina fez de ajuda para o FMI, o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, reforçou que o chamado a essa instituição é “preventivo”.

“Recebemos uma sinalização positiva do FMI, o programa que apresentamos foi aprovado. Com isso queremos dar uma sinalização de estabilidade ao mercado”, afirmou.

Reiterou que a diretora-executiva do FMI Christine Lagarde está de acordo com a ideia de atacar a crise argentina por meio do “gradualismo” — modelo adotado por Macri desde dezembro de 2015 e que evita medidas de choque. E completou que “esta é a maneira de proteger a sociedade e de defender nosso crescimento.”

Acrescentou que o governo não daria detalhes do acordo imediatamente, mas que a recepção havia sido positiva.

Indagado se a crise atual se assemelharia, de alguma maneira, à de 2001 (a do “corralito” e da megadesvalorização do peso), Dujovne disse que não. “Nem o FMI é o mesmo nem a Argentina é a mesma. Ambos aprendemos de lições recebidas no passado. E repito, há apoio do FMI à nossa política gradualista”.

Ressaltou ainda que as exportações vêm crescendo e que a reforma tributária reduzirá impostos.
Assim como Macri, reclamou da oposição, que vem colocando travas ao aumento de tarifas que o governo considera necessário.

Durante toda a gestão kirchnerista, houve subsídios a vários serviços (gás, transporte, eletricidade). Macri decidiu retira-los, mas de forma gradual e nunca para a população mais humilde -num momento em que a Argentina tem 30% da população vivendo na pobreza.

“Ou seja, por mais que exista ajustes nos gastos sociais, há um montante que não pode ser reduzido, e isso causa o déficit orçamentário que faz com que o Estado se endivide e a inflação aumente”, diz à Folha o economista Marcelo Elizondo.

 
 

“SUPERMINISTRO”

A Argentina não tem um ministro de Economia, e sim uma equipe de ministros econômicos divididos em Fazenda (Dujovne), Finanças (Caputo), Interior (Rogelio Frigerio) e Secretarias de Comércio Interno e Externo. Essa fratura da pasta foi decidida no final de 2016, quando Macri decidiu demitir o “superministro” Alfonso Prat-Gay com a justificativa de que preferia “trabalhar” em equipe. Muitos alegam que a demissão de Prat Gay estava relacionada na verdade a seu ímpeto de ser protagonista das decisões econômicas e muito midiático.

O tema de não haver um “superministro” reaparece a cada vez que a Argentina se vê às voltas com dilemas econômicos. 

Na noite de segunda-feira, Hernan Iglesias Illa, assessor de comunicação de Macri rebateu essas críticas. “Há uma nostalgia da época em que havia um macho alfa que, com uma bofetada, resolvia os problemas, e a verdade é que nunca foi realmente eficiente”, disse Illa.

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