Proposta de chinesa pela EDP em Portugal não prevê oferta pela unidade no Brasil

A EDP Brasil tem ativos de geração e transmissão de energia e controla distribuidoras em SP e ES

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António Mexia, presidente do Conselho de Administração da EDP Energias do Brasil, em Portugal
António Mexia, presidente do Conselho de Administração da EDP Energias do Brasil, em Portugal - Pedro Nunes/Reuters
São Paulo, Lisboa e Paris | Reuters

A proposta da China Three Gorges para a compra da EDP (Energias de Portugal) está condicionada à não obrigação de a chinesa apresentar uma oferta pública pela unidade da portuguesa no Brasil, a EDP Energias do Brasil, segundo comunicado da elétrica à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários), regulador do mercado português.

Na sexta-feira (11), quando circulavam rumores sobre a proposta da chinesa, confirmada ao final do dia, analistas chegaram a dizer que se o negócio fosse fechado poderia obrigar a CTG a realizar uma oferta para a compra até da totalidade da EDP Brasil.

Uma nota do Itaú BBA a clientes apontou que o caso poderia disparar direito de tag-along a acionistas da EDP Brasil —mecanismo de proteção a minoritários que garante a eles o direito de deixarem uma sociedade, em caso de venda do controle—, embora tenha ressaltado que a informação ainda precisava ser checada.

As ações da EDP Brasil fecharam em alta de 15,5% na sexta, embaladas pela notícia sobre o eventual negócio da controladora da companhia com a CTG.

A EDP Brasil possui ativos de geração e transmissão de energia e controla distribuidoras em São Paulo e no Espírito Santo. A CTG também está presente no Brasil, e sua unidade local é uma das maiores geradoras locais.

Uma fusão das operações da CTG Brasil com as da EDP Brasil daria às empresas a liderança no mercado privado de geração no país, com uma distância significativa da atual líder, a francesa Engie.

A EDP Brasil disse em comunicado nesta segunda-feira que sua controladora recebeu oferta da CTG e que "manterá seus acionistas e o mercado em geral devidamente informados sobre eventuais desdobramentos".

Analistas do Morgan Stanley escreveram em relatório nesta segunda-feira que a ação da EDP Brasil deve sofrer alguma correção devido à perspectiva de que não haja uma oferta também pela companhia.

Mas eles apontaram que um negócio com a CTG poderia ter implicações para a EDP Brasil, como mudanças de estratégia, o que poderia "potencialmente destravar valor" para a empresa.

Eles acrescentaram que ainda veem a EDP Brasil negociada abaixo do que seria seu valor justo e colocaram um preço-alvo para os papéis a R$ 17, contra R$ 15,60 do fechamento de sexta.

ESPECULAÇÃO

As ações da portuguesa chegaram a subir até 12% nesta segunda (14), o que indica que o mercado acredita que pode haver uma oferta rival pela empresa ou um lance maior da companhia asiática.

As ações da EDP chegaram a tocar os 3,49 euros, ante 3,26 euros ofertados pela CTG, representando um prêmio de menos de 5 % frente ao fechamento dos papéis na sexta-feira.

O lance avalia o negócio proposto em 9,07 bilhões de euros, ou US$ 10,8 bilhões, excluindo uma fatia de 23% já detida pela CTG na EDP.

Analistas dizem que a oferta da CTG é relativamente baixa comparada a outras propostas feitas por chinesas por ativos europeus de energia, nos quais companhias orientais apostaram alto para vencer a concorrência de empresas europeias e fundos de investimento em infraestrutura.

"O preço da oferta é muito baixo para ser bem-sucedido", disse o banco de investimento estatal português CaixaBI em nota.

"Não podemos descartar uma oferta concorrente", afirmou Paulo Rosa, operador da Go Bulling, em Porto.

A agência Reuters publicou no ano passado que a espanhola Gas Natural Fenosa havia sondado a EDP sobre uma possível fusão, o que foi depois descartado pelas duas companhias.

Embora fundos que são acionistas da EDP, como Capital Research, BlackRock e Mudabala Investment, possam resistir e pedir um preço mais alto, analistas duvidam que a União Europeia tente bloquear o negócio, mesmo que a aquisição de um ativo europeu estratégico levante sobrancelhas na indústria.

"Para Bruxelas intervir precisaria haver dumping ou um abuso de monopólio, e esse simplesmente não é o caso aqui", disse Nicolas Goldberg, da Columbus Consulting.

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