Protesto de caminhoneiros entra no 3º dia com bloqueios em rodovias

Manifestações nesta quarta-feira ocorrem em 23 estados e afetam 253 pontos

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Caminhoneiro fez barricada na Régis Bittencourt, na altura de Embu das Artes (SP), durante protesto na terça-feira (23)
Caminhoneiro fez barricada na Régis Bittencourt, na altura de Embu das Artes (SP), durante protesto na terça-feira (23) - Everaldo Silva/Futura Press/Folhapress
Marcelo Toledo Natália Portinari
São Paulo e Ribeirão Preto (SP)

Caminhoneiros estão bloqueando pistas no país desde a madrugada desta quarta-feira (23), no terceiro dia da greve de caminhoneiros, provocando congestionamentos e lentidão no trânsito.

Há pontos de interdição em 23 estados, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná –este com 37 pontos de manifestação neste momento. Ao todo, são 253 focos de protesto.

A greve é organizada pela Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), que representa motoristas autônomos –a paralisação não envolve veículos fretados.

Em São Paulo, havia manifestações de manhã na avenida Aricanduva (zona leste), Marechal Tito (zona leste) e Washington Luís (zona sul). O trânsito acumulava 88 km às 9h30, acima da média para o horário, segundo a CET.

A paralisação já afeta a entrega dos Correios. Comunicado da estatal informou que a greve tem provocado “forte impacto às operações da empresa em todo o país” e que, por isso, estão suspensas temporariamente as postagens das encomendas com hora marcada. São os casos do Sedex 10, 12 e Hoje.

​“Tendo em vista comprometer a distribuição, também haverá o acréscimo de dias no prazo de entrega dos serviços Sedex e PAC, bem como das correspondências enquanto perdurarem os efeitos desta greve”, diz trecho do comunicado.

Em São Paulo, os motoristas em greve atearam fogo e interditaram três pontos da rodovia Régis Bittencourt, nos km 279, 385 e 477.

A indústria de vidro também está sendo prejudicada, com máquinas em fábricas parando de produzir, segundo Lucien Belmonte, superintendente  da Abividro, associação que representa o setor.

"É fundamental para nós ter a continuidade da matéria-prima", diz Belmonte. A entidade vai entrar com um processo contra os caminhoneiros na tarde desta quarta-feira (23).

Os dois sentidos do km 279 da rodovia, em Embu das Artes, foram interditados. Já em Miracatu, no km 385, o trânsito está lento devido ao bloqueio parcial de duas faixas.

O km 477 da rodovia, em Jacupiranga, apresenta o pior cenário no momento, com ao menos cinco quilômetros de congestionamento devido à interdição da pista.“Minha preocupação é que não sei mais o que falar o que falar com o meu pessoal. Ninguém de nós foi procurado pelo governo”, disse José da Fonseca Lopes, presidente da Abcam.

A rodovia Dutra também registrou bloqueio em Guarulhos no início da manhã desta quarta.Na rodovia Fernão Dias, os motoristas enfrentavam ao menos 15 bloqueios em cidades de São Paulo e Minas Gerais. A PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Minas registrava outros bloqueios em trechos das rodovias BR-40, BR-50, BR-116, BR-153, BR-251, BR-262, BR-365 e BR-381. 

No Paraná, há 36 pontos de protesto dos caminhoneiros autônomos nesta quarta, dos quais quatro com interdição parcial das pistas, em Paranaguá, Mandaguaçu, Marialva e Mandaguari, de acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal).Nos outros pontos, os caminhoneiros estacionaram os caminhões no acostamento das rodovias, em cidades como Ponta Grossa, Guarapuava e Foz do Iguaçu.

No Espírito Santo, o trânsito está interrompido nos quilômetros 304, 376 e 414 da BR-101; no km 262 da BR-262; km 46 e km 50,7 da BR-259.

Reivindicações

Os caminhoneiros pedem mudanças na política de reajuste dos combustíveis da Petrobras (medida que o governo refuta) e redução da carga tributária para o diesel (que está em negociação). 

A nova política de reajustes, adotada pela Petrobras em julho do ano passado, é bem-vista por investidores por acompanhar o padrão adotado em outros países. Alterá-la agora seria interpretado como intervenção do governo na estatal. 

Com essa nova política, os valores dos combustíveis sofrem alterações diárias que acompanham a cotação internacional do petróleo e a variação do câmbio. 

Como o dólar e o preço do óleo tiveram repiques, o valor do diesel saltou. Em um mês, o litro do diesel na bomba subiu 4,9%, de R$ 3,42 para R$ 3,59, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo).

À ESPERA DE ACORDO

Na tentativa de encerrar a greve dos caminhoneiros, que já atinge 24 estados, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, anunciou, nesta terça-feira (22), que o governo vai zerar a cobrança da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre o diesel. Impôs, no entanto, uma condição: que o Congresso aprove a reoneração da folha de pagamento.

“Hoje fechamos um acordo com os presidentes da Câmara e do Senado”, disse Guardia. “Uma vez aprovada a reoneração, sairemos com o decreto zerando a Cide.”

O governo está cauteloso porque zerar a Cide amplia a perda de arrecadação em um momento de aperto fiscal. A estimativa é de uma perda de R$ 2,5 bilhões com a Cidemas, mas de um ganho de R$ 3 bilhões com a reoneração.

A reação do Congresso, porém, se mostra inconclusiva. Logo após o anúncio, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que pretende colocar o projeto em votação na próxima semana.

Porém, ao fim da noite, Maia deu uma nova declaração: que incluiria a redução da PIS/Cofins do diesel no projeto de reoneração da folha —o que ampliaria a perda fiscal.

Por sua vez, o relator da proposta de reoneração, deputado Orlando Silva (PC do B-SP), disse que não quer limitar a queda do tributo ao diesel. “Vou tentar ver se fica de pé uma abordagem que inclua o gás de cozinha e gasolina”, disse Silva. As conversas prosseguem nesta quarta (23).

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