Saiba tudo que aconteceu nesta sexta sobre os protestos dos caminhoneiros

Presidente autoriza uso das Forças armadas para garantir lei e ordem; manifestantes permanecem nas estradas

Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Ribeirão Preto (SP)

Diante da continuidade dos protestos dos caminhoneiros nesta sexta-feira (25), o poder público agiu em diferentes frentes para tentar desmobilizar a manifestação por meio de ações policiais e judiciais. Os manifestantes, no entanto, permaneceram nos acostamentos em mais de 500 pontos em rodovias em 25 estados e no DF.

O presidente Michel Temer anunciou um plano de segurança que autorizou o emprego das Forças Armadas para liberar as estradas federais.

 

"Comunico que acionei as forças federais de segurança para desbloquear as estradas. E solicitei aos senhores governadores que façam o mesmo", disse o presidente.

"O governo terá coragem de exercer sua autoridade em defesa do povo brasileiro."

Segundo Temer, uma minoria radical está impedindo "que muitos caminhoneiros levem adiante seu desejo de atender a população e fazer seu trabalho".

Presidente da República, Michel Temer, durante declaração à imprensa sobre as manifestações dos caminhoneiros - Cesar Itiberê/PR/Folhapress

O governo, que avalia a suposta participação de empresários no movimento, ainda editou decreto que estabelece a aplicação da GLO (Garantia da Lei e da Ordem) em todo o país, ameaçou decretar o confisco temporário de caminhões e disse ter lista de 20 dirigentes de empresas para serem investigados.

Em outra frente, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou o uso da força para desbloquear rodovias. A decisão foi tomada em caráter cautelar (preventivo), a pedido da Presidência da República. A GLO, que permite o uso das Forças Armadas para desbloquear rodovias, entrou em vigor nesta sexta e vale até 4 de junho.

Com a medida, ministros anunciaram ainda no início da noite desta sexta a liberação do acesso à Reduc (Refinaria Duque de Caxias), no Rio, e ao porto de Santos (SP).

Disseram ainda que o número de obstruções em rodovias já havia sido reduzido em 45%. Restavam 519 bloqueios até a noite desta sexta, mas nenhum deles representava obstrução total de estradas.

Tratando a greve como "guerra", o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) disse que o movimento está diminuindo, apesar da circulação de informações que dizem o contrário. "A primeira vítima da guerra é a verdade."

Cinco ministros sentados com o logo do governo estampado na parede ao fundo
Ministros da Segurança Pública, Raul Jungmann, da Secretaria de Governo, Carlos Marun, da Casa Civil, Eliseu Padilha, da Defesa, Joaquim Silva e Luna, e do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, durante entrevista coletiva nesta sexta-feira (25) - Wilson Dias/Agência Brasil

Segundo reportagem da BBC, que tinha uma equipe na Reduc, a ação descrita pelo governo não surtiu efeito. Os caminhoneiros permaneciam no local. O protesto no local não obstruiu a estrada, mas impediu a entrada de caminhões-tanques.

A polícia do Exército esteve no local, com carros e motocicletas para escoltar um caminhão-tanque para assegurar o abastecimento do Exército, descreveu a BBC.

Os manifestantes permaneceram nos acostamentos das estradas, em sua maioria, sem impedir o trânsito, seguindo recomendações das entidades de transportes.

No início da tarde, o presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), José da Fonseca Lopes, afirmou que o acordo firmado por outras entidades para pôr fim à mobilização e o uso da força não conseguiriam acabar com a paralisação e que "pode correr sangue", a depender do emprego de força.

Mais tarde, a entidade contemporizou. Divulgou nota para pedir que os caminhoneiros deixassem livres as vias. "Preocupada com a segurança dos caminhoneiros, [a Abcam] vem publicamente pedir que retirem as interdições nas rodovias, mas mantendo as manifestações de forma pacífica, sem obstrução."

Em vídeo, o presidente da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), Diumar Bueno, criticou Temer e disse que as lideranças que participaram de reunião em Brasília não se comprometeram a pôr fim às paralisações.

A entidade divulgou que foram registrados 550 pontos de protestos. Às 18h, 25 estados e o Distrito Federal tinham algum tipo de ato --a maioria absoluta sem interdições.

Os manifestantes acampados nas estradas também demonstravam insatisfação com a proposta do governo e uso da força policial.

Mesmo com a informação circulando pelo WhatsApp de que o governo autorizou o uso do Exército, os caminhoneiros reunidos próximos à entrada de um posto de gasolina na Régis Bittencourt, em Embu das Artes (SP), prometiam não deixar a paralisação.

Bloqueio de caminhoneiros na altura do km 280, da Régis Bittencourt - Marlene Bergamo/FolhaPress

"Vamos ficar até resolver. Não tem data. A gente veio na quarta para ficar até quinta e ficamos também na sexta. Se for preciso ficar no fim de semana, na semana que vem, vamos ficar", disse o autônomo William Batista, 32, que levou seu caminhão para o local às 7h de quarta-feira (23).

O cenário era o mesmo ao longo da BR-381, nos 590 quilômetros que ligam Belo Horizonte a São Paulo.

"Tem que estar escrito no diário oficial", disse o caminhoneiro Lucas Idalécio Lemos da Silva, 32, sobre a redução de impostos anunciada pelo governo.

"Eu queria estar em casa, mas este é o ponto crucial da manifestação. Se desmobilizar agora, não vai dar em nada", disse Silva, durante o protesto em Betim (MG). Ele é do Rio Grande do Sul.

 

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